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Em disparada no mês, dólar vai a R$ 4,207, recorde histórico

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É a maior cotação desde o início do Plano Real, em 1994  |   Bnews - Divulgação Reprodução/ Redes sociais

Publicado em 19/11/2019, às 08h03   Folhapress


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Em trajetória de alta desde a frustração com o leilão do pré-sal, há duas semanas, o dólar fechou esta segunda-feira (18) a R$ 4,2070, maior cotação desde o início do Plano Real, em 1994.

Se for considerada a correção pela inflação brasileira, no entanto, o valor ainda está longe do pico. Em 2002, em meio às tensões com a ascensão de Luiz Inácio Lula da Silva nas pesquisas eleitorais, o dólar chegou a R$ 4, o que corresponderia a R$ 10,80 hoje.
A ausência de empresas internacionais no leilão de petróleo do dia 6 deixou lotes sem lances e frustrou investidores, que contavam com grande entrada de dólares. Desde então, a moeda acumula alta de mais de 5%,ao subir de R$ 3,99 para quase R$ 4,21.

Nesta segunda, o dólar avançou 0,38% ante o real, terceira moeda emergente que mais se desvalorizou, atrás do peso colombiano e do rand sul-africano. Na outra ponta, o peso chileno e o argentino se recuperam depois de fortes desvalorizações nas últimas semanas.
O movimento desta segunda foi impulsionado pelo temor de investidores com o acordo comercial entre China e Estados Unidos. Os países têm negociado há meses o que chamam "fase 1" do acordo, que retiraria algumas tarifas de importação entre si. 
Segundo a rede de TV CNBC, chineses estariam pessimistas com relação ao acordo com a relutância do presidente Donald Trump em remover tarifas a importações chinesas.
"A instabilidade da América Latina pesa na cotação há algumas semanas. Hoje [segunda], isso se juntou ao mau humor do mercado, que reflete a falta de um acordo entre China e EUA", diz José Francisco de Lima, economista-chefe do Banco Fator.

Países da América Latina vivem instabilidade nas últimas semanas, com protestos no Chile, no Equador, na Bolívia e na Venezuela.  Carlos de Freitas, economista-chefe da Ativa Investimentos, aponta que também há um efeito sazonal na alta do dólar. "No último trimestre do ano temos remissão de dividendos de companhias brasileiras para investidores estrangeiros, em dólar", diz.

Com a notícia, índices acionários americanos fecharam estáveis. A Bolsa brasileira caiu 0,7%, para 106.269 pontos. O volume negociado foi R$ 27,121 bilhões, sendo que R$ 9 bilhões foram exercício de opções ​de ações.
O risco-país medido pelo CDS (Credit Default Swap) de cinco anos subiu 2,2%, para 124 pontos, maior valor desde a aprovação da reforma da Previdência em segundo turno no Senado, em 23 de outubro. 

Além dos protestos nos países vizinhos, analistas citam a saída de Jair Bolsonaro do seu partido, o PSL, como um componente de instabilidade.  No ano, há saída de mais de R$ 34,5 bilhões em investimento estrangeiro da Bolsa brasileira. É o pior saldo desde 2008, ano da crise financeira.

Segundo o relatório de câmbio contratado do Banco Central de quarta (13), o déficit de dólares na balança financeira em 2019 é de R$ 152 bilhões, superior ao total retirado no mesmo período de 2018.

Freitas aponta que, neste montante, há empresas brasileiras que emitem mais dívidas no Brasil, onde os juros estão mais baixos, em detrimento de dívidas no exterior.
A queda do juros no Brasil é outra explicação para a alta do dólar. Com a Selic na mínima histórica, a 5% ao ano, o chamado carry trade perde força. O carry trade é uma estratégia de investimento em que o ganho está na diferença do câmbio e do juros. Nele, se toma dinheiro a uma taxa de juros menor em um país para aplicá-lo em outro, com outra moeda, onde o juro é maior.

Em 2016, com a Selic a 14,25%, o diferencial entre a taxa brasileira e a americana ficou ao redor de 13,75% ao ano. Hoje, com a Selic a 5% e o juro americano a 1,5%, esse diferencial fica ao redor de 3,5%, e perde atratividade frente ao investidor estrangeiro.
Além de afetar o carry trade, o juro baixo deixa o hedge cambial —proteção contra oscilação do dólar— mais barato e vantajoso. Geralmente, essa proteção é feita por meio da compra de um contrato de dólar futuro na Bolsa brasileira, a um juro semelhante ao carry trade, de 3,5%. O valor é bem inferior a volatilidade do dólar no país, que chegou a 12% nos últimos 100 dias. Quando o investidor estrangeiro entra no país com dólares e usa o hedge para se proteger, não há impacto na cotação da moeda e o valor do dólar não cai.

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