Presidente da CBPM, Carballal comenta cenário da mineração na Bahia e afirma: “Riqueza precisa ser repartida”

“A riqueza que é gerada precisa ser repartida, precisa ser compartilhada”, é o que defende o presidente da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), Henrique Carballal, ao comentar sobre o atual cenário do setor na Bahia. Em entrevista à reportagem do BNews, o atual gestor da pasta falou sobre assuntos como as mudanças do governo estadual na condução da atividade econômica e industrial na Bahia, bem como os desafios e projetos em andamento para a mineração no estado.

Confira a entrevista na íntegra:

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BNews: A Bahia, de fato, é a bola da vez na mineração? E por quê?
Henrique Carballal: a Bahia é o terceiro estado de produção mineral do Brasil, o primeiro é Minas e depois é o Pará, mas a Bahia possui, por suas características geológicas, uma multiplicidade de minerais, e essa multiplicidade de minerais nos coloca numa posição estratégica desse momento que vivemos. O mundo cada vez mais aperta a questão da necessidade de transição energética. O aquecimento global, que é uma realidade a olho nu, antigamente era uma tese cientifica, hoje é uma realidade vivida por populações que sentem na pele, na vida, no dia a dia, os efeitos da mudança climática. Como isso é uma realidade e o mundo hoje, mais do que nunca, se preocupa, então, a Bahia se coloca num cenário extremante favorável porque não existe transição energética sem minerais, não existe substituição de carbono na atmosfera sem minerais. Então, os minerais da transição energética, nós temos na Bahia, em grande quantidade e em grande qualidade no potencial que esses minerais têm, na incidência que eles possuem.

É exatamente aí que nós precisamos construir as políticas de desenvolvimento da exploração mineral, respeitando os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas (ONU), e respeitando as políticas ESG. Nós não temos o direito de nos permitir não aproveitar esse momento para desenvolver economicamente a Bahia através exatamente da exploração mineral desses minérios estratégicos.

Agora, em função de uma determinação do governador Jerônimo Rodrigues, nós não seremos um estado que irá produzir minerais para a elaboração de commodities para ser enviado para fora do País. A determinação do governador é de que nós trabalhemos para que esses minerais possam ser reaproveitados na própria Bahia, processados aqui, transformados aqui.

BNews: Quais projetos a CBPM tem em prática para o futuro da mineração na Bahia?
Henrique Carballal: Nós já estamos licitando uma área aqui na Bahia de produção de silício, onde na nossa licitação, nós já estabelecemos que para uma explorar esse silício, essa empresa terá, obrigatoriamente, que implantar uma indústria para processamento desse silício, no próprio estado, inclusive.

Tinha uma licitação em curso de calcário aqui na região de Jacobina, eu suspendi a licitação exatamente porque na licitação, quando eu cheguei, ela [a empresa] previa apenas entregar a mina. Nós suspendemos porque nós só vamos entregar a mina desde que seja instalada uma indústria de cimento porque o calcário, especificamente esse de Jacobina, é um calcário para a produção de cimento, então nós só vamos entregar para quem implantar a indústria de cimento. Então, essa é a política que o governador determina que a gente adote para garantir o desenvolvimento da Bahia de forma integral.

BNews: Qual a atual visibilidade da Bahia no cenário nacional da mineração?
Henrique Carballal: É a primeira vez que nós fomos palestrantes na Exposibram. A Bahia já começa a aparecer no cenário quando o presidente da CBPM já vira expositor. Nós não tivemos um stand da CBPM na feira não foi porque nós queríamos, mas porque a gestão atual não teve tempo de montar, mas todos as próximas Exposibram's, a CBPM terá um stand lá para nós podermos mostrar todos os nossos serviços.

A CBPM, por determinação do governador Jerônimo, não será apenas uma empresa de pesquisa mineral. A CBPM hoje é uma empresa de fomento, em primeiro lugar, de pesquisa e de mineração. Nós não queremos substituir o papel da iniciativa privada, mas nós entendemos que todos os grandes projetos de mineração da Bahia se deram a partir da CBPM, então a CBPM precisa fazer parte desse processo para garantir que o interesse público esteja acima de tudo na elaboração das ações da mineração, então é por isso que a CBPM também deve ser uma empresa de mineração. Nós não podemos apenas identificar, prospectar, entregar à iniciativa privada e ficar esperando receber lotes da produção. Nós precisamos fazer parte do processo produtivo porque como nosso objetivo não é obter lucro, nosso objetivo é desenvolver economicamente o estado, nós possamos fazer parte e poder apontar as políticas públicas que respeitem a mineração, as ODSs, as políticas ESG, para que dessa forma nós tenhamos um processo produtivo moderno e que traga realmente benefícios para a população.

A CBPM será associada ao Ibram. Nós não vamos nos filiar ao Ibram, nós vamos nos associar ao Ibram. Isso também é uma grande conquista.

BNews: Quais os principais desafios da mineração na Bahia?
Henrique Carballal: Nós temos muitos desafios. A gente conseguir fazer com que a mineração não seja só uma exportadora de commodities, que ela processe, traga indústrias de alta tecnologia para a Bahia, essa é uma prioridade nossa. Preservar o meio ambiente no processo da mineração, mostrar para a população que a mineração está em tudo, as pessoas precisam enxergar a mineração.

Se você sentar à mesa, a mineração não está só no prato de louça ou nos talheres de aço, ela está na comida. Um fertilizante é feito de minerais, os animais tomam vitaminas, vacinas, produzidos a base de minerais, então, a mineração está em tudo. Nós precisamos compreender que a mineração é fundamental na vida das pessoas. Não existe nada sem mineração.

Nós precisamos trazer a população para perto da população e a população para perto da mineração. Porém, por determinação do governador, a riqueza que é gerada precisa ser repartida, precisa ser compartilhada, e ela é compartilhada exatamente quando você respeita as ODSs, quando você tem as políticas ESG, e essa é a ação norteadora da CBPM a partir de agora.