Cultura

Minissérie sobre Menudo ignora os escândalos e só vai conquistar ex-fãs do grupo

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Atração disponível no streaming cobre os 20 anos em que a banda existiu de maneira ininterrupta, de 1977 a 1997  |   Bnews - Divulgação Divulgação / Amazon

Publicado em 06/12/2020, às 07h45   Tony Goes, Folhapress


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Em 1984, um fenômeno pop que já consumia toda a América Latina chegou ao Brasil com força total. Cantando musiquinhas grudentas em português com sotaque, a boy band portorriquenha Menudo enlouqueceu crianças e adolescentes por aqui.

Foi, literalmente, um massacre. Duas pessoas morreram pisoteadas durante o show do grupo no estádio São Januário, no Rio de Janeiro, em março de 1985. O lugar comportava 60 mil espectadores. Dos 130 mil que compraram ingresso, segundo os próprios organizadores do espetáculo, 80 mil conseguiram entrar. Deu no que deu.

Este episódio dramático é contado na minissérie “Súbete a Mi Moto”. Serve até de gancho para um dos 15 episódios, mas não é explorado a fundo. Como quase tudo nesta produção, recebe uma abordagem superficial, que em nenhum momento questiona a integridade do verdadeiro protagonista do programa, o empresário Edgardo Díaz.

“Súbete a Mi Moto” cobre os 20 anos em que o Menudo, ou miúdo, em espanhol, existiu de maneira ininterrupta, de 1977 a 1997. A série ostenta exuberante riqueza de detalhes, além de várias perucas assustadoras, mas também passa ao largo das muitas denúncias de exploração de trabalho infantil e abuso sexual.

É uma versão chapa-branca da história de um grupo que marcou a infância de milhões de garotas, hoje mulheres idosas. É só a elas que “Súbete a Mi Moto” se dirige.

O roteiro até tenta mostrar o ponto de vista das fãs. A ação se passa em dois tempos diferentes. No passado, vemos o ambicioso Edgardo Díaz, papel de Yamil Urena, buscando uma fórmula infalível de sucesso, depois de alguns fracassos musicais. O conceito a que ele chega era revolucionário para a época e cruel até hoje —um grupo vocal com elenco rotativo. Ao completar 16 anos, o integrante sai sem a menor cerimônia e é substituído por outro, mais jovem. Foram 33 ao todo.

No presente, um Edgardo envelhecido, vivido por Braulio Castillo, dá entrevista à blogueira mexicana Julieta, papel de Josette Vidal, numa trama paralela ficcional. A adolescente está desobedecendo à mãe, Renata, vivida por Rocío Verdejo, que foi uma fã do Menudo, mas hoje quer que a filha se afaste de qualquer coisa que tenha a ver com a banda. Por quê? O segredo não é dos mais convincentes.

Mais interessante é ver o processo de seleção de novos membros. Ricky Martin —o único que emplacou uma carreira solo de sucesso mundial— só é aprovado no terceiro teste, porque antes ainda era pequeno demais. Mas passa a dominar a cena desde logo, como se tivesse nascido pronto. Martin também é o único Menudo a ser interpretado por dois atores, em idades diferentes, Ricardo Alavarez e Felipe Albors.

Mesmo sendo um produto de nicho, “Súbete a Mi Moto” poderia ter um alcance maior no Brasil, se a plataforma de streaming não tivesse mantido o título original, que também é o nome de uma canção do grupo. Muito mais apropriado para nós seria “Não se Reprima”, o maior hit que o Menudo teve por aqui.

Classificação Indicativa: Livre

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