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BNews Folia: A beleza, o encanto e a poderosa mensagem dos blocos afro

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Blocos afro transmitem mensagem de conscientização cultural durante folia  |   Bnews - Divulgação Arquivo / Roosewelt Pinheiro - Agência Brasil
Verônica Macedo

por Verônica Macedo

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Publicado em 25/01/2024, às 05h30 - Atualizado às 11h53


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É incontestável a mensagem difundida pelos blocos afro durante o Carnaval da Bahia. Eles são os grandes difusores da conscientização cultural, responsáveis maiores da conquista dos direitos e respeito à raça negra. E os desfiles durante a maior festa de rua do planeta se transformam em um verdadeiro palco de levante a essas bandeiras, principalmente neste ano, onde diversas entidades fazem aniversário.

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Sendo assim, o Carnaval da Bahia em 2024 vai homenagear a trajetória histórica dos blocos afro com o tema "50 anos dos blocos afro. Nossa energia é ancestral".

A data é emblemática, pois coaduna com momentos de celebração de várias entidades afro. O primeiro bloco afro do Brasil, por exemplo, Ilê Aiyê, festeja 50 anos de fundação. Já o Olodum e o Malê Debalê celebram 45 anos cada um. A Banda Didá acaba de completar 30 anos de história, o Cortejo Afro tem 25 anos de existência e, finalmente, o Afoxé Filhos de Gandhi alcança a marca histórica de 75 anos de fundação.

"É uma data muito especial. São 50 anos de resistência, luta e transformação. Você vê hoje o Brasil se manifestando através dos tambores, dando essa contribuição para ser um pais melhor, com menos desigualdade, com mais liberdade, com mais igualdade, com mais respeito. Então, isso é muito interessante", disse o fundador e presidente do Ilê Aiyê, Antônio Carlos Vovô em entrevista ao BNews.

Vale destacar que, durante o anúncio sobre o carnaval, feito pelo secretário estadual de Cultura, Bruno Monteiro, foram destacadas várias e diversificadas iniciativas elaboradas pelo Governo da Bahia para prestigiar os blocos de matriz africana em todos os dias da folia.

Blocos afro e suas trajetórias

Ilê Ayê

Fundado em novembro de 1974 por Antonio Carlos dos Santos Vovô, conhecido como o Vovô do Ilê, a história do bloco coincide com um momento histórico importante. Na década de 1970, o mundo assistiu ao surgimento de vários movimentos que lutavam e incentivavam a valorização da cultura negra. 

Foi o caso do movimento Négritude, da prisão de Angela Davis (EUA), da criação do Dia da África (ONU) e da independência de vários países africanos, como Cabo Verde, Angola e Moçambique, entre outros eventos. Foi nesse contexto que surgiu o bloco Ilê Ayê, que chegou com uma proposta até então inédita no país: um bloco formado exclusivamente por negros. 

Na época, a ideia desagradou vários setores da sociedade, mas não houve desistência e o projeto seguiu em frente. Sediado no terreiro Ilê Axé Jitolu, localizado na ladeira do Curuzu, no bairro da Liberdade em Salvador – Bahia, o bloco ocupou uma periferia majoritariamente negra da capital baiana. 

Nesse local, o Ilê funcionou por aproximadamente 20 anos, onde foi estabelecido a diretoria, a secretaria, o salão de costura e a recepção de associados do Ilê Ayê. E sua estreia no Carnaval de Salvador não demorou muito. Em 1975, o bloco saiu às ruas da capital baiana pela primeira vez, como o Vovô do Ilê tocando timbal. Aliás, o nome que ele tinha pensado para o bloco era bem diferente do que ganhou fama nacional e internacional. 

Olodum

Fundado como bloco afro carnavalesco em Salvador no ano de 1979, a Banda Olodum é atualmente um grupo cultural, considerado uma organização não governamental reconhecida como de utilidade pública pelo governo do estado da Bahia.

Depois da estreia no carnaval de 1980, a banda conquistou quase dois mil associados e passou a abordar temas históricos relativos às culturas africana e brasileira. 

Tem sua sede localizada no Centro Histórico de Salvador, o Pelourinho, onde acontece a maioria das suas apresentações. Atualmente, possui dois presidentes: Jorginho Rodrigues, presidente-executivo, e Marcelo Gentil, presidente institucional.

Desenvolve ações de combate à discriminação social, estimula a autoestima e o orgulho dos afro-brasileiros, defende e luta para assegurar os direitos civis e humanos das pessoas marginalizadas, na Bahia e no Brasil.

Malê Debalê

O Malê Debalê é um bloco afro de Carnaval da Bahia, que tem como dirigente Carlos Eduardo Carvalho.

O bloco conta com cerca de quatro mil integrantes e foi fundado em 23 de março de 1979 por um grupo de moradores de Itapuã que tinham o desejo que seu bairro pudesse participar do carnaval de Salvador, capital do Estado da Bahia.

Criado com inspiração na população descendente dos Malês povo de origem africana e religião muçulmana, que lutaram na Revolta dos Malês contra o sistema escravocrata brasileiro.

Banda Didá

A Banda Didá é um grupo de samba reggae composto somente por mulheres. Ela foi fundada pelo maestro Antônio Luís Alves de Souza, o Neguinho do Samba, um dos criadores do Olodum, em 1993, e considerado o pai do samba-reggae. Vale salientar que é a primeira agremiação percussão exclusivamente feminina.

No final de 1992, O maestro formou uma turma só de garotas da comunidade do Pelourinho para aprender a tocar tambor. Aí o projeto foi ganhando dimensão.

A Banda Didá surgiu como uma espécie de reparação, pois as mulheres não eram aceitas nos grupos de percussão baianos no início dos anos 90.

Cortejo Afro

Fundado pelo artista plástico Alberto Pitta, o bloco afro que completa 25 anos de fundação em 2023, celebra Logunedé, o orixá menino, filho do caçador Oxóssi com a deusa das águas doces Oxum. 

Com dois mil componentes, entre associados, bateria, baianas e bailarinos, a agremiação retorna às ruas em dois dias: no domingo e segunda-feira (20), no circuito Barra-Ondina. 

O Cortejo Afro também está voltado para a sua comunidade através do seu braço sociocultural, o Instituto Oyá.

Afoxé Filhos de Gandhy

O bloco carnavalesco Afoxé Filhos de Gandhy é um dos mais tradicionais do Carnaval de Salvador. Ele foi fundado por estivadores portuários de Salvador em 18 de fevereiro de 1949, o afoxé Filhos de Gandhy se tornou o maior Afoxé do Carnaval da Bahia.

Com seu ‘tapete branco’, batuque contagiante e mensagens de paz, inspiradas no líder indiano Mahatma Gandhi, o bloco mantém a tradição da religião africana ritmada pelo agogô nos seus cânticos de ijexá na língua Iorubá.

Constituído tradicionalmente por homens, o bloco conta com aproximadamente seis mil integrantes. Sua fantasia é composta por lençóis e toalhas brancas transformadas em turbantes, sendo o símbolo maior do Afoxé, que demostra, quando em desfile, toda beleza plástica do gigante de Guiné.

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Classificação Indicativa: Livre

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