Economia & Mercado

Entenda a relação das pesquisas de intenção de voto com o dólar, o Ibovespa e o cotidiano do brasileiro

Folhapress
Consultado pelo BNews, o doutor em Economia e professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Rodrigo Oliveira explica  |   Bnews - Divulgação Folhapress

Publicado em 18/10/2018, às 11h38   Guilherme Reis


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O índice da Bolsa de Valores de São Paulo (Ibovespa) e a cotação do dólar têm sido dois dos principais objetos do noticiário nas eleições de 2018 – e quase sempre associados às pesquisas de intenção de votos para presidente da República. Quando Jair Bolsonaro (PSL) sobe nas aferições, ou dá alguma declaração que agrada o empresariado e os bancos, o mercado passa a operar em alta, ao passo que a moeda norte-americana se desvaloriza em relação ao real. Mas por que isso ocorre e como pode – ou não – influenciar o cotidiano do brasileiro? Consultado pelo BNews, o doutor em Economia e professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Rodrigo Oliveira explica.

Como funciona a Bolsa de Valores?

É um mercado de compra e venda de títulos, onde “firmas lançam títulos, que a grosso modo são pedaços da empresa. E os investidores vão adquirir esses títulos com expectativa de vender com um preço mais alto no futuro”.

Por que pesquisas eleitorais influenciam a cotação do dólar e o índice da Bolsa? 

“O mercado precifica o futuro. O que acontece é o seguinte: o mercado vê hoje a possibilidade de vitória de Fernando Haddad ou de Jair Bolsonaro. Eles estão olhando para os planos de governo e para as pessoas por trás de cada candidato. A parte econômica do plano de governo de Bolsonaro tem itens que se aproximam mais de uma pauta liberal, como redução do estado, reforma da Previdência, privatizações… O mercado tem avaliado positivamente estas propostas. Quando Bolsonaro dispara nas pesquisas, os investidores passam a apostar mais no mercado brasileiro. Por isso que o mercado entra em euforia quando sai uma pesquisa mostrando vantagem de Bolsonaro. 

“O grande problema é que há um descompasso no que o economista da campanha, Paulo Guedes, e Bolsonaro falam. Bolsonaro, historicamente, sempre teve posturas estatizantes. Ele votou contra o Plano Real, votou contra privatizações das telecomunicações na década de 1990. Recentemente, ele disse que era contra a privatização da Eletrobrás, contrariando as posições de Guedes, e a Bolsa caiu 2% no dia seguinte e as ações da Eletrobrás, quase 10%. Mas o mercado tem apostado que Bolsonaro dará espaço a Paulo Guedes”.

Esses indicadores econômicos impactam no cotidiano das pessoas? Se sim, de que forma? 

“Tem vários impactos. É difícil dizer o valor adequado para o dólar. Quando o real está mais desvalorizado, fica mais fácil exportar. Como fica mais fácil exportar, isso significa que as empresas brasileiras vão vender mais e, possivelmente, isso impactará no aumento do emprego. Quando o real está desvalorizado, significa que fica mais difícil para o consumidor brasileiro e para as firmas comprarem no exterior. Acontece que muitas empresas brasileiras dependem de adquirir maquinário no exterior, bem como o setor público, como medicamentos. Então o preço do dólar afeta diretamente a vida das pessoas. Mas qual o valor ideal? Dificilmente alguém conseguirá responder. Mas o ideal é que o governo não interfira muito, e deixe a taxa de câmbio flutuar”.

Por que damos tanta atenção às oscilações do mercado financeiro, sobretudo em época de eleição? 

“Tem pessoas que argumentam que o mercado financeiro pode influenciar os resultados eleitorais. O mercado é um lócus onde as empresas oferecem títulos para se financiar. Ou seja, arrecadando dinheiro. E tem pessoas que estão ali especulando para ganhar dinheiro. Mas o mercado financeiro reflete a situação do país, e reflete a confiança que os investidores têm sobre o mesmo. Um investidor estrangeiro não vai querer colocar dinheiro em empresa brasileira se não houver confiança. Em época de eleição, o dólar tende a subir porque aumenta a instabilidade e o mercado passa a refletir a expectativa dos investidores e dos empresários. 

“Existem várias questões que deixam os investidores um pouco apreensivos, além de pesquisadores, economistas, um exemplo é a reforma da Previdência e a situação fiscal do país. Um relatório recente do Banco Mundial diz que se os gastos brasileiros continuarem crescendo e não houver uma reforma da Previdência, em 2030 todo o gasto do governo será com a Previdência. Fazer uma reforma é para ontem. A partir do momento que o PT não enxerga a necessidade dessas reformas, e não propõe mudar o plano de governo, o mercado vai continuar precificando negativamente a campanha de Haddad. 

“Eu, particularmente, acho que Fernando Haddad tem condições melhores para conduzir o país neste processo se ele escolher as pessoas certas, como por exemplo anunciando um economista do calibre de Marcos Lisboa (INSPER) como seu futuro Ministro da Fazenda. Embora Paulo Guedes seja próximo do mercado, Bolsonaro não é. Bolsonaro é uma incerteza maior, afinal, já declarou inúmeras vezes que não entende nada de economia".

Quais os compromissos que o próximo presidente deverá assumir na área econômica?

“O próximo presidente precisa comprar bandeiras importantes como reduzir os gastos públicos, aumentar a produtividade do Brasil que está estagnada nos últimos 30 anos, e isso não se faz sem uma grande melhoria na qualidade da educação, aumentar relação investimento PIB, e realizar as reformas da Previdência e Tributária.”

Classificação Indicativa: Livre

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