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Cláudio Silva explica o “outro lado” da polêmica dos transcons

Imagem Cláudio Silva explica o “outro lado” da polêmica dos transcons
O ex-titular da Superintendência de Controle e Ordenamento do Uso do Solo (Sucom) de Salvador, Cláudio Silva, falou com exclusividade ao Bocão News e explicou qual o seu ponto de vista em relação à mais recente polêmica que envolve as transcons na capital.  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 19/04/2013, às 00h00   Lucas Esteves (Twitter: lucasesteves)




O ex-titular da Superintendência de Controle e Ordenamento do Uso do Solo (Sucom) de Salvador, Cláudio Silva, falou com exclusividade ao Bocão News e explicou qual o seu ponto de vista em relação á mais recente polêmica que envolve as transcons na capital. Ele aproveitou também para fazer um breve histórico do seu trabalho à frente do órgão e lembra que, nos quatro anos em que esteve à frente da Sucom, promoveu uma “revolução” na autarquia.
Cláudio Silva esclarece que não vê nenhuma irregularidade no cadastro atual de transcons e que a auditoria feita pela prefeitura de ACM Neto não encontrará nenhuma irregularidade em seu trabalho. Para provar isto de uma vez por todas, afirma estar disponível para encontros como a atual gestor, Sílvio Pinheiro, e que deseja abrir os arquivos e revelar quem realmente tem posse do benefício da cidade e encerrar por completo a polêmica.

(Fotos: Roberto Viana // Bocão News)
Bocão News – Como você chegou à Sucom e que situação encontrou lá dentro?
Cláudio Silva: Eu cheguei à Sucom em março de 2008. Eu estava ocupando a função de secretário de Educação do Município. Eu era subsecretário, houve uma ruptura do partido do então com o então prefeito, que era PMDB, e eu assumi a função interinamente. Neste período, a gente conseguiu fazer umas coisas bem interessantes. Eu comecei a minha vida pública na área de Educação e houve uma efervescência naquele momento. Então o prefeito decidiu fazer uma recomposição partidária em função da configuração eleitoral. O ministro Geddel Vieira Lima, uma pessoa com uma visão política bem aguçada, atraiu o PDT para a base de João Henrique e com isso eu me afastei da secretaria. E lá (na Sucom)encontramos uma situação bem delicada porque a então superintendente em exercício – que também era secretária de Planejamento -, Kátia Carmelo, tinha comandado a demolição de um terreiro no Imbuí.  E com aquela demolição, gerou uma situação de comoção social por conta de uma situação possível de intolerância religiosa. Então o prefeito me chamou e disse que eu era um quadro que vinha ajudando e queria que eu desse uma arrumada na Sucom. Eu disse: “olha, prefeito, eu não sou arquiteto, não sou engenheiro. Eu sou administrador e também tenho experiência em tecnologia, mas vou tentar fazer o melhor como gestor público”. E fomos para a Sucom e lá encontramos, como a maioria dos órgãos públicos, o conceito de que ele não trabalha a questão do resultado como uma empresa privada trabalha. A empresa privada trabalha o resultado sob pena de morte. Ela não sobrevive se não tiver resultado. Já o órgão púbico acha que está ali, presta assistência para o cidadão caso haja erros comprovados, o gestor vai, exonera e dá uma satisfação. As instituições públicas não conseguem de forma muito objetiva um resultado para a sua população. Ela tinha uma estrutura muito importante para a cidade, mas mergulhado em uma burocracia, modelo de atendimento ensimesmado onde o funcionamento do órgão era para dentro de si mesmo. E encontrando esta situação, nós tivemos que implementar algumas mudanças.
BNews - Que mudanças?
