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Supermercados podem ter disparada nos preços se combustível continuar a subir, diz especialista

Rovena Rosa/Agência Brasil
Bnews - Divulgação Rovena Rosa/Agência Brasil

Publicado em 29/10/2021, às 06h50   Lucas Pacheco


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O litro da gasolina sofreu um aumento de 7,04% nas refinarias e o óleo diesel de 9,15%, na última terça-feira (26). Esse foi o segundo reajuste somente agora no mês de outubro. Com esse novo aumento, a gasolina acumula alta de 73% no ano e o diesel de 65,3%. A justificativa da Petrobras é que as alterações nos preços garantem que o mercado continue sendo atendido e sem riscos de desabastecimento. O economista João Victor Moreira, ouvido pelo BNews, explicou como o consumidor sente no bolso a alta nos combustíveis para além da hora de abastecer seu carro.

Segundo o economista, ainda não é possível prever se já chegamos ao máximo de elevações ou se teremos mais aumento ainda esse ano.

“O Petróleo está vivenciando o período de máximas históricas, está batendo máxima atrás de máxima por conta de alguns fatores específicos, mas principalmente, pela demanda reprimida causada por conta da pandemia. Dito isso, o petróleo, ele é cotado mundialmente através do dólar que é o principal lastro mundial. E o dólar no Brasil, infelizmente, está em um patamar muito acima comparado ao real. O Brasil está prejudicado, os próprios efeitos da pandemia também, uma falta de governança muito mais assertiva, o que acaba assustando investidores. E um efeito que preponderou bastante nessa alta do dólar foi o movimento de baixa de juros que nós vivenciamos aí nos últimos dezoito meses. Quando a gente tem um ciclo de baixa de juros, é normal que alguns investidores tirem capital do nosso país e voltem a aportar no seu país. Então, se você me perguntar se é possível prever qual que será o patamar do combustível daqui a alguns meses, tudo vai depender muito de uma série de fatores, mas principalmente dessa relação do petróleo com o dólar. Lembrando que na composição do combustível, nós vamos ter lá a parcela do refino, que seria da Petrobrás, os impostos”. 

João Victor Moreira destacou que o fato de o nosso principal meio de transporte ser o rodoviário, contribui para que essas elevações no valor do combustível sejam sentidas nos preços de outros produtos e serviços. 

“Quando eu falo pra você que a gente tem uma matriz basicamente rodoviária, que a commoditie petróleo ainda é muito determinante em escala global e não só no Brasil, a gente há de convir que a alta de combustível em um país como o nosso, que depende da matriz rodoviária, ela tem fator relevante na inflação. E quando a gente chega a mensurar estatisticamente, a gente tem um dado de que cerca de 5% dos principais índices de inflação ele é composto por conta da alta combustível. Então, muito dessa inflação aí está sendo causada também pela alta do combustível. E por que isso? Se a gente tem uma cadeia global que vai depender basicamente de uma matriz rodoviária, imagine que se esse combustível está mais caro, o serviço de logística eles também se tornam mais caro. Consequentemente, a gente vai ter um impacto em todo índice de preço ao consumidor aí como um todo. Então, todos os produtos e serviços acabam sendo impactados de certa forma. Então, isso também tem prejudicado o orçamento das famílias no Brasil, tá? Diminuído a nossa confiança do consumidor. Se a gente parar pra avaliar, alguns itens essenciais básicos somente de alimentação, a gente tem dados assim alarmantes, né. E por conta disso. A alta do combustível ela tem um impacto também relevante nisso”.

Perguntando se é possível falar em uma disparada dos preços nos supermercados, por exemplo, ele foi taxativo.

“Se continuar nessa escala de aumento de combustível, sim. Agora, lembre-se que sempre às devidas proporções. Hoje, se a gente for medir isso numericamente, 5% da inflação que está sendo apresentada no mercado advém da alta dos combustíveis. Os outros 95% são uma série de outros fatores. Mas, 5% é uma parcela relevante".

Indagados se pequenas empresas, como um mercadinho de bairro, correm risco de falência por terem uma estrutura menor, ele afirmou que a possibilidade existe.

“Esses pequenos empresários foram os que mais sofreram porque eles não tinham fôlego pra enfrentar essa retração econômica. Então, eles não tiveram, primeiro, um planejamento financeiro pra isso, até porque tudo foi acontecendo muito rapidamente. A nossa geração nunca tinha vivenciado algo do tipo. E agora esse cenário de superinflação que a gente tá vivenciando, ele acaba afetando muito a gestão financeira dessas empresas. Por quê? Ou o empreendedor acaba atribuindo a inflação ao preço desse produto, adequa a sua margem e acaba, consequentemente, aumentando o seu preço ou, de certa forma, não repassa pra o consumidor final e reduz a sua margem. Se ele for fazer isso de forma muito agressiva, se a cada reajuste ele vai está sempre passando pra o consumidor final, ele que já está ferido, corre o risco de ter crise aí de demanda. Ele, consequentemente, pode perder clientes por conta disso. Em contrapartida, se ele é muito passivo em relação a esse controle de margem do negócio, ele também pode ser prejudicado, porque ele já está ferido. Então, pra o pequeno empresário que não tem uma disponibilidade de caixa, que não tem uma boa gestão financeira e, principalmente, já está ferido de um ciclo pandêmico, pode sim, com certeza, ser um fator determinante.

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