Coronavírus

População pode desenvolver transtornos psicológicos com isolamento social, diz especialista

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Publicado em 09/04/2020, às 17h55   Yasmim Barreto


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Há quem diga que nada melhor que uma conversa olho no olho para sentir e saber o que outro quer transmitir, se é sincero. Tem gente também que “receita” o abraço como o melhor remédio para quem está triste ou precisando de apoio emocional. Mas, com essa necessidade de interação, o que pode acontecer com a saúde mental dos seres humanos quando, em tempos de coronavírus, as principais recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Ministério da Saúde (MS) são o isolamento social e evitar o contato físico entre os seres humanos?

Ao BNews, a psicóloga clínica e pesquisadora da Gestalt Terapia, Jéssica Bastos, chama atenção para diversos desdobramentos psíquicos que podem ocorrer durante esse período de quarentena que, de acordo com ela, é baseado em incertezas do que pode acontecer, medo de contrair a Covid-19 e mudanças na forma de se relacionar. 

“Isso tudo pode evocar em nós a sensação de solidão, tristeza muito grande, porque temos esse sentimento de pertença, então nos ver isolados pode significar, neste momento, para muitos estar sozinho, abandonado, desassistido. Isso também pode ser gatilho para início ou agravamento de adoecimentos emocionais, sendo alguns deles: a ansiedade, síndromes de pânico, quadros de depressão e bipolaridade”, disse. 

Além disso, a terapeuta reitera que esse cenário é algo que pode variar entre as pessoas. Segundo Jéssica Bastos, a capacidade de resiliência, autoconhecimento e recursos utilizados interferem diretamente nas consequências emocionais de cada um. 

No entanto, enquanto não há perspectivas de quando a população poderá voltar a sua rotina normalmente e toque físico não for mais perigoso a saúde de si mesmo e do outro, o uso das tecnologias pode ser um aliado na busca pela saúde mental e manutenção das relações humanas. Informa a psicóloga e pesquisadora da Gestalt Terapia. 

“É necessário lançar mão de recursos para enfrentar esse período, eu tenho notado as pessoas se ligando mais, fazendo mais vídeos-chamadas, os grupos de WhatsApp estão mais ativos, tudo isso nessa busca mesmo de alguma forma estar com o outro ainda que nesse meio virtual e isso de alguma forma supri essa necessidade de pertença, de contato, calor humano”, pontua.  

À reportagem a psicóloga clínica, Juliana Mendonça, completa: manter uma rotina de autocuidado, o contato por telefone, por internet, com as pessoas que amamos, uma boa alimentação, atividades físicas e não nos cobrar muito por não conseguir atingir metas e ter a mesma produtividade que tínhamos antes. (Confira dicas abaixo) 

Atendimento psicológico on-line 

Antes do surto do coronavírus aqui no Brasil, diversas pessoas já faziam da terapia algo essencial em suas rotinas, como é o caso de Bruna Santos*, que buscou atendimento psicológico há pelo menos dois anos. Mas, com as mudanças e decretos para a suspensão de diversas atividades no intuito de evitar aglomeração de pessoas e disseminação do vírus, a jovem relata ter ficado apreensiva com a possibilidade não receber os atendimentos de sua psicóloga.  

“Foi tudo muito rápido e eu precisava das sessões semanais. Fiquei muito ansiosa só de pensar na possibilidade de não ter. Eu não sei o que seria de mim sem a terapia toda semana. Quando isso tudo começou, fiquei com medo de prejudicar meu acompanhamento psicológico e consequentemente, minha evolução. Fiquei com medo de voltar pro 0 e ficar ansiosa, triste”, disse. 

Por isso, conforme a psicóloga, Jéssica Bastos, os atendimentos foram remanejados para o mundo virtual que, segundo ela, são tão efetivos quanto os presenciais. “Com a própria chamada de vídeo, onde facilita as expressões, a transmissão da mensagem tanto de captar o que está sendo dito, quanto de transmitir”. O uso das plataformas on-line também possibilita estratégias como a música, poesia e imagens, conforme a terapeuta.   

Além disso, Jéssica reitera a importância dessa readequação, porque, segundo ela, se não houvesse a possibilidade do serviço através da internet, muitos quadros de transtornos psicológicos se agravariam. O que com a tecnologia possibilita que os pacientes continuem com o tratamento. 

Para Bruna, o atendimento on-line é imprescindível. “Eu acho que todo mundo, principalmente no cenário atual, devia buscar terapia. A ansiedade no início prejudica muito, e o isolamento também. Nossa mente pode explodir a qualquer momento, e temos que ter um suporte. Tudo bem não estar bem o tempo todo, mas precisamos ter consciência de que cuidar da saúde mental é importante”.

*Nome fictício para preservar a identidade da fonte 

Classificação Indicativa: Livre

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