CS: Foram mais ou menos quatro anos e nove meses de uma agenda super positiva. Nós tiramos o órgão de uma situação de déficit e passamos a trabalhar na dimensão de prêmios. A Sucom foi premiada quatro vezes na minha gestão. A modernidade que chegou à Sucom não foi só na questão física. Saímos de um prédio que não tinha um elevador que funcionasse, quando chovia, alagava. O atendimento à população era muito difícil. Saímos de lá para uma estrutura para atender com qualidade e dentro desta estrutura nós mudamos o jogo. Criamos alguns projetos importantes, como o “Sucom nos Bairros”. Um projeto que teve mais de 50 edições. O órgão saiu daquela clausura para ir atender a população. A gente costuma ouvir que o governo só bate na porta do cidadão para cobrar imposto, ele não leva  o serviço diretamente até a porta. E nós fizemos isso também. A Sucom, no meu modo de ver, teve uma transformação nesse período muito grande. Quando chegamos lá, encontramos um modelo de gestão onde a política de qualidade era controlar o uso do solo. Então, quando você pressupõe que o modelo é o controle, você tem um elemento que barra a possibilidade do crescimento. E nós mudamos fundamentalmente a forma de pensar o funcionamento do órgão e mudamos a política do órgão. Ela passou a ser controlar para apoiar. Apoiar o desenvolvimento social, econômico e urbanístico da cidade, colocando o urbanístico em último plano. Desenvolver as pessoas, ver a cidade através das ferramentas do uso da ocupação do solo. Então, quando se mudou esta lógica, foi possível dar uma nova dinâmica que deveria se refletir no trabalho interno. Quando chegamos lá, encontramos cerca de 7,8 mil Termos de Viabilidade de Localização (TVL) que não estavam resolvidos. Esse é o documento que o cidadão precisa para abrir uma empresa. E nós zeramos essa fila. Os TVLs que levavam em média 180 dias nós passamos a emitir em 24h, 48h. O tempo médio máximo era de 4 dias. Fizemos integração bancária, passamos a prestar serviços pela internet, fóruns com empresariado, fazer produtos sob medida de maneira que existia uma estrutura lá dentro para atender o público lá fora. Antigamente, o cidadão para fazer uma festa fazia uma peregrinação em vários órgãos. Nós criamos uma unidade central e ela passou a autorizar. Ela entrava em contato com cada órgão e trazia para si a responsabilidade de emissão do alvará. Criamos uma gerência para cuidar das obras públicas, porque atualmente as maiores obras que nós temos na cidade são públicas e nada pode ser construído na cidade se não tiver autorização da Sucom. Por isso a importância dela. Sem contar o combate à poluição sonora, que foi também uma mudança radical que nós fizemos. Tudo isso deu uma mudança na imagem do órgão muito grande. Foi uma revolução muito grande na Sucom.
BNews - Você falou da questão de que nada na cidade pode ser construído sem que a Sucom permita, o que acabou lhe cedendo, indiretamente, um poder muito grande. Na época da prefeitura de Joao Henrique, você era tido como o secretário mais poderoso da gestão, exatamente por esta atribuição e porque o órgão administrava uma grande verba. Como avalia essa consideração sobre si?
CS: Eu diria que existem algumas fantasias que a gente desenvolve e elas vão sendo propaladas e não são bem verdadeiras. Se tem a ideia de que a Sucom administrava um volume de recursos significativo. O orçamento dela no último ano foi de R$ 53 milhões. Um orçamento pequeno para o que tem que administrar dentro do órgão. Orçamentos da Educação e da Saúde passavam de R$ 500 milhões. Então não é verdade que fosse uma pasta com uma pujança no ponto de vista de orçamento. Entretanto, ela tem sim o poder, porque nenhuma festa pode acontecer, nenhum bloco de Carnaval pode sair se a Sucom não autorizar. Então você acaba sendo apontado como alguém que tem um poder, até por ser uma autarquia, com autonomia administrativa e financeira. Então você é aquele que tem o poder de engessar ou acelerar o desenvolvimento. O superintendente da Sucom realmente tem um poder dentro da estrutura política e administrativa em Salvador porque ele pode com uma canetada autorizar a ocorrência de um evento. Mas o mais importante é a gente entender que estas autorizações são vinculadas. Ele não tem o poder de determinar de que forma permite ou não. O que ele pode dizer é orientar dentro da lei. Eu acho que, de fato, meu nome acabou sendo ventilado ao ado de outros nomes. Tivemos grandes secretários, inclusive pessoas que se projetaram na administração de João Henrique e que se tornaram também detratores da gestão. Mas foi um momento importante para a cidade, onde muitos contribuíram e eu estava lá no meio. Então quando você administra um órgão importante como a Sucom, você aparece, não adianta. Quando você tem uma equipe qualificada, que não acredita no fracasso, respira sucesso, isso é natural. Mas é lógico que a responsabilidade também é muito grande. Aquele que senta naquela cadeira é bombardeado o tempo todo. Ele é muitas vezes até injustiçado. Por isso eu desejo uma sorte muito grande ao Sílvio Pinheiro. Sei que competência ele tem, qualidade para trabalhar ele tem. É um advogado renomado, tem a confiança do prefeito. E ele juntando estes dois elementos, ele tem tudo para fazer um grande trabalho e inclusive melhor do que nós fizemos.
