Educação

“Meu filho estuda numa sala de aula apelidada de inferninho”

Imagem “Meu filho estuda numa sala de aula apelidada de inferninho”
Problemas na estrutura da Escola Municipal Arlete Magalhães indignam pais, alunos e professores   |   Bnews - Divulgação

Publicado em 22/03/2013, às 09h28   Marivaldo Filho (Twitter: @marivaldofilho)


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A situação da Escola Municipal Dona Arlete Magalhães, no bairro de Castelo Branco, em Salvador, reflete o estado em que se encontra grande parte das 427 escolas da rede de ensino soteropolitana. Precisou uma aluna de 11 anos levar um choque elétrico num corrimão da escola para que providências emergenciais fossem anunciadas na  instituição. Os professores e alunos da unidade decidiram paralisar as atividades até que a unidade tenha as mínimas condições de oferecer ensino para os estudantes.
Bebedouros quebrados; salas quentes e mal iluminadas; mato espalhado pela quadra esportiva; cadeiras quebradas; salas sem portas, sem mesas e até sem telhado; fios expostos e um corrimão que dá choque elétrico estão entre os principais problemas da unidade de ensino, que tem, aproximadamente, 1.600 estudantes.
Além das deficiências estruturais, os alunos e professores da Escola Dona Arlete Magalhães convivem com dois grandes antigos problemas: o contato direto com os pombos e a violência do bairro. Marginais pulam o muro da escola para assaltar educadores e estudantes.

Para sanar os problemas mais graves da estrutura da unidade de ensino, a Secretaria Municipal de Educação pediu um prazo de dez dias. Nesse período, intervenções hidráulicas e elétricas vão ser realizadas a fim de oferecer o mínimo de condições para que os alunos tenham aula. A burocracia envolvida no processo licitatório para uma reforma de grandes dimensões na escola foi a justificativa para que as obras de uma intervenção definitiva só comece no segundo semestre de 2013. 




A diretora do Sindicato dos Professores do Estado da Bahia (APLB-Sindicato), Jacilene Silva, cobrou mais celeridade no processo de reforma e criticou o estado da escola municipal. “Não é possível que uma situação chegue a este ponto. Os professores decidiram parar as atividades porque não existe, aqui, a mínima condição de oferecer um ensino de qualidade. Em situação semelhante, estão várias outras escolas da rede. Várias das 180 escolas que a Secretaria Municipal de Educação diz que foram reformadas estão quebradas”, reclamou a educadora.



“Inferninho”
O problema do calor nas salas de aula, de acordo com professores e alunos, é considerado um dos mais graves da escola municipal. Alexandra Gonçalves, mãe do estudante Alexandre, que tem deficiência visual no olho esquerdo, revelou o apelido dado pelos educadores à sala em que o filho estuda.


“Os professores chamam esta sala que meu filho estuda de ‘Inferninho’. Para mim, ‘Inferninho’ deveria ser o nome de qualquer outra coisa, menos uma sala de aula. Essa situação me deixa muito indignada. Além de extremamente quente, essa sala não tem iluminação. É escura. Meu filho que já não tem o campo visual perfeito não tem condições de aprender aqui. Queremos que os nossos direitos sejam atendidos. Não falo só pelo meu filho, estou brigando por toda a comunidade. Não é possível que uma criança tome um choque dentro da sala de aula. Estou tocando nesse corrimão porque sei que desligaram o disjuntor. Logo na escola que leva o nome da vó do prefeito ACM Neto?”, criticou Alexandra.

Muro da discórdia

A violência, inclusive dentro da escola, é apontada como outro grave problema na comunidade. De acordo com o relato da  professa Eutália França, de pais de alunos e do presidente da Associação de Moradores de Castelo Branco, Waldeck Oliveira, o muro da escola é escalado por assaltantes que invadem a unidade para roubar professores e alunos.

Os professores alegam que sem condições de segurança não há como retornar as aulas e pedem o aumento do muro. Nesta primeira fase das intervenções, de acordo o chefe de gabinete da secretaria de Educação, Eliezer Cruz, não está prevista reforma no muro.“Até porque não há nada que comprove que o aumento do muro vai realmente diminuir os índices de violência. É um problema de segurança pública. Em muitas escolas já foram feitas intervenções no sentido de aumentar o muro e a violência continuou”, justificou Eliezer Cruz.
Para tentar combater o problema da violência e do clima de insegurança da escola municipal, o chefe de gabinete anunciou que, aliado às intervenções que estão sendo feitas, novos vigilantes serão contratados para auxiliar na segurança da unidade.

1º de abril

Professores, pais de alunos e a comunidade prometeram acompanhar as obras emergências que estão sendo feitas na escola. O prazo pedido pela Secretaria de Educação expira no dia 1º de abril. De acordo com a diretora da APLB, Jacilene Silva, garantiu que, ao término das intervenções, se a unidade não oferecer as mínimas condições de ensino, “os educadores não voltarão às salas de aula”.

O chefe de gabinete Eliezer Cruz garantiu que a Secretaria de Educação fará a sua parte no acordo. "Vamos fazer a nossa parte. Depois das intervenções prontas, queremos os professores na sala de aula e não admitiremos outro tipo de conduta", avisou.

A reportagem do Bocão News também vai acompanhar de perto as obras e se as intervenções vão ser feitas dentro do prazo. No dia 1º de abril, a verdade sobre Escola Municipal Dona Arlete Magalhães novamente vai ser exposta por este site. A comunidade, os pais, os alunos, e os professores aguardam uma realidade diferente.

Nota originalmente postada às 18h do dia 22

Classificação Indicativa: 18 anos

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