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Tiktokzação das profissões: Preciso fazer dancinha para promover meu trabalho?

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Especialistas ouvidos pelo BNews ensinam como é possível usar o Tik Tok de maneira assertiva  |   Bnews - Divulgação Ilustrativa / Pixabay
Adelia Felix

por Adelia Felix

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Publicado em 01/05/2023, às 05h00


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A tiktokzação das profissões é uma realidade. Diariamente, profissionais do marketing digital se aventuram no malabarismo de pensar e produzir conteúdo informativo, divertido e atrativo. Como falar o que preciso em um vídeo de até um minuto para o exigente e apressado público das redes sociais? A melhor saída é apostar em dancinhas com hits do momento? O aplicativo chinês, que ganhou visibilidade no início da pandemia da covid-19, se resume a mostrar o rebolado?

Ao BNews, o doutor e mestre em Comunicação e Cultura Contemporâneas, Adriano Sampaio, explica que o uso das redes sociais online por um profissional que pretende divulgar seu trabalho ou negócio requer uma comunicação estratégica. O especialista, que também é professor da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia (Facom/UFBA), destaca que é fundamental identificar e conhecer quem são os seus públicos de interesse, e, a partir disso, traçar uma estratégia de presença no mundo digital.

“Não adianta nada criar perfis em redes sociais online, principalmente, de cunho comercial, caso não seja possível manter um relacionamento contínuo com o seu público, e isso está relacionado não somente às postagens, mas também aos comentários e acompanhamento daquilo que postam os seus seguidores”, diz o professor e idealizador da Especialização em Comunicação Estratégica e Gestão de Marcas (Facom/UFBA).  

Fórmula mágica?

Mestre em Comunicação e Cultura Contemporânea pela UFBA, Grégori Castelhano expõe que plataformas como Instagram, Twitter e TikTok possuem o funcionamento baseado em sistemas algorítmicos, códigos de programação desenvolvidos para tomar decisões de forma automática. Eles decidem como distribuir esse conteúdo, ou seja, quando e quais outros usuários verão e o quanto de engajamento o conteúdo poderá alcançar.

“Decidir se é melhor publicar uma foto com um produto para ser vendido ou um reels fazendo uma ‘dancinha’ no Instagram, por exemplo, ou usar determinadas hashtags combinadas, ou legendas mais curtas, ou mais longas sobre a mesma mercadoria, tudo isso interfere na forma como os algoritmos distribuirão esse conteúdo”, detalha.

Nas mídias digitais, Castelhano destaca que cada negócio precisa entender a melhor forma de se apresentar nas redes sociais. “Fazer uma dancinha não garantirá necessariamente uma boa visibilidade ou mais curtidas. A verdade é que, se tratando de plataformas de rede social, não há nenhuma garantia de alcance ou visibilidade, nem existe uma fórmula mágica”, diz.

Quanto mais seguidores, melhor?

O publicitário Caio Costa, produtor de conteúdo, consultor e especialista em marketing digital, avalia que com a popularização das dancinhas, muita gente que empreende acredita que também precisa começar a ‘mexer as cadeiras’ na frente do celular.

“O perfil do negócio deve atrair potenciais clientes, aqueles que estarão mais interessados na solução que o produto ou serviço oferece do que na sua habilidade em dançar. Além disso, esta estratégia pode ser ruim para quem empreende, pois, ao postar vídeo com dancinha, ele pode atrair muitas pessoas que não fazem parte do público alvo”, alerta.

Costa acrescenta também que as redes sociais são fundamentais para marcar presença on-line do seu negócio, mas são “casas alugadas”, onde as regras mudam com frequência e você não tem controle sobre elas.

“Um site e blog e página da empresa no Google atraem um público mais quente, que é quem faz buscas sobre a área que você atua, são mais estáveis e não corre risco de tirarem do ar contra sua vontade”, recomenda.