BNews - A questão das transcons é a mais polêmica de toda a sua gestão do órgão, mas muita gente que acompanha o assunto não faz ideia do que significa “transcon”. Para início do processo de explicação de toda a história, poderia explicar ao público leigo o que é o transcon? 
CS: O transcon é um elemento muito antigo na questão urbanística de Salvador. Ele é usado há mais de 20 anos. Foi uma decisão da cidade para poder indenizar pessoas que teriam de ceder as suas terras para o desenvolvimento urbano. É uma forma de pagar desapropriações. Você tem um determinado terreno que vai servir ou para uma proposta de desenvolvimento urbano da cidade, uma via, uma praça, ou também indenizar pessoas eu viram seu patrimônio dilapidado por ausência da ação do poder público. Por exemplo, você tem um terreno, alguém invade o seu terreno, e outro, e outro, e aquilo se torna irreversível. Dentro das políticas públicas ligadas à área social, é possível ter de fazer a regularização fundiária. Então a prefeitura indeniza o dono do terreno original com o transcon. Teria outra forma de indenizar pagando o dinheiro, mas aí a prefeitura teria de usar recursos que poderia usar com uma outra coisa. Diante disso, a prefeitura usou desse instrumento e a utilização dele ao longo do tempo foi, de alguma forma, não tão percebida. 
BNews - Quando foi que Salvador começou a usar o transcon e quando ele começou a ser tão comum a ponto de qualquer pessoa na cidade debater sobre ele?
CS: A partir de 2007. Dois mil e seis a 2009... 2010 um pouco. Nós vivemos um momento muito importante da economia local no campo imobiliário. Houve o ‘boom’ da construção civil na cidade, com grandes empreendimentos, diversos prédios, emrpeendimentos comerciais como shopping centers. Salvador se expandiu e esse ‘boom’ foi um importante momento da administração municipal. Nesse momento, se construiu mais e se utilizou muito o transcon, e ele se transformou em um instrumento mais popular. As pessoas passaram a utilizar mais e houve, de alguma maneira, uma atenção mais voltada para este dispositivo a partir de – todos conhecem – o escândalo trazido por uma ex-secretária (Kátia Carmelo) em relação a um possível rombo de R$ 500 milhões na prefeitura. Isso é inimaginável. Basta a gente fazer uma conta simples  para ver que isto realmente é absurdo. Nós temos alguma coisa em termos de 50 km de orla aproveitável em Salvador. Um prédio na orla, se ele utilizar alguma coisa em torno de 2 mil metros de outorga onerosa, nós estaremos falando aí de uma coisa em torno de 1300 prédios lado a lado na parte da orla da cidade para poder chegar a esse numero de R$ 500 milhões. Dois milhões e duzentos mil metros de outorga. Isso fez com que de fato a população tentasse entender (o que significa o transcon). Ele é um título emitido pela prefeitura, não é emitido pela Sucom. É emitido pela Secretaria da Fazendo após a autorização do prefeito provocado por uma ação de um estudo urbanístico feito pela Secretaria de Planejamento. Então, eles autorizam o surgimento desse título e ele pode ser utilizado à medida que alguém vá aumentar o potencial de uma obra.
BNews - Este ponto é um tanto nebuloso por ficar mais específico. O transcon versa exatamente sobre a possibilidade de ampliar terrenos ou construir andares de prédios?
