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"Carnanegócio": seminário discute carnaval de Salvador

Gilberto Junior
Para Vovô do Ilê, a festa virou negócio e os blocos uma empresa  |   Bnews - Divulgação Gilberto Junior

Publicado em 15/05/2013, às 12h04   Juliana Costa (Twitter: @julianafrcosta)



As principais dificuldades para revitalizar o carnaval de Salvador foram debatidas no primeiro “Panorama Carnaval” – inciativa da Comissão Especial do Carnaval realizada pela Câmara Municipal de Salvador, na tarde desta terça-feira (14). Hoje termina o prazo (90 dias) de conclusão dos trabalhos de diagnótico. De acordo com o presidente do colegiado, vereador Henrique Carballal (PT) a intenção é ouvir os representantes de blocos e o que a população de Salvador tem a dizer.

“Nós estamos abrindo um conjunto de debates e queremos abranger todos os temas. Depois de hoje, ninguém vai poder dizer que não foi ouvido. O objetivo é permitir que a Comissão da Câmara consiga elaborar um documento que nos auxilie na construção de projetos de lei que sejam pertinentes, a exemplo da adequação da lei do silêncio, do uso do solo e etc. O povo tem uma identidade muito vinculada ao carnaval então é preciso que o poder público dê possibilidades para que ela se fomente o ano inteiro”, afima Carballal.

Um tema em grande discussão é a criação de novos circuitos, como o Afródromo, e a mudança no Campo Grande. Para o presidente do bloco Camaleão, Adolfo Nery, fechar a Avenida Carlos Gomes é um erro da prefeitura. “Me assusta a possibilidade de retirada da Carlos Gomes sem uma alternativa clara para onde essas pessoas, que só ficam lá, irão. Esse povo vai para onde? Vai ficar em casa? Então, essa desativação tem que ser muito bem debatida, muito bem avaliada”.

De acordo com o secretário de Desenvolvimento, Turismo e Cultura de Salvador, Guilherme Bellintani, a mudança no circuito ainda não foi definida. “Concordo que precisamos aumentar o espaço do folião da rua e estamos buscando isso. Esta questão é prioridade para a prefeitura, mas a decisão final sairá nos próximos dias”. Ele ainda explica que após o seminário um documento será enviado ao prefeito ACM Neto (ACM) para que as ações já sejam iniciadas a partir de junho.

O fundador e presidente do bloco afro Ilê Aiyê, o Vovô do Ilê, que é a favor do Afródromo, afirma que é necessária mais organização por conta dos blocos afros. “É preciso uma maior participação dos blocos afros, pois não adianta ficar só reclamando que os blocos de trio estão tomando conta do espaço. Temos que nos organizar e fazer um desfile tão bonito quanto”.

Para Vovô, o carnaval virou um “carnanegócio” com profissionais habilitados e recursos apropriados. “Acabou a época da subversão, de organizar um grupo e sair nas ruas para desfilar, ou de precisar de apoio político para sair. Hoje tem que estar organizado, regularizado. É o ‘carnanegócio’, e os blocos viraram uma empresa, então é preciso se organizar nesse sentido”.

O cantor Zelito Miranda, também esteve no seminário e destacou a importância das festas populares. Ele ainda disse não concordar com a mistura de ritmos (axé e forró) na festa junina. “Precisamos evitar este canibalismo cultural, de querer abraçar tudo, comer tudo, deglutir desta forma. Não acho legal. Temos que manter a tradição em cada situação”.

Programação

Durante os três dias do seminário, as mesas-redondas serão divididas em dez temas. Na quarta (15), das 9h às 18h, os assuntos serão "Governança: desafio público e privado", "Carnaval para baianos e turistas", "Salvador, Recife e Rio: carnavais em transformação" e "Carnaval, cultura e entretenimento". No último dia, quinta-feira (16), das 9h às 18h, os temas serão "Espaço público e suas novas opções para o Carnaval de rua", "Carnaval em movimento: do Afródromo às fanfarras", "Novos rumos para o Carnaval de Salvador" e "Carnaval da Bahia: que loucura esta mistura".


Nota originalmente postada às 20h do dia 14

Classificação Indicativa: Livre

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