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Denúncias, conflitos políticos e briga judicial emperram eleição no Sindiquímica

Imagem Denúncias, conflitos políticos e briga judicial emperram eleição no Sindiquímica
Diretor de rebelou contra gestão e apontou irregularidades na administração da entidade  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 10/04/2014, às 10h21   Marivaldo Filho (Twitter: @marivaldofilho)



O inimigo da atual gestão do Sindicato dos Trabalhadores Químicos da Bahia (Sindiquímica-BA) é bem íntimo. Diretor da entidade, Geraldo José Bittencourt da Costa, o Geraldo Papá, se rebelou contra os outros diretores e procurou a reportagem do Bocão News para denunciar irregularidades no processo eleitoral e utilização pessoal, por parte dos diretores, dos automóveis do sindicato. Além disso, Papá chama a atenção para o financiamento da campanha eleitoral de 2012 de um dos diretores da entidade, que tentou, sem sucesso, uma vaga na Câmara Municipal de Salvador.

Geraldo Papá alega que a diretoria do Sindiquímica está ignorando uma determinação judicial para a suspensão do processo eleitoral, assinada pela juíza Milena Oliveira Watt, da 29ª Vara, em 18 de março de 2014. O diretor também acusa a atual gestão de alterar o estatuto da entidade e o edital do processo eleitoral e antecipar as eleições “sem a devida transparência”.

Apesar do estabelecimento de multa diária no valor de R$ 200 para o caso de descumprimento da determinação judicial, o “inimigo íntimo” revelou que o processo eleitoral continua transcorrendo como se nada tivesse acontecido.


O próprio site do sindicato, em notícia de 7 de abril, diz que “transcorre normalmente o processo eleitoral do Sindiquímica-BA triênio 2014-2017”, apesar do recebimento da determinação para a suspensão das eleições.

“Eles não estão nem aí. Estão passando por cima da Justiça, ignorando a categoria e fingindo que nada aconteceu. Continuam indo às fábricas, colhendo votos dos sócios, como se não existisse a determinação judicial”, reclamou Geraldo Papá.


Uso da(s) máquina(s)

A expressão “uso da máquina” passou a ter sentido ambíguo quando Geraldo Papá expôs a utilização pessoal de veículos do Sindiquímica pelos seus diretores.

“O uso da máquina, especificamente dos carros, é escancarado. Os diretores se acham proprietários dos veículos e os utilizam de domingo a domingo. Isso precisa ser denunciado. É um sindicato histórico e tradicional. Wagner participou, Rui Costa também. Precisam respeitar essa história”, denunciou.

Ao ser questionado sobre os nomes dos diretores que utilizam os carros de forma irregular, Geraldo Papá não foi tão incisivo.

“Prefiro não falar os nomes. As pessoas que fazem isso, sabem. Mas o que mais usa dessa prática é o diretor do carro cinco. Ele acha que o carro é dele”, criticou Patá.

Financiamento de campanha

Outro fato apontado pelo denunciante foi o financiamento da campanha para vereador do diretor do sindicato, José Pinheiro Almeida Lima, que concorreu a uma das 43 vagas na Câmara Municipal de Salvador pelo Partido dos Trabalhadores. Pinheiro do Sindicato, como é popularmente conhecido, teve 3.170 votos.

Empresas do ramo que, pelo menos na teoria, deveriam ser combatidas pelo sindicato a favor da categoria fizeram pomposas doações à campanha do sindicalista.



Em consulta ao TSE do financiamento eleitoral e dos gastos da campanha de Pinheiro do Sindicato, o total de receitas declaradas foi de R$ 229.636.00. Entre as empresas do ramo que contribuíram a Acrinor Acrinonitrila do Nordeste SA (R$ 15 mil), Cibrafertil Companhia Brasileira de Fertilizantes (R$ 35 mil), Cromex SA (duas doações de R$ 500), Fertilizantes Heringer SA (R$ 5 mil), Formitex Empreendimentos e Participações (R$ 10 mil), Millenium Inorganic Chemicals do Brasil SA (R$ 30 mil), Oxiteno Nordeste SA Indústria e Comércio (duas doações de R$ 400 e uma de R$ 10 mil), Pronor Petroqímica SA (duas doações de R$ 10 mil). Doações do deputado federal Nelson Pelegrino e do diretório estadual do Partido dos Trabalhadores também estão entre os registros.


“Além de antiético, é absolutamente imoral. Um sindicalista que tem o papel de defender os interesses da categoria e ir de encontro ao que quer o patronato, não deve ser financiado desta forma pelas empresas. É, no mínimo, muito estranho”, argumentou Geraldo Patá.

Anistiados

Com a mudança de estatuto proposta, os sócios anistiados, na época da ditadura militar, perdem o direito ao voto. Natanael Francisco se sentiu lesado com a limitação e a perda dos direitos. “Sou associado, pago tudo em dia e não posso opinar? Isso é errado. Sou considerado sócio para pagar, mas não posso votar? Isso é uma arbitrariedade”, criticou Natanael Francisco.

Um dos responsáveis pela Comissão Eleitoral do Sindiquímica, Carlos Itaparica, falou que só existem três sócios anistiados no sindicato e que cada caso tem que ser analisado individualmente.

“Muitos que foram anistiados, participam de outras entidades também. Não é justo que participem de outras categorias e também da nossa. Cada caso é um caso. Natanael realmente é um dos três sócios e tenho que ver com calma qual é a situação dele”, argumentou Itaparica.

“Liminar sem embasamento”

A desconsideração da liminar foi confirmada pelo representante da comissão eleitoral do sindicato. Pelo menos, até que o recurso da atual diretoria seja avaliado pela Justiça. Carlos Itaparica criticou duramente a decisão da juíza Milena Oliveira Watt.

“Estamos dando continuidade ao processo porque essa decisão não tem nenhum embasamento. Não existe nenhuma irregularidade no processo eleitoral. A juíza não sabe disso. Mais de 80% dos sócios já votaram e isso é uma demonstração de credibilidade. Vamos recorrer dessa decisão e até lá continuaremos normalmente o processo”, reclamou Itaparica.

O membro da comissão eleitoral também não poupou críticas a Geraldo Papá. “Está querendo tumultuar todo o processo. Nem sócio ele é, não paga o sindicato desde 2011. Fala o que quer e cria factoides. Sobre os carros, ele tem que citar os nomes. Não citou. Isso não existe. Todos usam todos os carros e ele vai ter que provar judicialmente o que está falando”, rebateu Carlos Itaparica.

A reportagem do Bocão News também tentou contato com o diretor José Pinheiro, o Pinheiro do Sindicato, para comentar as declarações de Geraldo Papá sobre o financiamento de empresas do ramo à campanha do petista de 2012 para vereador, mas até o fechamento da matéria não obteve resposta. Após a publicação, o citado ligou para a redação do site e disse que preferia, pessoalmente, rebater as denúncias feitas por Geraldo Papá.

Nota originalmente postada às 18h do dia 9


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