CS: A gente imagina que é só para cima, mas também tem a ver com área para os lados também. Normalmente as pessoas pensam em andares para aproveitar melhor o potencial. Uma conta simples é a seguinte: imaginemos que eu tenha um terreno de 1 mil metros quadrados e só possa construir uma relação de um metro para cada metro que eu tenha naquele terreno. Eu poderia construir mil metros quadrados. Então, a política urbanística em vigor na cidade permite que você, naquela área, caso possa acrescer 20%, 30%, 50% ou até 100% do potencial original do seu terreno, você utilize ou a outorga onerosa (pagamento direto ao município para autorização) ou o transcon para fazer esse prédio subir um pouco mais. Esse poder de permitir o aparecimento de estruturas maiores é uma coisa interessante. As pessoas precisam entender isso, porque muitas vezes acham que é um absurdo porque o empresário ganha dinheiro construindo com transcon, mas esqueceram que, lá atrás, ele cedeu o seu terreno para uma política pública de assentamento ou abertura de vias ou áreas de lazer. É como se ele tivesse que perder aquele terreno e não pudesse mais se movimentar ou tivesse ganho aquilo como se fosse um presente. Não foi um presente. Por que não é um absurdo? Imaginemos o seguinte: se você verticaliza, em algumas áreas da cidade tem a caixa da rua que permite, já tem uma estrutura instalada, esses prédios sobem onde você consegue chegar com mais gente, mais carros, mais infraestrutura. Ou seja, desenvolve economicamente a cidade. Imagine que não fizesse isso e tivesse de ir para outras áreas, que são áreas que não têm essa estrutura. A prefeitura não teria condições de fazer vias, colocar iluminação pública, levar saneamento. Então a gente estrangularia o crescimento da cidade.
BNews - Então de onde vem a polêmica atual em relação aos transcons?
CS: As pessoas pensam que auditoria é novidade. O Tribunal de Contas fez um estudo mais aprofundado na Sucom na época da nossa administração. Ele verificou que não existe absolutamente nenhum descontrole no que diz respeito ao período em que foi auditado. Reconheceu no próprio parecer da auditoria que nós aumentamos os controles em relação aos transcons. Nós também fizemos uma auditoria. E o produto desta auditoria foi entregue ao novo gestor. Neste momento que nós encontramos o transcon, nós vimos que simplesmente era um título que vinha no alvará escrito ‘usou transcon’. Não dizia onde foi, quanto foi, de onde veio. E eu determinei que os alvarás passassem a constar isso daí. É um controle efetivo. Hoje você pega um alvará da Sucom e está lá o transcon com entidade ‘X’, oriundo da área tal e o número do processo de autorização, que aliás não é dado pela Sucom, é dado pela Secretaria de Planejamento. A Sucom só faz o controle do banco de dados no que diz respeito ao que foi gasto e não permite que estes valores sejam gastos mais uma vez. Nós fizemos muito e tudo o que fizemos culminou com esse parecer do Tribunal de Contas, que recomenda esse censo feito agora pela nova administração. É uma orientação do TCM, que diz que deve ser feito um censo e promovidos estudos para chegarmos aos valores reais, expressos e se implantar um sistema informatizado, sistema esse que deixamos pronto para ser utilizado assim que for concluída esta etapa que o TCM recomendou.
BNews - Então o que leva a atual gestão a classificar que houve irregularidades e descontrole no uso de transcons em Salvador? Se todas as informações sobre transcons dos últimos anos estão à disposição do novo superintendente em um banco de dados supostamente organizado, o que pode estar errado?
CS: Eu acho que nós temos dois momentos aí. O primeiro foi logo depois da eleição. O prefeito, numa entrevista em uma rádio local, ele dá uma declaração de que iria fazer uma devassa na Sucom, obviamente pelas declarações das pessoas, que falaram de números. Acho que ele reagiu até de uma forma correta. E naquele momento alguns aproveitadores começaram a tratar de alguns números – R$ 300 mi, R$ 500 mi – e aí gerou a necessidade de se dar uma satisfação até praquilo que já foi falado, discutido e jogado no vento por pessoas irresponsáveis que não conheciam a verdade sobre o tema. Nesse momento, acho que o prefeito acertou ao colocar um decreto e uma investigação, fazer aquilo que o tribunal determinou. Mas isso não dá o direito a fazer levantamento sobre cifras que ainda não estão comprovadas. Porque, o que posso assegurar a transcon a respeito da etapa da Sucom é que nós temos, eu tenho, todos os alvarás que foram emitidos na minha gestão. Eu emiti quase 900 alvarás, dos quais 290 utilizaram o instrumento de aumento do potencial construtivo. Estão no banco de dados dizendo lá onde foi utilizado e a quantidade que foi utilizada. É claro que você poderia ter controles mais efetivos em relação a isso, só que nós nos deparamos com uma situação. No momento que nós estávamos fazendo a auditoria, nós solicitamos da Secretaria da Fazenda os números originais da Transcon, começamos a reimprimir todas as certidões que existiam de Transcon para se conhecer os donos e começamos a fazer as cobranças que dos estavam de alguma maneira soltos. Nós fizemos sem alarde. Encontramos diversas situações que poderiam ter sido ajustadas antes até da nossa gestão. Inclusive me surpreende porque parece que no grupo de trabalho para investigar os transcons existem duas pessoas que participaram da gestão anterior. Foram elas que criaram o modelo de controle que nós encontramos, um modelo de 2002 feito apenas de uma planilha em Excel para controlar um processo tão importante quanto o transcon. Então não só fizemos uma transição entre essa planilha Excel e a estrutura do sistema e, ali dentro, você tem todas as informações. A equipe disse que fez um trabalho de investigação em 60 dias e era inclusive bom divulgar este resultado, senão você não dá direito ao contraditório. “Encontramos erros em 60 dias”. Que erros? Quem são essas pessoas, o nome e o número do empreendimento? No processo você tem tudo, então não existe isso.
