Artigo

O valor do silêncio

Publicado em 30/05/2017, às 08h33   Guilherme Reis*


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Em uma crônica escrita no ano de 2004, Lya Luft reflete sobre o quão soa estranho alguém gostar de estar sozinho nessa cultura de barulho e agitação na qual vivemos. Para além do trabalho, nos obrigamos a inúmeros compromissos sociais, muitos dos quais nem sempre nos interessam de fato. A máxima é estar em constante interação e exposição. Nosso Instagram está aí para não nos deixar mentir. E, como quem não quer nada, paira no ar uma pergunta que às vezes nos alfineta e nos faz pensar: quando iremos marcar um encontro com nós mesmos?

Não que o agito e as interações sociais não sejam importantes. Por meio delas aprendemos mais sobre o mundo e as pessoas, canalizamos tensões cotidianas, enriquecemos perspectivas e trabalhamos a empatia. Mas o silêncio também é necessário, nem que seja para metabolizar toda essa carga de informações que absorvemos. E é quando estamos sozinhos que interagimos com o nosso eu.

Estar sozinho, ao contrário do que muito se pensa, não significa abrir caminho para a solidão, que pode acometer até mesmo quem é dono da mais intensa vida social. Ir ao cinema, teatro, show e outros espaços desacompanhados é uma experiência à qual nos arriscamos cada vez menos. Temos medo de nos sentir desinteressantes e pouco requisitados, ou pior, que os outros nos vejam dessa forma. Quantos likes você recebeu na sua última foto de evento social, festa, viagem com amigos? E quantos teve o último registro de momento intimista, em casa lendo um livro ou vendo um filme (se é que você o tem)?

A resposta, pelo menos no meu caso, é óbvia. Como ser introvertido e pouco afeito a multidões, aprendi com o tempo que o silêncio é quase sempre libertador. É quando não preciso me dividir para corresponder às expectativas dos outros à minha volta que consigo olhar com mais objetividade para dentro de mim mesmo e encarar, sem constrangimento, o que lá existe de mais espinhoso e menos agradável. Como disse no início da crônica, precisamos, pelo menos de vez em quando, marcar um encontro com nós mesmos. 

*Guilherme Reis é repórter do BNews e escreve neste espaço às segundas-feiras.

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