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Mudança aceita ausência de animais, mas anseia por retorno

Roberto Viana
Organizadores querem presença dos jegues em 2014  |   Bnews - Divulgação Roberto Viana

Publicado em 11/02/2013, às 19h48   Lucas Esteves (Twitter: @lucassteves)


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A politicamente correta Salvador vem cada vez mais ganhando espaço, mas os tradicionalistas que curtem a presença dos animais ajudando a ornamentar as festas populares da capital baiana não estão mortos e só esperam a oportunidade correta de trazer os bichinhos de novo para as ruas. Ao menos foi o que a reportagem do Bocão News constatou ao conversar com os organizadores da tradicional Mudança do Garcia nesta Segunda-Feira de Carnaval.

Desde 2011, a Justiça determinou que estava proibida a inclusão de animais como jegues e burros nas festas de largo de Salvador, o que foi obedecido pelas agremiações da capital. Segundo o organizador da Mudança, Lourival Chaves, houve uma série de conversas entre os gestores do bloco e entidades de defesas dos animais para que houvesse respeito à determinação sem a necessidade de intervenções de órgãos. Entretanto, às vésperas da Lavagem do Bonfim as coisas mudaram.

Chaves esclarece que, no dia anterior a mais importante festa religiosa da Bahia a mesma Justiça liberou a participação dos jegues. Os equinos acabaram não participando da Lavagem, assim como também estão fora do Carnaval. Mas o patrono da Mudança diz que foi apenas um caso de despreparo jurídico, pois o bloco foi pego de calças curtas em cima da hora.

“É uma situação difícil, porque eu entendo o lado das entidades de proteção aos animais. Tem mesmo gente que, bêbada, maltrata os bichos, queima ponta de cigarro, bate neles. Acredito que era uma lei e que se a gente critica também tem que saber respeitar, mas acho que o folião sente falta (dos animais). Tem sempre os dois lados. Ao mesmo tempo que tinha quem maltratasse, os animais também ornamentavam o bloco, portavam as críticas, deixavam tudo mais bonito”, defende Chaves.

O organizador da Mudança afirma que vai esperar o desenrolar jurídico da polêmica e que espera juntar uma estrutura para que ano que vem seja capaz de sair com a Mudança com os jegues caso a lei assim permita. O argumento foi reforçado pelo advogado e professor de ciências políticas da Universidade Federal da Bahia Joviniano Neto. Segundo ele, os jegues são animais de tração e, caso tenham sua função natural desviada, estarão fadados à extinção e outras formas cruéis de exploração.

“Você já viu alguém tratando um jegue como animal de estimação? Isso não existe. Se eles ficam soltos, vem gente aí que recolhe eles, vende por R$ 100 cada um e eles vão parar no Japão, onde tem quem vende eles como carne para corte e consumo. Fiscalizar está certo e maltratar está errado. Mas proibir vai fazer os bichos sumirem”, disserta o professor. Contrariada, a vereadora Ana Rita Tavares (PV) discordou veementemente de Joviniano Neto e disse que a liberação dos equinos de seus serviços clássicos é uma mudança de mentalidade que não tem volta e que eles devem ser devolvidos à natureza.


Foto: Roberto Viana // Bocão News
Nota originalmente postada às 14h do dia 11

Classificação Indicativa: Livre

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