BNews - E como você pretende defender esse posicionamento já que afirma categoricamente que não há nenhuma irregularidade com os transcons?
CS: Eu tenho me colocado publicamente à disposição para qualquer tipo de esclarecimento. Não estou desafiando ninguém. O que existe é uma proposta para que numa exposição pública, conjuntamente, a gente possa dar uma satisfação à sociedade. Porque ninguém gosta de ser atingido em sua honra de uma forma vil e ficar parado quando está com a verdade do seu lado. Um assunto como esse vende jornal, então fica se dizendo que somente um processo recuperou R$ 400 mil. Que processo é esse? Eu acredito que, muito provavelmente, pode ter sido um dos processos de transcon da orla, mas essa recuperação está sendo feita desde a gestão de João Henrique à medida que empresas vão pedindo o habite-se. Assim, vai se substituindo o transcon por habite-se. Você não toma e joga fora. Você devolve o transcon ao dono e exige que ele pague a outorga onerosa para liberar o habite-se do prédio. É preciso conhecer porque assim se pode contraditar. Tudo pelo bem do desenvolvimento da cidade. Muitas vezes as palavras são colocadas como se as pessoas tivessem dito uma coisa, mas na verdade foi uma questão de interpretação. Então alguém pega uma matéria daquela no jornal (refere-se a uma entrevista com Sílvio Pinheiro no A Tarde no início de abril), lê e interpreta como se tivesse sido dito que a prefeitura levou um prejuízo de R$ 300 milhões. E eu não sei se o superintendente falou em um prejuízo de R$ 300 milhões. Você precisa contestar isso. Acho importante o prefeito ter contratado a auditoria, mas não é para auditar o meu período, porque ele já foi auditado pelo TCM. É para auditar para trás. Eventualmente você vai encontrar algumas falhas, alguns erros, e vai corrigir isso e o prefeito ACM Neto terá deixado um legado importante, de apuração e certificação deste dispositivo para a cidade.
BNews - A prefeitura publicou um edital de recadastramento e você diz que tem reservas quanto à forma como ele foi publicado e as responsabilidades que supõe. Quais os erros do edital de recadastramento de transcon da atual Sucom, na sua opinião?
CS: Eu fui analisar um pouco o edital e ele é interessante porque convida as pessoas a dar ciência, mas ao mesmo tempo é um pouco frágil. Porque ele diz que quem não comparecer para recadastrar vai perder o título. Não é assim. O cidadão é dono de uma propriedade, mora no exterior, não está sabendo e perdeu a propriedade porque não se recadastrou? Vai-se iniciar um processo de discussão da veracidade do titulo para depois ver se, de fato, vai-se tomar ou não alguma providência de cancelamento. Segundo: no edital solicita que cada detentor de transcon que esteja no banco de dados apresente a escritura pública do terreno que gerou o transcon. Não é assim que funciona. O transcon, quando foi gerado originalmente, a escritura era do dono do terreno. A partir do momento que ele virou um título ele circulou, sendo trocado, virou uma moeda, foi circulando como direito. Eu faço um contrato com você, vou na prefeitura e faço a transferência da propriedade do transcon. Não existe mais uma relação direta entre propriedade e título, porque o título não é mais um terreno. Imagine a antiga Fazenda Santa Cruz, que gerou o bairro de Santa Cruz, a primeira área talvez a gerar transcon, a maior. Ela gerou um transcon, que foi vendido para um empresário, que usou num prédio seu, ou então pegou o transcon e vendeu para um terceiro, que usou num prédio seu ou vendeu para um quarto. Aí eu lhe digo que este quarto não tem a escritura, não tem nenhuma relação com o primeiro dono. Agora vamos imaginar que ele apresente a escritura pública do terreno que gerou o transcon. Se uma determinada área gerou mil partes de transcon eu vou ter mil escrituras? É burocratizar demais, porque é um terreno único. Porque você não subdivide o transcon em lotes. Ele é da área global. E o que vai acontecer? Vamos criar uma indústria de todo mundo