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Mulher que denunciou Felipe Prior relembra estupro e desabafa: 'senti uma dor que nunca senti antes'; veja vídeo

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Vítima relembra estupro após condenação de ex-BBB pela Justiça de São Paulo  |   Bnews - Divulgação Reprodução/Instagram @felipeprior
Milena Ribeiro

por Milena Ribeiro

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Publicado em 17/07/2023, às 08h02


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A Justiça de São Paulo condenou o ex-BBB e arquiteto, Felipe Prior, no dia 8 de julho, a seis anos de reclusão pelo crime de estupro. A vítima de Prior abriu o jogo em entrevista e relembrou o caso. Os advogados do arquiteto ainda podem recorrer da decisão judicial.

A mulher que denunciou o ex-BBB preferiu não se identificar, mas sua defesa criou o nome fictício - Themis - para preservar a vítima. Em entrevista exclusiva ao G1 e ao Fantástico, da Rede Globo, ela deu detalhes do ocorrido.

Como se conheceram

Themis explicou que conheceu Prior durante o colégio, quando estudaram um ano juntos na unidade escolar. Depois, eles voltaram a conviver quando ingressaram no curso de arquitetura da Universidade Presbiteriana Mackenzie, no Centro da capital paulista. Apesar disso, ela pontuou que eles nunca foram amigos e que cursavam períodos diferentes.

"A gente começou a ter contato por conta de uma colega minha, de sala, que também estudava na Zona Norte, né? Todos nós morávamos na Zona Norte. Ela conversou com ele e sugeriu de a gente fazer um esquema de caronas pagas, já que a gente morava perto", contou.

O esquema durou seis meses e se encerrou por incompatibilidade de horários de trabalho de ambos.

"O Prior não é o tipo de homem que eu me sinto atraída. Eu nunca tive nenhum interesse nele. Ele é uma pessoa que nem como homem nem como amigo me interessa. Ele sempre teve um perfil na faculdade e escola de ofender as pessoas, [fazer] piadas de mau gosto, sabe?", relembrou.

O dia do crime

O caso aconteceu no dia 8 de agosto de 2014, quando Themis foi a uma festa universitária com uma amiga. Ambas tinham terminado seus respectivos namoros e quiseram "curtir uma fossa" juntas. O evento aconteceu na Cidade Universitária da Universidade de São Paulo (USP).

"A gente bebeu, eu tinha terminado o namoro fazia uns dois, três meses. Ela também tinha terminado o namoro recentemente. A gente estava meio curtindo uma fossa, mas estávamos juntas", disse.

"Na hora de ir embora, cruzei com o Prior e falei: 'Ah, oi, tudo bem? Mas já estou indo embora'. E ele: 'Ah, também tô indo, você quer uma carona?'. Aí falei: 'Tá bom'. Minha amiga também morava na Zona Norte", acrescentou.

Para a vítima, não teria risco aceitar a carona já que ela conhecia Prior há muito tempo. "Eu já tinha pegado carona com ele diversas vezes, não me parecia um risco, que algo pudesse acontecer", contou.

Na madrugada

"A gente estava voltando da festa, ele deixou primeiro a minha amiga na casa dela. Quando a gente estava indo sentido à minha casa, ele parou o carro no meio da rua, desafivelou meu cinto, começou a me beijar. A rua estava muito escura, já era de madrugada. Ele foi para o banco de trás e me puxou. E eu fui", relembrou Themis.

"Começou a tirar minha roupa e, à medida que as coisas iam acontecendo, ele se tornava cada vez mais agressivo comigo. Eu falei 'Felipe, eu não quero, não quero', e ele continuou insistindo, continuou tirando a minha roupa e começou a penetração. Cada vez que eu falava que eu não queria, ele se tornava mais agressivo. Eu comecei a tentar resistir fisicamente, e ele começou a puxar meu cabelo. Começava a me segurar pelos braços, me segurar pela cintura. Proferiu umas frases muito... Passaram 9 anos e, tipo... Ele começou a falar para eu parar de me fazer de difícil, que é claro que eu queria, que agora não era hora de falar que não e começou a forçar a penetração", relatou ela durante a entrevista.

"Quantas vezes eu preciso falar não para a pessoa entender que ela está me machucando, que ela está me violentando?", questionou. 

Themis ainda comentou sobre a dilaceração que teve na vagina, que foi confirmada por um laudo médico. Segundo o prontuário registrado em 2014, anexado ao processo, ela sofreu laceração de grau 1 no pequeno lábio vaginal.

