Brasil
Publicado em 15/04/2021, às 19h49 Camila Mattoso/Folhapress
O delegado Alexandre Saraiva, que será substituído da chefia da Polícia Federal do Amazonas, diz que só soube da troca pela imprensa.
Em atrito com o ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente), ele afirma que chegou a receber de um integrante da nova cúpula uma sondagem para assumir um posto no exterior, mas não foi dito nem quando nem onde.
O policial afirma que o novo diretor-geral, Paulo Maiurino, não o procurou em nenhum momento.
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo nesta quinta-feira (15), Saraiva faz uma provocação indireta ao novo comandante da PF.
"Eu sou um soldado, cumpro missão. Nunca pedi pra ser chefe de nada. Nunca neguei missão na PF e nunca tive missão fácil. E toda minha carreira, quero deixar isso claro, toda minha carreira foi totalmente dentro da Polícia Federal. Nunca fui cedido a órgão nenhum", disse o delegado.
Maiurino ficou fora da Polícia Federal nos últimos anos ocupando cargos políticos em estados e depois no STF e no STJ.
PERGUNTA - O sr. foi comunicado da sua saída?
ALEXANDRE SARAIVA - Não fui avisado. Me disseram que me ofereceriam um posto de adido, não me disseram onde, nem quando. Não foi nem meu chefe imediato que falou disso comigo. O único que poderia fazer um comunicado seria meu superior hierárquico, o diretor-geral da Polícia Federal.
Qual é o motivo da troca?
AS - Não sei se eles querem me tirar daqui. Foi uma conversa entre amigos que me falaram sobre o posto no exterior.
A PF confirma essa informação.
AS - A informação para ser chamada de oficial tem dois caminhos: ou meu chefe me liga ou coloca no diário oficial.
O sr. gostaria de permanecer?
AS - Eu sou um soldado, cumpro missão. Nunca pedi pra ser chefe de nada. Nunca neguei missão na PF e nunca tive missão fácil. E toda minha carreira, quero deixar isso claro, toda minha carreira foi totalmente dentro da Polícia Federal. Nunca fui cedido a órgão nenhum.
O seu chefe, o diretor-geral, ficou alguns anos fora da PF. O sr. está fazendo uma crítica a ele?
AS - Eu não vou me manifestar sobre o meu chefe.
O sr. vai continuar com o caso?
AS - Ainda que fosse verdade essa informação, eu não fiz concurso para superintendente. Eu sou delegado da PF.
O sr. soube pela imprensa?
AS - Sim. Soube por uma notícia da imprensa. Se é verdade ou não, eu não sei.
A informação é do Painel [da Folha de S.Paulo]. Ela é verdadeira.
AS - Não estou dizendo isso. Estou dizendo que juridicamente ela não é oficial, ela não existe.
O sr. criticou Ricardo Salles à Folha de S.Paulo e disse que na Polícia Federal não vai passar a boiada. O atrito com o ministro pode ter sido um motivo para a tomada de decisão do novo diretor-geral?
AS - Não tenho como saber. Sempre toquei inquérito, até para não esquecer o que eu sou, delegado da PF.
O sr. apresentou uma notícia-crime contra Salles no STF. Qual o futuro disso?
AS - O STF vai decidir. O que eu tinha sobre os acontecimentos estão lá na notícia-crime.
Na PF, há informação que isso não foi bem visto. O sr. se arrepende?
AS - Não. Eu era obrigado a fazer. Eu tenho um dever de fazer isso, é o que a lei determina. Se fosse uma pessoa sem foro privilegiado, eu instauraria inquérito. Como é um ministro, eu enviei para o Supremo.
A PF diz que a decisão foi tomada antes de o sr. apresentar a notícia-crime, que não teria relação. O sr. apresentou depois por que já sabia que sairia?
AS - Eu conseguiria escrever 38 páginas, reunir argumentos, em tão pouco tempo? Eu me considero rápido, mas não foi isso. E eu não faria isso. Se quiserem fazer perícia no arquivo, podem fazer.
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