correr aqui no primeiro dono de escritura, com todo mundo pagando para ter o documento? Depois, também pede o georeferenciamento do terreno que gerou o transcon. Piorou. O primeiro de todos tem mais de 20 anos. Vai mandar fazer o georeferenciamento? Quem paga? Ou cada um individualmente vai pagar um daquela área? O maior de todos é que algumas construtoras compraram transcon para fazer um aumento de potencial de construção fizeram uma espécie de “conta de padeiro”. A empresa precisava de 522 metros,35 e comprou 523 metros. Esses 0,65 metros estão lá no banco de dados. Acha que a empresa vai perder isso, não tem direito mais? Eles não sabem, muitas vezes. O melhor, então, seria publicar no Diário Oficial as informações que constam no cadastro. Publica todo o banco de dados do transcon e chama o dono para provar que é dele. Publica na internet também. É uma informação que está dentro de uma estrutura púbica e é uma informação, portanto, oficial. Isso pode, ao meu ver, gerar algum tipo de batalha jurídica. Eu nunca ouvi falar de um banco publicar um recadastramento para provar que aquele dinheiro lá é seu. Eu parabenizo a ação do prefeito, mas digo que tem que ser feito da melhor maneira. Porque inevitavelmente a auditoria vai encontrar problemas. À medida em que ela for avançando em gestões anteriores, ela vai encontrar lacunas nos processos, algumas inconsistências.
BNews - Lacunas intencionais? Processos “desaparecidos” de propósito?
CS: Não, acho até que por descuido. Quando encontrei a gestão da Sucom, era uma casa aqui no Costa Azul onde se armazenava processos no banheiro, nas salas, na garagem. Às vezes chovia, infiltrava, o rato comia. Então nós transferimos os arquivos para uma empresa que também guarda o TCM, o Jornal A Tarde. Aí você passa a ter um controle maior, mas não sabe o que vai encontrar antes de 2008. Nós temos notícias que uma certa época houve um furto de processos porque um carro que estava com processos dentro foi roubado. Portanto, roubaram os processos. Se reconstituir, você não vai achar. Se for ver para todos os prédios que foram construídos os processos, quantas construtoras não existem mais? Quantos donos sumiram, se mudaram, morreram? Então é realmente uma matéria muito difícil, mas tem que se parabenizar o prefeito pela coragem em contratar. Porque quando se contrata, você tem uma expectativa de atingir um resultado. Não vejo isso como uma retaliação nem do prefeito em do secretário. Mas lamentavelmente as primeiras declarações não foram das mais felizes. 
BNews - Sua disponibilidade em explicar tudo o que aconteceu mostrando documentos para defender sua gestão da Sucom significa que você de alguma forma se sente injustiçado?
CS: Não. Eu me sinto, na verdade, atacado não diretamente, porque as matérias não citam meu nome, mas lamentavelmente quando se fala de transcons, as matérias e jornais que estão por aí lembram logo do meu nome. Então eu tenho que, obviamente, esclarecer as coisas. Acho que quando você fala de um prejuízo de R$ 300 milhões por causa do descontrole com o transcon, eu acho que é um absurdo. Até porque, nos 4 anos que estive lá, não se negociou R$ 300 milhões. Então como você dá um prejuízo de algo que não foi negociado? Então é complicado. A não ser que esteja se falando de uma outra etapa do transcon que não aconteceu na Sucom. Então era preciso se falar que se falava de outro lugar. Mas tentar criar uma grande bolha e colocar tudo dentro é perigoso. Então acho que a questão é muito mais de você ter de se defender, defender sua honra. Você que tem família, amigos, pessoas que trabalharam com você e ajudaram no seu trabalho, você tem que se defender. Eu fiz uma consulta a uma promotora de Justiça para saber se a divulgação dos detalhes, com os nomes dos donos de transcons, constitui alguma espécie de quebra de sigilo. Se não, o farei com todo o prazer, até porque com a divulgação acaba logo com tudo isso.

Classificação Indicativa: Livre

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