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Olívia diz que é a hora de Salvador ser governado por uma liderança negra: "Temos que quebrar esse racismo estrutural"

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Deputada estadual quer realizar feito único na capital baiana, que na sua visão ainda sofre com a desigualdade social e econômica  |   Bnews - Divulgação Arquivo/BNews

Publicado em 31/08/2020, às 06h00   Luiz Felipe Fernandez


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Candidata a vice na chapa de Nelson Pellegrino e 2012, Olívia Santana tenta agora como postulante à Prefeitura, realizar um feito único na capital baiana: ser a primeira pessoa negra a governar esta "cidade negra".

Primeira mulher negra a ser eleita deputada estadual na Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA) e com experiências como secretária do município e do Estado, Olívia acredita que chegou o momento de Salvador ser administrado por uma liderança com o seu perfil.

"Olho para a cidade de maioria negra e sinto profunda vergonha de ver que negros em Salvador são apenas eleitores, nunca tiveram oportunidade de governar a cidade, não quero morrer na cidade negra que nunca foi governada por uma pessoa negra [...] queremos entrar pela porta da frente no Palácio Thomé de Souza, não para servir cafezinho, limpar o chão de quem passa, mas governar a cidade", disse a deputada durante entrevista ao Panorama Eleições 2020, do BNews TV [veja vídeo completo no final].

Ela reconhece as obras feitas pelo prefeito ACM Neto, que "arrumou a cidade", mas não contribuiu para a redução da desigualdade socioeconômica, que defende ser um dos pilares do seu projeto de gestão.

"Não podemos continuar vivendo em uma cidade que podemos até admirar as praças, ver mais arrumada, mas eu quero arrumar a vida da população, aproximar esses dois mundos", diz Olívia, que citam dados de 2015 que mostram a diferença de renda per capita em diferentes bairros.

Entre as propostas da parlamentar estão um plano de urbanização das favelas, para melhorar a infraestrutura de locais onde vivem milhares de soteropolitanos. Para isso, Olívia promete ouvir diferentes setores da sociedade, como "inteligências das universidades", técnicos e estudiosos, para decidir o que deve ser colocado em prática.

Outro ponto que Olívia promete mudar caso vença o pleito, é o acesso de pequenos e microempreendedores a linhas de crédito. Segundo a postulante do PCdoB, a política da atual gestão beneficia somente grandes empresários.

"Não dá para pensar em empreendedorismo e resolvendo o desemprego mandando o cara se virar. Temos que ter estratégia de desenvolvimento econômico, que gere, que invista, abra linhas de crédito, uma política arrojada de microcrédito que faça a economia dos pequenos girar. Não pode ser a lógica do 'você que lute'", destaca.

"Não quero que a negrada continue sendo a exceção; na academia, na política, no poder econômico. Quero que a negrada faça parte da regra e vamos ter política para enfrentar essa estrutura", complementa.

FORMAÇÃO DE CHAPA E ADVERSÁRIO POLÍTICO

Depois do deputado estadual Niltinho (PP), que chegou a confirmar o seu nome na chapa com Olívia, desistir da candidatura, o PCdoB segue aberto às indicações do partido do vice-governador João Leão. Apesar da proximidade das convenções partidárias, a pré-candidata diz não ter "pressa" para a definição.

Olívia vê com naturalidade o aceno do governador Rui Costa (PT) à candidatura de Major Denice e entende que por ora, ele tentará fazer "decolar" o nome escolhido pela sigla.

A base conta ainda com os nomes de Bacelar (Podemos), Pastor Isidório (Avante) e Eleusa Coronel (PSD).

Do outro lado, Bruno Reis (DEM) segue sozinho no centro das atenções do grupo liderado pelo atual prefeito ACM Neto (DEM). A ex-secretária diz que o foco é confrontar o "modelo de cidade" defendido por Reis.

A inclinação do DEM à candidatura de Bolsonaro, segundo Olívia, é uma marca do partido que ACM Neto agora tenta desassociar, já que Salvador "rejeitou o bolsonarismo". "Quem ama o povo não pode bancar Bolsonaro", alfineta.

A pré-candidata do PCdoB critica ainda o silêncio do prefeito sobre a morte do mestre de capoeira Moa do Katendê, assinado durante a eleição em 2018, após uma discussão política em um bar, com um apoiador do agora presidente da República.

"Quem ama o povo não pode bancar Bolsonaro. Salvador disse não ao bolsonarismo, deu uma votação esplêndida para o adversário de Bolsonaro, a nossa chapa Haddad-Manuela. Salvador não tem esse viés militarista, reacionário, fascista, que o governo de Bolsonaro tem", diz a deputada, que reforça que o desejo do presidente era propor uma auxílio-emergencial de R$ 200,00 em meio à pandemia, valor que foi alterado para R$ 600,00, segundo Olívia, graças ao empenho dos parlamentares de esquerda no Congresso.

"Ele [Neto] fica apoiando esse cara [Bolsonaro]. Tenho na minha cabeça uma linha que separa a civilização da barbárie. E fiquei muito perplexa quando mestre Moa foi assassinado, que não vi um pronunciamento público, um gesto de luto por parte do prefeito. A gente não pode lavar as mãos para a violência, extremismo, esse tipo de prática onde a violência substitui a razão", afirma.

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