"E aconteceu a laceração, que foi bem doloroso. Eu gritei. Começou a sair muito sangue. E eu comecei a gritar de dor, e aí ele parou imediatamente, falou: 'O quê que é isso?  E eu, tipo, não sabia o que estava acontecendo, estava muito assustada. Só fui pegando minhas roupas e tentando estancar o sangue. Aí ele perguntou se eu queria ir para o hospital. Falei que não, que eu só queria ir para minha casa", contou.

"Ele é muito mais forte que eu. Não tinha como sair dessa situação... De madrugada, bêbada, com pressão baixa, e ele controlando o meu corpo, os meus movimentos, fazendo o que ele queria fazer, sabe? Você só quer que aquela situação acabe", acrescentou.

"[Ver o sangue]  foi o susto que ele teve que levar para parar a situação. Fez uma poça de sangue no carro dele, nele. Sinceramente, acho que ele ficou mais preocupado com o carro dele do que comigo. Depois, ele foi para o porta-malas, ficou pegando pano e tentando limpar o carro. Eu tampei minha ferida com as minhas roupas. Eu senti uma dor que eu nunca senti antes".

Após o crime

Themis foi para casa e pediu ajuda a mãe, já que não conseguia estancar o sangue sozinha porque estava com a pressão baixa. "Fui acordar minha mãe e pedi para ela me ajudar. Ela deu uma olhada no machucado, levantou e falou: 'A gente vai para o hospital'", relembrou.

De acordo com a vítima, a médica perguntou diversas vezes o que tinha, de fato, acontecido, mas ela preferiu falar que foi um namorado. "Eu estava com vergonha, medo", disse.

No dia seguinte, Prior teria mandado uma mensagem para Themis perguntando como ela estava. A vítima aproveitou a situação para pedir que ele não contasse a ninguém o que tinha acontecido. "E a gente nunca mais se falou. Essa foi a última vez que a gente se falou. Na vida", afirmou.

Quando caiu a ficha do estupro

"Em 2017, se não me engano, começou um movimento do Me Too, que bombou na internet. Eu comecei a entrar em contato com todos esses relatos, essas denúncias de mulheres, e consegui conversar com as minhas amigas sobre isso. Foi quando caiu a ficha que eu tinha sido estuprada", disse Themis. 

"Foi quando realmente caiu a ficha de que não era minha culpa. Que não era minha responsabilidade. Que eu não tinha feito nada de errado e que ele tinha me estuprado", pontuou.

BBB 20 e denúncia

Um dos nomes mais marcantes do reality show brasileiro, Felipe Prior foi o 10º eliminado do Big Brother Brasil 20, em um paredão mais votado da história do programa, com mais de 1,5 bilhão de votos. Naquele momento, o arquiteto já havia conqusitado diversos fãs com sua aparição na televisão, mas em Themis a sua imagem despertou diversos gatilhos.

"Eu tive uma crise de ansiedade esse dia. Eu estava com meu companheiro, que hoje é meu marido. Vi o rosto dele [Prior] pela primeira vez em muitos anos. Tudo o que remetia a ele, eu apaguei da minha vida. E eu vi o rosto dele, aquilo me causou um choque muito grande, um medo de novo", disse.

A decisão de denunciar Prior depois de seis anos, de acordo com ela, foi quando ela começou a receber das amigas prints de tuítes de outras mulheres relatando situações semelhantes com o ex-BBB.

"Parece um absurdo hoje, quando eu olho para trás, pensar que eu achava que eu tinha sido a única pessoa que tivesse passado por isso. Quando vi todos os relatos, as denúncias, aquilo me chocou de tal forma que eu falei: 'Esse cara tem que ser denunciado. Esse cara tem que pagar pelos crimes que ele cometeu", destacou.

Condenação de Prior

A vítima contou que se sentiu aliviada depois de saber da condenação de Prior. "Confio muito na capacidade das minhas advogadas, todo o trabalho que elas fizeram nesses três anos e meio, mas eu tinha medo de perder esse processo pelo contexto que a gente está vivendo no mundo", revelou.

"Foi uma vitória. Não só para mim, foi uma vitória para todas as mulheres que também passam e passaram por essas situações. A justiça foi feita", disse.

As advogadas de Themis, Maira Pinheiro e Juliana Valente, além do processo em que Prior foi condenado, atuam em outros três casos de estupro, ocorridos em 2015, 2016 e 2018, em que o arquiteto é investigado.

Confira vídeo:

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