Cultura

Governo da Bahia reconhece mestres de capoeira como Mestres do Artesanato

Yago Matheus/Setre
Decisão atende reivindicação do Capoeira em Movimento Bahia (CMB)  |   Bnews - Divulgação Yago Matheus/Setre

Publicado em 28/05/2021, às 19h29   Redação BNews


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A Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre), através da Coordenação de Fomento ao Artesanato, entregou, nesta sexta-feira (28), a Carteira Nacional de Mestre Artesão aos mestres de capoeira Olavo da Bahia e Lua Rasta, no Centro de Comercialização do Artesanato da Bahia, em Salvador. A medida tem como objetivo promover a valorização dos mestres artesãos da capoeira e é fruto da campanha “Mestre do Artesão” em parceria com o coletivo Capoeira em Movimento Bahia (CMB) e a Salvaguarda da Capoeira da Bahia,

De acordo com Jacaré DiAlabama, coordenador do CMB, o documento representa o reconhecimento da trajetória e excelência do trabalho dos mestres Olavo da Bahia e Lua Rasta como artesãos e a importância do artesanato da capoeira para a cultura nacional. “Esses dois mestres de capoeira são grandes referências mundiais na produção artesanal de instrumentos musicais que compõem uma roda de capoeira. Reconhecê-los é um processo de reparação importante e abre caminho para o fomento e a valorização do artesanato da capoeira”, explicou.

O secretário estadual do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte, Davidson Magalhães, ao Mestre Olavo da Bahia e a Saraí Fernandes, que representou o pai Mestre Lua Rasta, foi o responsável pela entrega das carteiras. “A certificação de um mestre de capoeira como um mestre artesão cria novas oportunidades de geração de emprego e renda. O nosso objetivo é fortalecer esses empreendedores criativos que, a partir de suas diversas atividades, contribuem para o resgate da nossa cultura”, destacou, Davidson Magalhães: 

A coordenadora de Fomento ao Artesanato, Ângela Guimarães, considerou que o artesanato da capoeira precisa ser incorporado ao conjunto de políticas públicas da pasta. “Já temos um compromisso com o artesanato da capoeira e com CMB. Vamos continuar com as tratativas para viabilizar políticas públicas e ações para o segmento”, declarou.

Mestre Olavo da Bahia é conhecido como um dos melhores “fazerdor e tocador” de berimbau do mundo e segue encantando todos que conhecem sua história de luta e resistência há mais de 56 anos na capoeira. “Eu como um artesão de 79 anos, fabricante de instrumentos, principalmente, do berimbau que é o tempero da capoeira, agradeço a todos vocês por esse momento de felicidade e reconhecimento. A capoeira é coisa muito boa e eu só deixo a capoeira quando eu morrer”, desabafou.

Para Saraí Fernandes, filha de Mestre Lua Rasta, “é importante que essas homenagens e ações de políticas públicas sejam realizadas com nossos mestres vivos. A gente sabe que grandes mestres, que passaram a vida toda dedicada à capoeira e não foram valorizados”, pontuou.

A contramestra Princesa, presidenta da Salvaguarda da Capoeira da Bahia na Região Metropolitana de Salvador (RMS), ressaltou a continuidade da parceria com CMB na luta por políticas públicas efetivas para a capoeira. “Seguimos buscando políticas públicas que, de fato, valorizem prioritariamente nossos mestres antigos, já que são eles que têm mantido essa arte ao longo dos anos”, afirmou.

A Carteira Nacional de Mestre Artesão é gratuita e, entre outros benefícios, garante a participação em feiras de artesanato nacionais e internacionais, oficinas e cursos, acesso a incentivos fiscais e pode ser usada como documento de identidade. De acordo com a Base Conceitual do Artesanato Brasileiro, “Considera-se Mestre, aquele artesão que se notabilizou em seu ofício, legitimado pela comunidade que representa e que difunde para as novas gerações conhecimentos acerca dos processos e técnicas do ofício artesanal”.

Sobre os mestres artesãos 

Mestre Olavo da Bahia conheceu a fabricação de berimbaus com Mestre Waldemar da Paixão, por volta dos anos de 1960. Mestre Waldemar introduziu a corda de aço e a pintura de cabaças, ensinamento que Mestre Olavo tomou para si e aprimorou. O mestre produzia seus próprios berimbaus para apresentações em grandes teatros em Salvador e, após o encerramento, o público o esperava na porta do teatro para comprar o berimbau que ele utilizou na noite. A partir daí, Mestre Olavo precisou aumentar a quantidade de berimbaus produzidos e transformou a arte em seu ofício. 

Apesar da família não ter encarado a sua escolha como um caminho profissional sério, Mestre Olavo é um dos grandes mestres artesãos da atualidade: uma figura com muitas histórias para contar e muito conhecimento para transmitir. 

Mestre Lua Rasta começou fazendo manutenção em atabaques para apresentações de teatro e se dividia entre o Rio, Bahia e São Paulo fazendo apresentações de capoeira. Quando foi para Genebra, com mais ou menos 20 anos, passou a viver da capoeira: fazendo instrumentos, apresentações e dando aulas. Depois, conquistou o mundo, viajou para vários países conhecendo instrumentos e aprendendo a fazê-los. Ao voltar para Salvador, montou uma loja, onde pôde mostrar todo o seu conhecimento como artesão e capoeirista.

Classificação Indicativa: Livre

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