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Economista-chefe do Banco Master comenta crescimento do PIB e faz análise sobre novas quedas da taxa Selic

Divulgação // Banco Master
Para Paulo Gala, taxa Selic deve seguir tendência da última divulgação e cair mais 0,5%  |   Bnews - Divulgação Divulgação // Banco Master
Rafael Albuquerque

por Rafael Albuquerque

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Publicado em 12/09/2023, às 06h00


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Economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala concedeu entrevista ao BNews e falou sobre pontos importantes da macroeconomia. Membro de uma das instituições bancárias mais respeitadas do segmento, que apresentou lucro de R$ 290,55 milhões no primeiro semestre deste ano, com alta de 384% em relação ao mesmo período do ano passado, o economista fez um balanço da maroeconomia.


PIB 

Mestre e Doutor em Economia pela Fundação Getúlio Vargas em São Paulo e ex-pesquisador visitante nas Universidades de Cambridge UK e Columbia NY, Paulo afirmou que o PIB brasileiro surpreendeu a todos e explicou o que caracterizou o crescimento atual e o anterior. 


"O PIB do segundo trimestre veio bem acima do esperado. O esperado era 0,3% e veio 0,9%. Surpereendeu a todos, todo mundo errou. Aconteceu a mesma coisa no primeiro trimestre, só que o destaque do primeiro trimestre foi o setor agro, que cresceu mais de 10%, e a suspresa nesse segundo trimestre foi a indústria extrativista, que cresceu mais de 1% com destaque pra petróleo, gás e mineração", destacou. 


O economista também salientou a importância do destaque do país na produção de commodities: "A parte de commodities da economia brasileira vai muito bem. É impressionante o Brasil já entre os 10 maiores produtores de petróleo do mundo; tem todos os minerais da transição energética para fazer baterias de carro, tem lithium, cobalto, tudo o que precisa pra fazer essas baterias. Então, o Brasil está muito bem posicionado e está aparecendo nos números tudo isso". 


Diante dos fatos já citados e de outros aspectos, como o consumo das famílias e investimento, Paulo Gala projeta que o PIB desse ano deve crescer pelo menos 3%. "Então essa foi a surpresa positiva, além de todos os componentes da chamada demanda agregada, que subiram, o consumo das família subiu, o investimento subiu um pouquinho, e o setor de serviços financeiros foi muito forte. Com isso, o PIB desse ano deve crescer pelo menos 3%. A gente está engrenando numa tendência muito boa, apesar da taxa de juros ainda muito elevada. O crescimento do primeiro trimestre e do segundo trimestre está ligado a setores que não tem nada a ver com taxa de juros, porque o agro tem o Plano Safra com seu próprio financiamento e as grandes empresas do extrativismo se financiam no mercado mundial, com destaque para a Vale, mas também a CSN e muitas outras", afirmou ao BNews. 

TAXA SELIC

O corte de meio ponto percentual na taxa de juro também foi um ponto que surpreendeu a muitos especialistas. O impacto da taxa básica de juros incide, sobretudo, "o coração do consumo e do crédito", aponta Paulo. 


"Esse setor está se expandido, mais ainda de maneira lenta, e é o setor que vai ser beneficiado com o corte de juros a partir do segundo semestre. Então, o que a gente deve ver mais pra frente é o aumento do crescimento do PIB de consumo das famílias, principalmente, com cortes da Selic, e o investimento que cresceu só 0,1, mas ainda está muito penalizado com essa Selic altíssima. Conforme a Selic vai caindo, o investimento deve aumentar", destacou.


Questionado sobre sua opinião acerca da política fiscal do governo Lula, Paulo Gala fez um raio-x da atual gestão: "a estratégia de política econômica e fiscal do governo está bem clara. Ele quer cortar juros, e pra isso ele vai tentar segurara gastos e aumentar a receita. A ideia do ano que vem é atingir um primário zerado, o que não está fácil, a gente tá com um déficit de quase R$ 50 bilhões. Mas é importante lembrar que a gente teve um déficit primário de R$ 800 bilhões na pandemia. E a média dos últimos 5, 6 anos tem sido um déficit de R$ 100 bilhões a R$ 150 bilhões. Mesmo com déficit de R$ 100 bilhões no ano que vem a gente ficaria dentro da média, mas acho que é possível chegar no zero, mas não é fácil. Um déficit primário de R$ 50 bilhões é bastante possível. E a ideia do governo é não sobrecarregar a economia com gasto fiscal para abrir espaço para o Banco Central cortar juros. Me surpreendeu esse corte já de 0,5% na primeira reunião do ciclo de afrouxamento, minha visão era de que eles iam cortar 0,25%". 

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PERPECTIVA

O Comitê de Política Monetária (Copom) fará sua próxima reunião nos dias 19 e 20 de setembro para discutir os rumos da taxa Selic e a situação econômica do Brasil. Para o economista-chefe do Banco Master, a tendência é que se mantenha a queda de 0,5% na taxa de juros nas próximas reuniões.


"O Campos Neto deu o voto de minerva para começar cortando 0,5%, e acho que eles vão nesse ritmo de 0,5% até o final do ano. A Selic deve terminar o ano em 11,75% e ano que vem cair até um pouquinho abaixo dos 10%, e acho que abre uma discussão sobre o ponto final da Selic. E aí talvez voltem a surgir divergências entre os diretores do Banco Central sobre onde parar a taxa Selic. Se para no 10%, no 9%, no 9,5%. Vão ter votos dissidentes, não será unânime. Na minha visão deve ir abaixo do 10%, talvez pare no 9%", destacou.


Apesar da previsão, Paulo afirmou que a definição da taxa de juros depende de outros fatos: "acho que está em aberto e depende dos dados da inflação. Mas claro que se a economia acelerar um pouco, a trajetória de inflação fica mais pressionada. Pra esse ano, as expectativas já começaram a voltar pra um IPCA mais próximo de 5%. Petróleo está em 88 dólares o brent, e isso dificulta. A Petrobrás fez uma alta importante de diesel e de gasolina, o que também penaliza a trajetória da inflação. Acho que não muda o cenário do corte de juros para já, continuam os cortes de 0,5%, mas acho que o ponto chave vai ser onde que a gente termina esse ciclo de afrouxamento da Selic. Essa será a próxima grande discussão, de onde que a Selic para, considerando que a inflação está longe da meta". 


Para Paulo Gala, a inflação no patamar de 3,5% no próximo ano deve fazer com que a taxa de juros ainda se mantenha elevada. A expectativa é de uma política monetária contracionista em 2024: "Na verdade, a expectativa de inflação pra o ano que vem é de 3,5%. Mas a meta é de 3%. Não está fácil atingir essa meta contínua de 3%, a inflação está mais com cara de estar rodando nos 3,5%. Isso deve fazer com que o Banco Central ainda deixe a Selic num nível relativamente elevado, no 9% ou 9,5%. Segundo a conta de juro neutro do Banco Central, que é aquela que não acelera a inflação, se o juro neutro estiver em 4% a inflação ficar em 3,5%, nós estamos falando em 7,5% de Selic. Então a Selic a 9,5 seria ainda acima do juro neutro. Ou seja, deixaria a política monetária em um território contracionista, penalizando a atividade econômica com juro alto". 


Questionado sobre o provável cenário econômico para o próximo ano, o economista destacou o seguinte: "Acho que esse é o cenário mais provável com a Fazenda correndo atrás de receitas e tentando zerar o déficit primário, evitando dar impulso fiscal para economia para poder dar impulso monetário, segurar o gasto público para poder cortar juros e trazer a Selic para o mínimo possível".

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