Justiça

"Muitas vezes falar é como um outro estupro", diz vítima de abuso de líder espiritual

BNews
A pedagoga Tatiana Amorim Badaró e outra denunciante conversaram com o BNews Agora nesta segunda (14), na Rádio Piatã FM  |   Bnews - Divulgação BNews

Publicado em 14/03/2022, às 20h48   Eduardo Dias


FacebookTwitterWhatsApp

"Muitas vezes falar é como um outro estupro", assim descreveu uma das 14 vítimas de abuso por parte do líder espitritual Jair Tércio Cunha, foragido da Justiça desde 2020. Ela, que não quis se identificar, e a pedagoga Tatiana Amorim Badaró, outra denunciante do caso, concederam entrevista nesta segunda-feira (14) ao programa BNews Agora, na rádio Piatã FM. 

Ambas falaram sobre o sentimento de impunidade após dois anos da denúncia do caso e cobraram celeridade por parte da Justiça. Jair Tércio é o fundador da Fundação Ocidemnte (Organização Científica de Estudos Materiais, Naturais e Espirituais), em Salvador.

Leia mais:

“Os abusos eram com horário marcado”, diz uma das vítimas de líder espiritual

"A defesa dele quer que a gente esqueça. Quando eu falei pela primeira vez sobre o caso ainda no Youtube, uma das pessoas que era próxima dele, e hoje é uma das denunciantes também, havia dito: 'não comenta, não dá ibope, que daqui a pouco Tatiana esquece'. É isso. A lógica era essa, que caia no esquecimento. E é fundamentada na Justiça brasileira", pontuou Tatiana, que durante 12 anos foi vítima dos abusos por parte de Jair. 

A pedagoga, que rompeu com a Fundação Ocidemnte em 2015 e logo após iniciou as denúncias, também cobrou investigação à rede de apoio a Jair Tércio, que segundo ela, tem facilitado a fuga do líder da Justiça. 

"Jair Tércio está foragido e a sua rede de apoio não ter sido investigada, infelizmente, não é uma surpresa, mas é triste. E para mim, que de algum modo me responsabbilizo pelas outras vítimas também, me preocupo com o bem estar delas, é preocupante, pois sabemos que existem ameaças, intimidações. Enquanto isso não for levado adiante, outras pessoas não forem investigadas e Jair Tércio não for encontrado, a gente sempre olha por cima do ombro", completou. 

"Quando comecei a falar sobre, muitas mulheres começaram e me ligar, falando sobre o caso delas e perguntando se naquelas situação elas também haviam sido abusadas. Isso é muito sério e demonstra que muitas de nós não sabem o que é abuso. Quando a defesa dele fala em consensualiade, eles ignoram o fato de que, diante de um líder espiritual, todo mundo é vúlneravel", explicou Tatiana.  

Mais vítimas
Sem se indentificar, uma das outras vítimas de Jair Tércio também expressou na entrevista seu sentimento sobre a impunidade relacionada ao caso. Ela, que começou ser abusada aos 14 anos, contou como foi difícil para ela despertar que aquilo que estava vivendo era de fato um abuso e lembra que ele apontava que os abusos eram culpa dela. 

"Demora. O primeiro abuso é o psicológico, o abuso sexual vem muito depois. Na verdade, você já está toda destruída por dentro. Inclusive para permitir. Essa pessoa destrói o que você é para construir o que ele acha que você deve ser. Eu cheguei num nível na minha vida que nem no espelho me olhava mais, pois não era interessante a minha aparência. Eu não tinha mais vaidade" contou ela, que disse ter recebido um fio de esperança ao conhecer Tatiana.  

"Quando Tati apareceu, foi como um grito de libertação porque até então os três anos que eu estava morta dentro de mim mesma, eu gritei. Vivi e passei tudo ali e Tati legitimiu isso para mim. Eu não estava louca. Veio um mix de medo, de desespero, mas ao mesmo tempo, já consegui dar os primeiros suspiros. Hoje eu posso dizer que estou começando a me amar porque dei o primeiro passo e compreendi que a culpa não era minha", lembrou.

Ela afirmou ainda que carregou a culpa dos abusos por anos, mas que só depois de ter feito terapia conseguiu entender que era o contrário. 

"Essa culpa que eu carreguei durante muitos anos, inclusive no ato que ele fez comigo, ele dizia: 'a culpa é sua. Isso que acabei de fazer, a culpa é sua'. E para você descontruir essa culpa dentro de você é um processo muito doloroso. eu entendo as mulheres que não conseguem ainda denunciar. Não é fácil falar. Porque muitas falar, é como um outro estupro", afirmou.

Siga o BNews no Google Notícias e receba os principais destaques do dia em primeira mão.

Classificação Indicativa: Livre

FacebookTwitterWhatsApp

Tags