Coronavírus

Acordo da Fiocruz com a AstraZeneca tem “cláusulas abusivas” que podem atrasar vacinação

Tomaz Silva/Agência Brasil
O acordo prevê prazos muito largos, oferecendo margem para alterações pautadas pela política, diz Aith  |   Bnews - Divulgação Tomaz Silva/Agência Brasil

Publicado em 10/03/2021, às 08h23   Redação BNews


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A Fiocruz assinou o contrato de encomenda tecnológica com a farmacêutica anglo-sueca AstraZeneca para a produção da vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela Universidade de Oxford no Brasil, em setembro de 2020.

Entretanto, passados mais de seis meses, muitos aspectos do acordo seguem sigilosos. Segundo especialistas ouvidos pelo GLOBO que tiveram acesso a parte ou à íntegra do documento, ele contém “cláusulas abusivas”, que podem, inclusive, colaborar para o atraso na vacinação contra o novo coronavírus no país.

O acordo prevê prazos muito largos, oferecendo margem para alterações pautadas pela política, diz o professor de Saúde Pública da USP Fernando Aith, diretor do Cepedisa/USP, centro pioneiro de pesquisa sobre o direito da saúde no Brasil: "Há uma entrega de vacinas prevista no contrato para julho, mas fazem um acordo de cavalheiros, na palavra, que ela será feita antes, em janeiro. Na hora do vamos ver, o que vale, no entanto, é o contrato. Fica nebuloso. Se estivesse mais claro no contrato, o Plano Nacional de Imunização (PNI) poderia ter bases mais concretas".

O país já vive as consequências do atraso no calendário da vacinação no pior momento da pandemia. A própria Fiocruz informou na semana passada que entregará em março 3,8 milhões de doses produzidas na instituição a partir de insumos vindos do exterior. Mas seu calendário inicial prometia a entrega de 15 milhões de doses neste mês. O atraso ocorreu por uma falha em uma máquina que tampa os frascos da vacina.

O ex-ministro da Saúde e atual deputado federal, Alexandre Padilha (PT-SP), teve acesso à íntegra do contrato, após fazer uma requisição através da Comissão Externa de Enfrentamento à Covid-19 da Câmara dos Deputados,.

"Ele tem cláusulas abusivas. Faltou apoio do governo federal para negociar, em defesa da Fiocruz, acordo mais amplo. Não é à toa que a embaixada do Reino Unido acompanhou tudo de perto. O embaixador foi a reuniões no Congresso, pois essas negociações são estratégicas", destacou Padilha.

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