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Seguro em casa: Home office amplia apólices residenciais durante a pandemia

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Em meio à crise do coronavírus, as vendas de seguros residenciais ultrapassaram R$ R$ 2,1 bilhões em oito meses. Confira o conteúdo em aúdio no podcast "Negócios À Parte"  |   Bnews - Divulgação Arquivo Pessoal

Publicado em 14/11/2020, às 17h52   Leo Barsan


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BNews · SEGURO EM CASA: HOME OFFICE AMPLIA APÓLICES RESIDENCIAIS DUANTE A PANDEMIA

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Imagina que por causa da pandemia do coronavírus a sua residência precisa também virar um escritório. Nem precisa imaginar porque o cenário é real. A quarentena trouxe mudanças de comportamento para a segurança de todos – e também dos imóveis. Uma das alterações de rotina está na maneira de trabalhar. O formato home office concentrou as pessoas em casa e ligou o alerta sobre a necessidade de proteger o patrimônio.

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Dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep) apontam que a busca por seguros residenciais em junho, por exemplo, cresceu 21% em relação a maio. Em comparação a junho de 2019, o crescimento foi de 8,87%. E não só a procura por este tipo de apólice cresceu.

O volume de negócios caminha na mesma direção. Entre janeiro e agosto deste ano, segundo a Susep, o tipo do produto teve alta de 1% - em meio à crise – quando analisado o mesmo período do ano passado. Os números dão a real dimensão: até agosto, as vendas ultrapassaram R$ 2,1 bilhões; R$ 20,9 milhões a mais que no mesmo intervalo de 2019.

É como se R$ 2,6 milhões fossem faturados a mais a cada mês deste ano – dentro do recorte pesquisado –, em relação aos mesmos meses do ano anterior. O seguro residencial representou um faturamento mensal de R$ 265 milhões entre janeiro de 2020 - uma média de R$ 8,8 milhões por dia; ou, R$ 368 mil a cada hora.

O consumo do produto é explicado por clientes como advogada Marília Andrade, 30 anos, que mora em um apartamento no bairro do Leme, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Ela conta que nem pensava em contratar uma apólice residencial até ter contraído a Covid-19 e enxergar no isolamento social a necessidade de também proteger a casa.

“Tive a Covid, fiquei bastante debilitada, tive bastantes sintomas e durou tempo considerável. Comecei a pensar mais um pouco na minha saúde e foi o momento em que pensei em fazer o seguro de vida no primeiro momento. Passei a fazer home office em isolamento total e aqui no Rio os apartamentos são muito antigos, sobretudo, na zona sul. Têm muitos casos de incêndio, elétrica e hidráulica antigas, além do uso de aquecedor para chuveiro. Comecei a ficar muito em casa, trabalhar com equipamentos e passei a ter essa preocupação em fazer o seguro residencial”.

Marília Andrade percebeu no home office a necessidade de comprar um seguro residencial

Quem também percebeu a necessidade de proteger o imóvel – e a família – foi o administrador de empresas Rogério Santana, 53 anos. Pai de três filhos, ele ressalta que a preocupação com bem-estar de todos foi decisiva para contratar o seguro residencial. “A minha condição relacionada ao período da pandemia foi, justamente, por essa permanência maior na minha residência. Inúmeros aparelhos eletrônicos que vêm a ser utilizados compreendem uma carga maior de energia, aumenta a amperagem e a gente fica preocupado”.

A estratégia do home office foi adotada por 46% das empresas brasileiras, segundo a Pesquisa Gestão de Pessoas na Crise Covid-19, elaborada pela Fundação Instituto de Administração (FIA), em abril. Com mais gente em casa, especialistas do setor de seguros explicam que, além do home office, as pessoas passaram a enxergar a necessidade de deixar o patrimônio livre de riscos.

O ramo sofreu impactos com a crise do coronavírus. Mas, de acordo com a vice-presidente da Comissão de Riscos Patrimoniais Massificados da FenSeg (Federação Nacional de Seguros Gerais), Magda Truvilhano, a carteira vive um momento de alta procura e de recuperação. “Agora que está havendo uma recuperação. O número de cotações aumentou. A gente observou isso principalmente nas cotações digitais. O que está levando as pessoas a cotarem é: primeiro, ela está dentro de casa, então, está vendo a necessidade ali de ter um seguro para preservar aqueles bens nesse momento em que a casa está super-utilizada pelos seus moradores. Tendo a ferramenta de cotação digital, uma vez que está com afastamento social, acaba vendo ali um facilitador para cotar o seguro”.

O presidente do Sincor (Sindicato dos Corretores da Bahia), Wanderson Nascimento, ressalta que outros fatores, além do home office, contribuíram para o crescimento das apólices residenciais. “ O home office contribuiu bastante para o crescimento do seguro residencial durante a pandemia, mas não só ele. Outros fatores influenciaram bastante. Como as pessoas ficaram em casa perceberam a necessidade de se contratar uma boa assistência 24 horas, conserto de chuveiro, varal, cortina, cano entupido. Tudo isso por consequência da quantidade maior de pessoas em casa também aumentou a quantidade de sinistros. Tivemos pequenos incêndios, panela de pressão que explodiu”.

CUSTO BAIXO, COBERTURAS ALTAS - Há quem pense que o tipo do seguro é caro. Mas quem comprou uma apólice garante que os custos são menores quando comparados à contratação de um profissional particular. A advogada Marília Andrade percebeu a diferença no momento em que precisou fazer reparos na rede elétrica do apartamento.

“Se for sempre fazer um reparo, ajuste ou conserto com profissional avulso com certeza vai sair valor mais alto que o do seguro. É menos dor de cabeça, mais segurança, mais tranquilidade. Foi uma questão que surgiu de forma mais latente com o home office, com essa questão de você ficar o tempo inteiro em casa e fazer da sua casa um escritório. É o seu ambiente de trabalho que não pode parar”.

