Entrevista

Movimento norte-americano contra agenda ESG ganha espaço e especialista responde se pode afetar o Brasil

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O movimento acredita que a agenda ESG não deve interferir na gestão das empresas visando, em primeiro lugar, o lucro  |   Bnews - Divulgação Shutterstock/ Divulgação
Letícia Rastelly

por Letícia Rastelly

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Publicado em 22/07/2023, às 06h00 - Atualizado em 28/07/2023, às 11h37


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Enquanto no Brasil há uma crescente busca por implantar a agenda ESG nos espaços corporativos, nos Estados Unidos há uma um movimento contra a agenda, que atua junto ao ambiente, responsabilidade social e governança.

Acontece que apesar de ser unanimidade entre os especialistas, há um grupo que acredita que tais pautas não devem interferir na gestão das empresas que visam, em primeiro lugar, o lucro. Desse modo, já há relatos de empresas que acabaram suavizando seus compromissos com ESG naquele país.

“Os defensores do movimento anti-ESG, entendem que bancos, gestores de ativos e empresas usam de sua influência e poder econômico para impor uma ideologia progressista. É fruto da polarização que domina o mundo nos últimos anos, em especial quanto às ideologias, estilo de vida e hábitos de consumo”, explica Augusto Cruz, mestre em Direito, Governança e Políticas Públicas, especialista em ESG.

Essa realidade não está tão distante. No Brasil, já há um movimento contrário à implantação da ESG. De acordo com Augusto, no país, esse grupo é formando por conservadores e de extrema direita, “que foi instalado no Poder Executivo anterior ao atual e em um Congresso com forte viés conservador que não foi renovado nas últimas eleições”. O impacto disso, também é descrito pelo especialista.

“O ideal anti-ESG impacta no Brasil, uma vez que leis e regulamentos relacionados à proteção ambiental e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, bem como destinadas para a redução das desigualdades sociais e regionais, proteção aos trabalhadores e consumidores e de promoção da diversidade e inclusão, podem encontrar óbice no Congresso”, detalha Cruz.

augusto

Augusto Cruz é mestre em Direito, Governança e Políticas Públicas pela Universidade Salvador, pós-graduado em Política e Estratégia pela Universidade do Estado da Bahia e professor da Universidade Salvador (UNIFACS), além de especialista em ESG e Sustentabilidade.

O movimento contrário a ESG era esperado, já que para algumas empresas isso é sinônimo de uma mudança total. “ESG diz respeito a dinheiro. Muito dinheiro. Uma empresa que não quer adotar boas práticas em governança corporativa, demonstra que não é transparente e que não possui um sistema de conformidade para combater a corrupção e proteger o negócio de práticas espúrias. De igual sorte, as questões ambientais e sociais requerem investimento, por vezes sem retorno financeiro imediato. Adotar o discurso de que ESG é uma pauta da “esquerda” é uma forma de maus empresários justificarem um modelo de gestão ultrapassado e temerário”, explana Cruz.

Em tempo, expansão

Enquanto há um grupo que tenta boicotar a agenda ESG, ela segue crescendo em todo o mundo, inclusive no Brasil. Se trata de um caminho com um alto impacto nas mudanças climáticas, por exemplo. “As instituições financeiras concluíram que empresas que adotam boas práticas em governança corporativa, visam mitigar seus impactos sociais e ambientais, oferecem menor risco para o investimento”, conta Cruz.

O especialista também evidencia a ascensão no mercado das gerações Y e Z, que têm uma preocupação maior com questões sociais e ambientais, o que faz as empresas se adaptarem e mudarem os seus respectivos discursos para atrair essa geração, seja como funcionários, consumidores ou mesmo investidores.

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