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Família tóxica

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Há uma regra tácita: só é permitido sentir coisas positivas entre os familiares  |   Bnews - Divulgação Arquivo pessoal

Publicado em 29/05/2023, às 10h44   José Medrado


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Houve uma certa repercussão a abordagem que fiz em meu programa na rádio Metrópole e reproduzir em uma palestra sobre o mesmo assunto – falei sobre famílias tóxicas. É curioso como temos estruturado em nosso psiquismo a ideia tabu de que família é divino, é espiritual e a melhor coisa do mundo. Sem entrar nas considerações de mérito do que seja família, efetivamente, pus em desnudo a toxicidade que existe, sem errar, em todas as famílias, sendo que umas há uma espécie de contágio generalizado e em outras um e outro indivíduo tóxico. Verdadeiramente, as primeiras relações que nós temos na vida são com os nossos familiares mais próximos e os de extensão, gerando então a cultura de que em família só recebemos coisas boas, e que nunca poderemos imaginar que há em um pai, mãe, irmão, irmã...alguém que nos adoeça emocionalmente. Há uma regra tácita: só é permitido sentir coisas positivas entre os familiares. Não é verdade. Não entro tampouco aqui nas questões que tangenciam minha religião, não. Falo de seres humanos em relação, carregadores de suas frustrações, sonhos ou mesmo maldades. Somos levados a aprender que devemos nos culpar, punirmo-nos mesmo, se acharmos que no nosso núcleo familiar exista a possibilidade de algum sentimento que não seja o do amor. Eis aí já uma fonte de prisão por culpa, considerando que a constatação dessas emoções deve ser sufocada, nem pensada.

O conceito de família tóxica é justamente para designar um grupo familiar que traz angústia e sofrimento emocionais por causa do comportamento que se alimentam e se retroalimentam, não se reconhecendo. Brigas, desavenças são naturais em núcleos familiares, não se trata disto. A questão é quando se avança ao desrespeito contínuo e permanente; a tentativa de desconstruir com assertivas depreciativas, por palavras ou mesmo ações, podendo algumas serem veladas. Falo dos conflitos que causam angústias e dores que se carregam, muitas vezes, por toda uma vida. Podem, inclusive, nascer de pais e mães. Por incrível que pareça, muitas pessoas acabam negando, inclusive a si mesmas, que vivem em uma família tóxica, tentando normalizar situações que só geram dores, sofrimento e, não raro, depressão.

Não existe um formulário onde o resultado, após o preenchimento, identificará se a sua família é tóxica ou não, porque em verdade você sabe, inclusive qual a pessoa-núcleo da toxidade, mas algo que pode já acender uma luz amarela é se você perceber uma certa inflexibilidade adotada, ou seja, é como se os membros tivessem uma postura definida, conceitos estruturados e nenhum dos membros pode pensar fora desta caixinha, e se algum se rebelar a reação é coletiva contra a sublevação. O pensar é coletivo, e ai de quem buscar a ter autonomia e começar a gostar de si mesmo, fazendo o que gosta e quer, como por exemplo não comparecer a um aniversário de um membro da família.

Classificação Indicativa: Livre

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