“Moro sozinha com a minha gatinha. Também não tenho muita habilidade em trocar lâmpada, resolver coisas de entupimento. Veio a calhar que o ralo da minha cozinha entupiu e essa necessidade foi crescendo. No isolamento, a gente fica muito em casa e começa a usar muito as coisas. A gente começa a perceber algumas questões que merecem mais atenção, outras começam a se desgastar, fora todo o equipamento porque você precisa o tempo inteiro utilizar energia elétrica”, explica a advogada.

O presidente do Sincor, Wanderson Nascimento, diz que a partir de R$ 300 o cliente pode comprar um seguro residencial com cobertura para incêndios, queda de raios, explosões, assistência 24 horas e outros reparos, por exemplo. “Um custo absolutamente ínfimo se comparado a outros seguros como o de automóvel, que gira em torno de 12% a 15% do valor do bem e alguns até mais caros que isso. (O residencial) é um seguro que tem um custo muito suave para o benefício que ele traz”.

Magda Truvilhano, da FenSeg, explica que não existe cobertura para home office no seguro residencial, mas o uso parcial do imóvel como comércio pode ter garantias. “Não existe cobertura de home office em seguro residencial. Existe essa cobertura em seguros empresariais. No residencial, é possível contratar o que algumas seguradoras disponibilizam como modalidade de seguro residencial que permite que seja desempenhada dentro daquele imóvel alguma atividade profissional, seja ela um MEI, um profissional liberal, ou uma pessoa que tenha alguma atividade para aumentar a sua renda como uma manicure, um cabeleireiro”.

CASA DE FERREIRO - No Brasil, apenas 14,6% dos domicílios têm seguros. São 10,3 milhões de apólices de seguro residencial, segundo dados da Susep de 2018. A partir destes dados e do custo das apólices em comparação ao trabalho de profissionais avulsos, é possível avaliar que o brasileiro pode, digamos, “reformar” a própria casa, mas resiste. Seria o efeito “casa de ferreiro”?

As regiões Sudeste e Sul lideram o ranking em número de negócios. São Paulo concentra a maior quantidade de vendas de apólices em 2020 – são R$ 820 milhões, o equivalente a 39% do global. Na sequência, aparecem Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Paraná, Minas Gerais, Santa Catarina e Goiás.

A Bahia é o oitavo estado com maior número de apólices residenciais em 2020. Os negócios totalizam pouco mais de R$ 48,4 milhões e correspondem a 2,3% do total de contratos fechados. Na comparação com o intervalo janeiro-agosto de 2019, houve crescimento de 2,6%. Acre, Amapá e Roraima são as três unidades federativas que menos compraram seguros residenciais no período e respondem, cada um, por 0,1% do volume de negócios.

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O presidente do Sincor na Bahia, Wanderson Nascimento, afirma que o tipo do seguro segue tendência de crescimento. “Tem crescido numa proporção bastante significativa e até o final do ano teremos um acréscimo bastante grande dessa carteira. Até porque está acontecendo uma procura natural dos nossos clientes. Isso se dá por conta de as pessoas estarem mais em casa e perceberem melhor a necessidade de ter um seguro residencial que cobre não só incêndio, raio, explosão, mas cobre responsabilidade civil, dano elétrico e coberturas acessórias que são bastante interessantes por um preço bem em conta”.

PREJUÍZOS INDENIZADOS - Os sinistros cresceram 14,2% no período, representando R$ 468,8 mil em indenizações. No intervalo comparativo em 2019, os pagamentos somaram pouco mais de R$ 410,6 mil. Ano passado, o faturamento com seguros residenciais chegou a R$ 3,1 bilhões. Os sinistros pagos entre janeiro e dezembro daquele ano somaram R$ 620 mil.

Os seguros residenciais representam 19% do volume de vendas do ramo patrimonial entre janeiro e agosto de 2020. As apólices somam mais de R$ 2,1 bilhões no país e ficam atrás apenas dos contratos para Riscos Nomeados e Operacionais que fecharam, no período, um montante superior a R$ 2,6 bilhões. Ainda na carteira patrimonial, os sinistros residenciais correspondem a 12,7% - ou, R$ 469 mil em indenizações.

Com ou sem pandemia, com ou sem home office, Magda Truvilhano, da FenSeg, alerta para a necessidade de proteger o imóvel. “Independentemente da pandemia, a apólice de residencial é importante não só por conta das coberturas securitárias, mas também em função da assistência 24 horas. Os serviços utilizados pelo cliente, se ele for fazer isso de forma particular, gastaria o equivalente à própria apólice ou até mais. É poder utilizar na hora de uma situação imprevisível como incêndio, roubo ou dano elétrico, mas também comprar um seguro e receber uma assistência 24 horas independente de ter um sinistro, ou não. Isso em tempo de pandemia também é importante”.

Wanderson Nascimento, do Sincor Bahia, conta ter passado por sufoco em plena data comemorativa para entrar em casa. Só o seguro residencial salvou. “O principal motivo para contratar seguro residencial é repor o patrimônio. As pessoas acham que nunca vai acontecer com elas, mas panelas de pressão explodem, janelas caem dos prédios e causam danos a alguém, como já aconteceu comigo. O vizinho joga um cigarro pela janela e pega fogo em uma cortina. Você conseguir encontrar um chaveiro no dia 24 de dezembro às dez da noite, eu diria que é quase impossível se não for através de uma assistência 24 horas. Sei disso porque também fui vítima em uma véspera de São João quando perdi a chave de casa e precisava entrar. Consegui um chaveiro que chegou em 40 minutos minha casa”.

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