Cultura

Artistas de teatro em Salvador lutam por valorização em meio a obstáculos

Mateus Pereira/GOVBA
Má distribuição de espaços teatrais, incentivos insuficientes e oferta inadequada de transporte público são citados como obstáculos  |   Bnews - Divulgação Mateus Pereira/GOVBA
Daniel Brito

por Daniel Brito

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Publicado em 19/09/2022, às 06h00


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Há um mês, no dia 19 de agosto, foi comemorado em todo o Brasil o dia do artista de teatro. A data comemorativa é responsável por homenagear os diversos profissionais que atuam nessa modalidade de arte, e não apenas os atores, que normalmente estrelam os espetáculos.

Nessa conta, também entram diretores, além de pessoas que cuidam da iluminação, figurino, sonoplastia, roteiro, entre outros detalhes. Afinal, todas essas funções são essenciais para que qualquer peça seja apresentada com sucesso nos palcos, sejam eles grandes ou pequenos.

O dia do artista de teatro surgiu a partir do Decreto de Lei nº 6.533, de 24 de maio de 1978, responsável por regulamentar as profissões de artistas e de técnico em espetáculos de diversões. O detalhe é que, embora a lei tenha sido criada no dia 24 de maio, ela só entrou em vigor em 19 de agosto daquele ano. Daí a origem da data comemorativa designada para homenagear os artistas que estão imersos nessa modalidade.

No Brasil, os primeiros registros de apresentações teatrais no Brasil datam do século XVI, com peças sobre temas religiosos. A principio, essas montagens eram inspiradas e baseadas na catequização da população, ou seja, no ensino dos dogmas da Igreja Católica. Porém, o teatro próximo do que conhecemos hoje só deu as caras mesmo em 1808, com a chegada da família real portuguesa ao Brasil.

Apesar da data comemorativa, o teatro ainda não tem o mesmo alcance em comparação com outras manifestações artísticas, como o cinema. 

Valorização, acessibilidade e poucos espaços

Em Salvador, há pelo menos mais de 30 espaços de teatro espalhados por toda a cidade. A maioria deles está localizada nas áreas consideradas centrais, a exemplo do Teatro Castro Alves (TCA) e do Teatro Vila Velha, ambos no Campo Grande. Apesar de haver espaços em outros pontos da capital baiana, como o Centro Cultural Plataforma, no subúrbio, e o Espaço Cultural Alagados, na Cidade Baixa, eles ainda são minoria. 

Sara Lima é atriz pelo menos desde 2015, mas decidiu se profissionalizar e seguir a carreira em 2019, quando terminou a faculdade de comunicação. Ela participou de diversos espetáculos, como "Inferno das Horas" (2017), "Palácio dos Urubus" (2018) e "Ator Co'atos" (2019).  

Em sua avaliação, a valorização do teatro vem da construção de público para que ele seja atraído aos espaços, mas isso passa por políticas de incentivo nas escolas e no trabalho, por exemplo. "Diferente do cinema, que pode ser encontrado em em shoppings de alto fluxo de pessoas, o teatro tem endereço e é pouco visitado porque não se conhece, nunca se foi ou é longe", afirma ao BNews, acrescentando que a oferta inadequada de transporte público e a distância de locais mais afastados em relação ao Centro também são outros fatores que afastam o público dos teatros.

Seu argumento, diz, é reforçado pela receptividade das pessoas quando faz teatro de rua. "Eu vejo que as pessoas param para assistir nos pontos de ônibus, nas avenidas, nas calçadas. Isso me faz repensar ainda que há uma receptividade ao teatro, mas falta de acesso ao edifício teatral", pontua.

Questionada se existe uma percepção de que o teatro pode ser considerada uma arte de nicho, ou seja, voltada a pessoas que especificamente a apreciam, o que poderia explicar em parte a baixa atração de público, Sara avalia que talvez essa não seja a melhor percepção. "Não entendo dizer que é uma arte de nicho quando, por exemplo, Leno Sacramento apresenta um espetáculo intenso e combativo por R$ 10 no Teatro Gregório de Matos e, no público lotado, há estudantes, professoras da rede pública e crianças", diz;

"Divulgações na televisão são, na maioria das vezes, sobre atores famosos que vão fazer uma curtíssima temporada com ingresso a R$ 150, no mínimo. Isso talvez chegue ao público como se aquilo fosse a única faceta do teatro e por isso talvez seja visto como de nicho e elitista. Mas não precisa. Há teatro de graça, com colaboração consciente, teatro na rua", completa.

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