Especialista em gestão da comunicação empresarial, Luiz Ribeiro, diretor da Elleva Resultados (Brasília), também reforça que não adianta marcar presença em todas as redes sociais, pois, o importante é escolher as plataformas que se adequam ao seu público-alvo e objetivos de negócio.

Tiktokzação no mercado de trabalho discutida por especialistas. Da esquerda para direita e de cima para baixo: Adriano Sampaio, Grégori Castelhano, Caio Costa, Luiz Ribeiro, Danilo Alba, Rafaela Rolemberg e Gustavo Leite. 

“É melhor ter uma presença forte e consistente em algumas redes sociais do que estar presente em muitas e não ter tempo ou recursos para gerenciá-las de forma eficaz. Faça uma pesquisa sobre onde seu público-alvo passa mais tempo e como eles interagem com as diferentes plataformas de mídia social para tomar uma decisão informada. Entenda a presença digital não como corrida de 100 metros, mas como uma maratona”, avalia.

Com quase 30 de atuação no mercado da comunicação, o especialista recomenda a contratação de uma empresa ou profissional que saiba verdadeiramente sobre gestão de imagem e reputação de marcas ou que domine de forma assertiva o marketing digital.

Nem só de dancinha vive o Tik Tok

Diretor da NoTopo.com - Estratégias Digitais (Brasília), Danilo Alba, pondera que se engana quem ainda acredita que o aplicativo chinês é apenas para mostrar o rebolado. “A Purple Metrics, por exemplo, tem 41.6K seguidores, 262.8K curtidas, no Tik Tok, e um total de zero dancinhas. As empresas estão com medo de entrarem no Tik Tok e isso está abrindo espaço para aquelas que são audaciosas desbravarem a rede primeiro. Essa rede social tem, por enquanto, um alcance orgânico gigantesco. Uma estratégia eficaz precisa ser ter uma visão de longo prazo, e quanto mais cedo começarmos, mais rápido iremos atingi-la”, diz.

Para Rafaela Rolemberg, supervisora de marketing na mesma agência, a plataforma chinesa tem crescido tanto no Brasil porque é muito fácil de usar, altamente viral e a estratégia de penetração foi de forma predominantemente orgânica. Além disso, ganhou visibilidade no início da pandemia, quando as pessoas estavam procurando formas de se manterem conectadas e entretidas enquanto passavam mais tempo em casa.

“Isso significa que a divulgação do conteúdo para uma grande massa de usuários não depende de campanhas pagas. Esta é uma grande vantagem se comparado com o Instagram, seu maior concorrente. O mesmo Instagram fazia isso no início, e o Facebook antes dele. O Brasil tem uma cultura forte de influenciadores digitais e entretenimento nas mídias sociais. Este fator torna o público brasileiro um alvo perfeito para uma estratégia de marketing de influência”, pontua.

Segundo o ceo da Concept Agência Digital (Brasília), Gustavo Leite, as redes sociais substituíram a função de entretenimento que a televisão tinha, principalmente, para os jovens. A nova geração interage, se diverte e até se informa por essas plataformas, ou seja, é uma oportunidade que precisa ser bem aproveitada.

“Não é difícil de se imaginar que um Felipe Neto tenha mais poder de influência que William Bonner. Certamente, qualquer empresa pode usar as redes sociais em seu próprio favor com conteúdo que educa pessoas para usarem seus produtos, ou gerar atenção sobre um problema específico que o usuário pode estar passando. Uma empresa pode crescer nas redes sociais oferecendo tutoriais, minicursos abertos, informação relevante e dicas, sem precisar rebolar, no seu sentido literal”, exemplifica.

Trabalho de formiguinha

Usar o marketing digital no TikTok e em outras redes sociais pode ser uma ótima maneira de aumentar o reconhecimento da sua marca e atrair mais clientes. A rede social, conforme especialistas ouvidos pela reportagem, apresenta um potencial de alcance muito grande. Pensar e produzir conteúdo para as redes sociais é um investimento a longo prazo. É preciso pensar estratégias eficientes para apresentar as qualidades de sua marca e converter seguidores em clientes.

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