A tradicional Mudança do Garcia já saiu do fim de linha do bairro, no coração de Salvador. Todos os anos, foliões e manifestantes fazem o percurso a pé até o Circuito Osmar, no Campo Grande. Quem ficou de olho no desfile foi a senhora Ioná Peixoto, 89 anos, que acompanha tudo perto de casa, na Rua Pacífico Pereira. "A farra promete", disse a animada senhora.
Um detalhe que destoa de anos anteriores é a participação de um grupo de representantes da Igreja Batista do Garcia. Eles permaneceram em pontos estratégicos da Avenida Leovigildo Filgueiras. Os evangélicos empunham cartazes com mensagens biblícas, a exemplo de "Os adúlteros, incrédulos e metirosos irão para o Lago do Inferno" e "Deus julgará os imorais".
Quem se diverte com a situação são os travestidos das Muquiranas, bloco que nesta segunda de carnaval faz a festa na Avenida com Márcio Victor e o Psirico. Ao avistar o grupo de "Deus", eles geralmente atiram em direção aos homens e mulheres de fé com as pistolas de água.
Quem também marca presença na Mudança são os políticos, sobretudo os ligados à antiga esquerda baiana.
O deputado Carlos Brasileiro (PT), que esteve no
Ilê Aiyê, curtiu a folia no Garcia pela primeira vez. "Esse é o verdadeiro carnaval, a festa do povo que contraria a elite. O protesto sempre tem que ter espaço", avalia o petista. Em conversa com o
Bocão News, ele analisou a tímida participação de integrantes do primeiro escalão do governo Wagner. "As pessoas estão aí. Mas, se há menos manifestações contra o governo é porque o estado tem feito o seu papel". Brasileiro também avaliou a distribuição de cargos nos escalões inferiores do governo no segundo mandato de Jaques Wagner. "Todos têm o espaço que merecem. Todos os partidos sabem o tamanho que podem disputar", afirmou sem querer brigar por uma "fatia" maior do "bolo" com o PP e outros da base aliada.
Sobrou até para Dilma - Outro que seguiu no embalo foi o prefeito de Irecê, Zé das Virgens (PT). Pelo visto, ele foi contaminado pelo clima de carnaval, que até esqueceu as diferenças que vieram à tona dentro da legenda, após a visita do vereador
Henrique Carballal (PT)ao município do sertão baiano. "Nada nos incomoda. Todo mundo sabe das suas responsabilidades. Somos comandados pelo governador, que tem nosso apoio e respeito", desconversou o prefeito, com a exeperiência dos seus 30 carnavais na capital baiana.
E a Mudança do Garcia segue com toda sua irreverência e protesto. Pelo caminho, cartazes que bricam com a libido e com o sagrado matrimônio, como "A minha rola sumiu da gaiola. Quem pegou a minha rola?" e "Prefiro amante do que dona encrenca". Nem mesmo o governo federal escapou. A caravana do Psol, que tem à frante Hilton Coelho, levanta o seguinte estandarte: "Dilma, para os banqueiros tudo. Para os trabalhadores, salário mínimo".
O registro negativo é a existência de barracas com óleo fervente, que comercializam batata frita e acarajé, ao longo do trajeto entre o fim de linha do Garcia e a lateral do Teatro Castro Alves, no Campo Grande. A Secretaria de Serviços Públicos deveria coibir tal prática, que coloca em risco a segurança dos milhares de baianos e turistas.
Fotos: Edson Ruiz// Bocão News
