Feriado / 2 de Julho

Um grito de 200 anos: as nuances da história da Independência da Bahia

Reprodução/Mov. Viva Ilha
Historiador passeia pela grandiosidade da conquista do povo baiano  |   Bnews - Divulgação Reprodução/Mov. Viva Ilha

Publicado em 06/06/2023, às 06h00   Cadastrado por Victória Valentina


FacebookTwitterWhatsApp

Somente dez meses após o grito de independência de Dom Pedro I, a Bahia finalmente pôde berrar sua liberdade que, em 2023, completa 200 anos. A data marca a expulsão das tropas portuguesas de nossa terra após uma guerra sangrenta, que durou um ano e cinco meses e envolveu de 10 a 15 mil soldados portugueses e brasileiros, causando mais de duas mil mortes em combate.

Ao BNews, o historiador Itan Cruz fala sobre a importância do 2 de julho, que remete a muitas lutas do povo baiano, que fez parte da grandiosidade desta história.

Ele explica que, na época, a Bahia era uma das principais províncias do país, e relembra que Salvador havia sido a capital da América Portuguesa até o ano de 1763. "A Bahia também era responsável por boa parte da produção açucareira brasileira, elemento de destaque da riqueza nacional", cita.

"Além disso, a opção pela manutenção da escravidão foi o pacto central para que não só a Bahia, mas também as outras capitanias aderissem ao projeto de monarquia constitucional sob a autoridade de D. Pedro e aceitassem conservar-se unidas em torno da Corte no Rio de Janeiro. Portanto, a Independência do Brasil na Bahia é uma parte de um pacto maior, envolvendo outras capitanias do país que se engajaram numa sociedade escravista, excludente, criminalizadora e extremamente hierarquizada", continua.

O historiador contextualiza o período, que foi marcado por conflitos com os interesses lusitanos, que conduziram parte significativa da elite política e econômica do Brasil, encabeçada por D. Pedro, à proclamação da Independência em 7 de setembro de 1822. 

“É preciso se ter em conta que muitos nascidos aqui guerrearam em favor dos portugueses e muitos portugueses tiveram embates em defesa do Brasil. Aquele momento, cheio de incertezas, possibilitou que diferentes setores sociais pudessem almejar projetos de país diferentes e até divergentes”, argumenta.

Itan Cruz relata que muitos escravizados, indígenas e pessoas mais humildes do povo viram seus sonhos serem frustrados com a vitória de um projeto de nação que não os contemplava.

"A celebração ao 2 de julho é a celebração dos sonhos e da luta por dias melhores para todos", afirma.

Os principais eventos que ficaram na memória popular, como a batalha de Pirajá, que ocorreu na região dos atuais bairros de Pirajá, Campinas de Pirajá e Alto do Cabrito; conflitos em Cachoeira, no Recôncavo; o ataque português ao convento da Lapa, onde foi morta Joana Angélica, são apenas alguns entre tantos que tiveram relevância para o grito final. “O sucesso das batalhas deve-se a um conjunto enorme de pessoas de diferentes cores, gêneros, idades e pertenças sociais”, reitera.

História oculta

A história da Independência da Bahia está aos ventos há anos. Nas escolas municipais, estaduais e particulares, alunos aprendem sobre as principais figuras e povos que lutaram para conquistar a liberdade das terras da primeira capital do Brasil, como Maria Quitéria, que vestiu-se como homem para combater os portugueses; Maria Felipa, uma mulher de cor que teria agido contra os lusitanos a partir da Ilha de Itaparica; general Pierre Labatut, francês que comandou tropas brasileiras; Joana Angélica, a freira que tentou impedir os portugueses de adentrar o convento da Lapa. 

Porém, uma grande curiosidade ficou escondida por trás dos fatos mais populares. Itan Cruz conta ao BNews que um grupo de famílias baianas obtiveram favores e reconhecimentos de D. Pedro após o monarca ter sido coroado imperador das terras tupiniquins, e por conta do papel importante que elas tiveram ao longo dos conflitos na Bahia. 

"Um exemplo dessas famílias foi os Pinheiro de Vasconcellos. Joaquim José Pinheiro de Vasconcellos foi primeiro secretário da Junta Provisória instaurada em Cachoeira, no Recôncavo, de onde saíram muitas ordens brasileiras no manejo dos conflitos. Depois das batalhas, ele seria presidente da província da Bahia, o equivalente a governador nos dias de hoje, por três vezes. Posteriormente seria nomeado barão e depois visconde de Montserrat,  veador da imperatriz Teresa Cristina, cargo responsável por lidar com os bens da soberana", começou.

Itan é autor do livro "Jogo de Damas - Amanda Paranaguá: memória, baianismo e poder na Corte do Brasil e além (1839-1931)", publicado ano passado pelas editorias da UFBA e UEFS, no qual conta detalhes sobre esses desdobramentos praticamente invisíveis. 

Classificação Indicativa: Livre

FacebookTwitterWhatsApp