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Criadores das fanfarras refletem sobre legado do novo dia de Carnaval

Imagem Criadores das fanfarras refletem sobre legado do novo dia de Carnaval
Donos de blocos organizaram confusão generalizada e ganharam apoio da comunidade  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 27/02/2014, às 06h24   Redação Bocão News (Twitter: @bocaonews)


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Nove anos depois de iniciarem uma nova tradição, as bandas de fanfarra do bairro da barra terão a honra de sediar este ano a abertura simbólica do Carnaval de Salvador, inclusive com direito a presença de autoridades. Às 19h, o prefeito ACM Neto saudará os blocos e dará como aberta a folia em Salvador, tendo o próprio como folião.
A mudança do status da festa que acontece antes da tradicional Quinta de Carnaval teve início  no último ano, quando a prefeitura decidiu batizar o trecho entre o Farol e o Cristo da Barra de “Circuito Sérgio Bezerra” por uma única noite. A homenagem foi ao dono do bar Habeas Copus, a sede original do movimento, e agora 30 blocos desfilam na noite carregando centenas de associados e outras milhares de pessoas a tiracolo.
Os principais responsáveis pela nova tradição – os blocos – se juntaram e criaram a Associação Carnavalesca de Entidades de Sopro e Percussão (Acesp) em busca da ordem definitiva e a harmonia na folia prévia. Em entrevista ao Bocão News, os foliões refletiram sobre o legado que ajudaram a criar e revelaram um misto de orgulho e receio por manter o clima simples, retrô, longe das grandes estruturas que caracterizam o Carnaval de Salvador.
Até chegar ao ponto em que está, a folia criada nos arredores do bar Habeas Copus precisou enfrentar o poder público e a comunidade da Barra para conseguir se estabelecer. A reunião espontânea crescia descontroladamente, impactava na rotina do bairro e os moradores da Barra passaram a empreender uma guerra aberta contra a folia adiantada. No terceiro ano do movimento, um fato inusitado aconteceu.
“Houve um chamado do Ministério Público porque duas entidades de moradores da Barra foram ao MP dizendo que a Barra tinha um TAC que [ordenava que] eram 10 dias de festa [no bairro]: seis de carnaval, Dois de Julho, Réveillon e assim por diante. E que não era admissível mais um dia de Carnaval. Aí em uma reunião a gente mostrou que o nosso carnaval não era mais um dia de trio na rua, era um dia de fanfarras, um dia diferente”, conta Jairo Ferreira, presidente do bloco “Quero +” e um dos líderes da Acesp. Assim, após a longa reunião, acabaram as autoridades convencidas do fato e a comunidade mudando de opinião.
A organização foi sendo ampliada ano após ano como uma necessidade. Não faltavam exemplos de que a ordem era o melhor caminho, antes que tudo terminasse em briga. “No início tinha banda de sopro, minitrio, e vinha tudo completamente aleatório. De repente os blocos chocavam na esquina, tinha discussão”, lembra o presidente do bloco Pinguço, Luciano Pedreira.  “A tendência era o MP dizer que era para acabar com tudo, porque já tinha dias o suficiente de carnaval. Mas com a organização, ficou claro que era um desejo do folião”, atesta.
De acordo com os carnavalescos, o sucesso da folia das fanfarras na Barra decorre do fato de que o modelo é uma espécie de contraposição ao modelo dos trios não por uma questão de resistência, mas porque a cidade demandava um dia mais tranquilo e familiar. “É um carnaval mais tranquilo, muitas famílias vão para a rua neste dia e não vão para os dias do trio. Não é que a gente se oponha ao trio, mas o modelo da nossa festa era uma coisa que o carnaval precisava. Havia um grupo que queria esse tipo de Carnaval. Era uma necessidade do povo”, aponta Pedreira.
Por enquanto, a necessidade do povo também se equilibra com as finanças de cada bloco. Os líderes da Acesp atestam que ninguém lucra um centavo fazendo a festa – a maioria tem mesmo é prejuízo. Para mudar isto, eles sinalizam que apenas a entrada de patrocinadores é uma opção possível. Por outro lado, a entrada do capital pode descaracterizar o caráter simples da festa e jogá-la no modelo estrutural que a quarta de fanfarras tenta evitar. 
O futuro dos blocos da quarta, segundo os líderes da Acesp, aponta para o aumento do número de entidades associadas e uma possível concentração das atrações em outro local, que seja exclusivo para quem queira apenas curtir as fanfarras. Porém, não é para logo, uma vez que o movimento está bem identificado com o bairro. Por outro lado, a tendência de transferência é uma realidade uma vez que em outros locais da cidade já há a criação de movimentos de fanfarras que podem ser congregados. 
“Hoje é necessidade [da festa atual] ser na Barra. Mas isso não impede que um movimento hoje aconteça em outro slugares, como já tem em Roma. Na Pituba, domingo na rua Minas Gerais saem três blocos. Tem coisas também no Imbuí e  Rio Vermelho. Então a Acesp poderia congregar isso tudo e fazer um circuito só de fanfarras”, projeta Jairo Ferreira.

Publicada no dia 26 de fevereiro de 2014, às 16h20

Classificação Indicativa: Livre

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