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Uma semana após reajustes, tarifas de ônibus e metrô já pesam no bolso do trabalhador: “Muitas coisas estou tendo que reduzir”

Vagner Souza / BNews
Há uma semana, ônibus e metrô de Salvador passaram a ser R$ 0,20 mais caro   |   Bnews - Divulgação Vagner Souza / BNews

Publicado em 03/05/2021, às 23h00   Beatriz Araújo


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Em vigor há uma semana, o reajuste de R$ 0,20 no valor da tarifa de ônibus em Salvador [de R$ 4,20 para R$ 4,40], e o aumento de R$ 3,90 para R$ 4,10 na passagem do metrô começou a apresentar reflexos no bolso dos usuários do transporte coletivo. Para os trabalhadores que vivem com a renda de um salário mínimo, atualmente no valor de R$ 1.100, e que agora precisam administrar os novos gastos, a situação é ainda mais complicada.

O comerciário Marcos Aurélio Freitas, de 59 anos, relatou como esse reajuste já vem refletindo na sua renda. “O peso é significante porque a categoria dos comerciários já faz dois anos que não tem reajuste salarial e com o reajuste da passagem de ônibus, que se já estava causando impacto, agora mais ainda. Além disso, o transporte é de pior qualidade, os ônibus sempre muito cheios, uma quantidade de gente muito grande e isso impacta na qualidade de vida, no bem-estar e na saúde das pessoas”. 

Em entrevista ao BNews, o economista baiano Armando Avena analisou os impactos do aumento da passagem no bolso do soteropolitano assalariado, que precisa administrar a renda consideravelmente baixa em meio a tantos custos. 

“O reajuste no valor da tarifa foi de quase 5%, enquanto o trabalhador não teve reajuste esse ano e a inflação está comendo o salário dele. Temos uma inflação que já está em quase 4,5% se for anualizada, então ele não teve reajuste, a inflação está comendo o salário dele e o aumento da tarifa vai fazer com que ele tenha mais dificuldade ainda pra viabilizar os outros gastos”, aponta. 

Trabalhadores pegos de surpresa

O anúncio do reajuste foi feito três dias antes de entrar em vigor, o que, segundo Marcos, piorou a situação, já que não deu tempo de a população se programar.

“Com certeza eu não esperava. Esse aumento é complicado porque ele foi adiado, e quando foi anunciado, na sexta-feira à noite, pra já começar na segunda-feira, pegou realmente todo mundo de surpresa. Diante da pandemia, que as empresas estão congeladas, esse aumento de transporte pesa em mim e pesa muito em minha casa”, conta.

Impactos na renda do assalariado

Segundo as análises de Avena, esse reajuste, na verdade, vai gerar um impacto no bolso do trabalhador que terá que cortar gastos com outros itens para sustentar o aumento no valor do transporte. “Ele vai ter ainda o impacto na economia porque quando você somar o total de recursos, esse dinheiro que ia pro consumo, vai deixar de ir”, explicou.

“Então, o impacto vai ser grande tanto pro bolso do trabalhador, quanto na redução do consumo na economia como um todo. Além disso, terá um impacto grande para os desempregados, que vão ter um custo até pra se deslocar pra buscar emprego. É sem dúvida nenhuma um impacto significativo”, emendou. 

Corte de gastos para suprir aumento

Essa análise do economista já vem sendo sentida por Freitas. O comerciário relatou que já vem tendo que abdicar de outras necessidades para arcar com o novo custo aplicado ao valor da passagem de ônibus e metrô na capital baiana.

“Muitas coisas eu já estou tendo que reduzir, principalmente a alimentação. Tenho evitado uma merenda, um item a mais no café da manhã, na janta, alguma coisa que tenha um custo maior, para economizar para o transporte”, concluiu.

O economista chama ainda atenção para o aumento registrado no valor da cesta básica, que aliado ao reajuste efetuado no transporte, dificulta ainda mais a situação financeira do trabalhador. “Não vamos esquecer que a cesta de alimentos teve aumentos muito acima da inflação. Então com o aumento da inflação, mais o aumento do transporte, vai sem dúvidas reduzir mais ainda o poder de compras do trabalhador, ele vai consumir menos e vai influir na economia como um todo porque as empresas também vão sentir, já que as pessoas vão reduzir o seu consumo pra viabilizar o transporte”.   

Para Avena, o problema é ainda mais grave quando os valores são calculados. “Se você juntar esse aumento de 5% do transporte, com o aumento da cesta básica que foi mais de 10%, com uma série de aumentos de outros como habitação, etc, é uma situação muito grave para o trabalhador”, considerou o economista.

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