Educação

Ensino Médio a distância precariza educação e gera demissão de professores, analisam educadores baianos

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Se a proposta for aprovada, alunos podem ter dois dias de aulas por semana fora da sala   |   Bnews - Divulgação Reprodução

Publicado em 20/03/2018, às 12h09   Adelia Felix


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O presidente Michel Temer (MDB) quer liberar até 40% da carga horária total do Ensino Médio para ser feito a distância. Se aprovado, os alunos poderiam ter dois dias de aulas por semana fora da sala. Na educação de jovens e adultos, a proposta é permitir 100% do curso fora da sala de aula. Nesse caso, todo o conteúdo poderá ser ministrado pela internet, sem a presença dos estudantes. 

Para especialistas baianos ouvidos pelo BNews, a proposta desobriga a União e os Estados dos investimentos na educação pública, reduzindo o número de professores e fechando escolas. 

Segundo o professor Nelson Pretto, da UFBA (Universidade Federal da Bahia), pesquisador em tecnologia e educação, a proposta é um “enorme retrocesso”.

“Não por causa de termos educação a distância, ou a presença da tecnologia nas escolas, mas, principalmente, porque é um projeto nitidamente de desresponsabilização do governo brasileiro com educação pública de qualidade. Isso faz com que o estado brasileiro assuma apenas a responsabilidade pelo básico e deixe para cada estudante a responsabilidade de sua formação integral. É um absurdo e mais um crime feito no país”, lamenta.

Defensor da educação a distância, Pretto diz que o método não seria o mais adequado para alunos do Ensino Médio, além disso, ele critica a qualidade dos cursos oferecidos nessa modalidade para educação superior. “Não seria adequado para esses alunos. O aumento da oferta e da procura pela educação a distância é por um desmonte do sistema público de educação. Na Bahia, observamos outdoors anunciando cursos à distância a R$ 59. Descobriu-se que essa modalidade pode ser a galinha dos ovos de ouro, por isso investiram e ampliaram tanto a oferta de cursos a distância”, esclarece.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia (APLB), Rui Oliveira, enxerga a proposta como um “duro golpe” na educação e na qualidade do ensino. “O golpe foi dado pelo mercado financeiro. Ele [Michel Temer] tem que precarizar os serviços públicos, as relações trabalhistas, e precarizar, principalmente, a educação e saúde para que o mercado entre. O Ensino Médio a distância tira a interação que existe entre a juventude, que precisa estar sempre frente a frente com o professor, e tira milhares de professores do mercado. Não tem condições de implantar ensino a distância na educação básica. Em qualquer país de primeiro mundo isso não existe”, dispara.

O educador acredita que a proposta prejudica a formação desses estudantes. “Cidadania e educação são coisas amplas, devem ser discutidos de forma presencial. Um estudante de 16 anos está em uma formação de cidadão, precisa conviver, dialogar, fazer um antagonismo político onde ele possa construir sua opinião”, detalha. 

Rui também acrescentar que os alunos da rede pública serão os mais prejudicados. “Queremos informática e tecnologia, mas com um propósito, não como peça principal. Não vamos aceitar essa medida que vai precarizar a educação pública. A escola particular não vai fazer isso. Essa reforma do Ensino Médio prejudica os alunos pobres”.

As mudanças fazem parte de uma resolução que atualiza as Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio, atualmente em debate no Conselho Nacional de Educação (CNE). Assim como ocorreu com a parte do Ensino Infantil e Fundamental, o texto passará por audiências públicas e pode receber sugestões. As redes pública e particular terão liberdade para definir a carga horária presencial ou a distância dentro dos limites propostos. A previsão do Ministério da Educação (MEC) é de que o novo formato do currículo para esta etapa do ensino comece a ser implantado nas escolas a partir de 2019.

Segundo o Ministério da Educação (MEC), o currículo do novo Ensino Médio será norteado pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), obrigatória e comum a todas as escolas (da educação infantil ao ensino médio). 

Como será a grade curricular?

Segundo o MEC, o currículo do novo Ensino Médio será norteado pela BNCC, obrigatória e comum a todas as escolas (da educação infantil ao ensino médio). 

A BNCC definirá as competências e conhecimentos essenciais que deverão ser oferecidos a todos os estudantes na parte comum (1.800 horas), abrangendo as 4 áreas do conhecimento e todos os componentes curriculares do ensino médio definidos na LDB e nas diretrizes curriculares nacionais de educação básica. Por exemplo, a área de ciências humanas compreende história, geografia, sociologia e filosofia. 

As disciplinas obrigatórias nos 3 anos de Ensino Médio serão língua portuguesa e matemática. O restante do tempo será dedicado ao aprofundamento acadêmico nas áreas eletivas ou a cursos técnicos, a seguir: I – linguagens e suas tecnologias; II – matemática e suas tecnologias; III – ciências da natureza e suas tecnologias; IV – ciências humanas e sociais aplicadas; V – formação técnica e profissional. De acordo com o MEC, cada estado e o Distrito Federal organizarão os seus currículos considerando a BNCC e as demandas dos jovens, que terão maiores chances de fazer suas escolhas e construir seu projeto de vida.

Classificação Indicativa: Livre

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