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Bahia Invisível: com 13 milhões de desempregados, ambulantes contam sobre dificuldades da profissão informal; assista

Carlos Alberto/ BNews
Bnews - Divulgação Carlos Alberto/ BNews

Publicado em 18/04/2019, às 17h42   Yasmim Barreto e Brenda Ferreira


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Levar o pão de cada dia, pagar as contas, sustentar a família, podem se tornar verdadeiros desafios para pelo menos 13, 1 milhões de trabalhadores que se encontram desempregados no Brasil, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), divulgada em março, deste ano. Quando a oportunidade e recursos financeiros são ainda mais escassos, o que resta é recorrer às ruas para vender picolé, salgadinhos ou até mesmo acessórios para celulares, como o caso de João Souza *, vendedor ambulante há cerca de seis anos. Diante disso, o BNews traz a segunda reportagem da série Bahia Invisível, para retratar a rotina e dificuldades de algumas pessoas que tentam driblar essa realidade através dos trabalhos informais.

‘’Hoje eu trabalho com picolé, mas já vendi pipoca doce, salgada, já vendi água também. Tem mais ou menos três anos que eu estou sobrevivendo do picolé. É de onde eu tiro minha renda para sustentar minha família, pagar minhas dividas, ou seja, suprir minhas necessidades’’, contou João.
Casado, pai de três filhos e avô de duas crianças, o ambulante relatou ao BNews como é o dia-a-dia de quem enfrenta a dura jornada no sol ou na chuva, nas ruas ou dentro dos coletivos. E engana-se quem pensa que as dificuldades terminam aí, os vendedores informais ainda lidam com o preconceito das pessoas. ‘’Você sabe o que é você entrar no coletivo, ser um pai de família, sou avo já, então a gente entra e vê a pessoa se escondendo, mostrando que está com medo, achando que é um marginal’’, desabafou.

Assista ao vídeo:

Além de João, o ambulante Carlos Santana *, também casado e com um filho de quatros, contou que o comércio informal é a única alternativa para conseguir pagar as despesas. ‘’ Vendo água, vendia jujuba, já vendi outras coisas também, tudo correria pra levar o pão de cada dia pra casa, porque o negócio está difícil. A única maneira de achar o pão de cada dia em Salvador é desse jeito’’.

Contudo, o rapaz, que há três anos trabalha como vendedor, destacou o sonho de conseguir um emprego que assine a carteira de trabalho: ‘’já botei currículo em tudo quanto é lugar e nunca consegui. E se ficar em casa parado é difícil, então minha correria é essa ser ambulante mesmo, porque está difícil’’. Carlos trabalha das 6h às 19h, de segunda-feira a sábado.  

Relação rodoviário X ambulante – Nos ônibus da capital baiana não é difícil se deparar a cada parada nos pontos de ônibus com um baleiro ou vendedor ambulante que pede ao motorista e cobrador para abrir a porta, contribuindo com o trabalho do ambulante e com o comércio dentro dos coletivos. No entanto, após um motorista ter sido esfaqueado por um homem, de colete [credenciado como baleiro], a relação entre os rodoviários e os ambulantes ficou estremecida. O sindicato dos Rodoviários e a Integra são a favor da proibição dos comércios dentro dos ônibus.

Para Fábio Primo, vice-presidente do sindicato dos rodoviários, essa decisão é consequência da agressão ao rodoviário: ‘’Eles não valorizaram essa relação que foi criada quando houve vários episódios de violência contra os rodoviários. Eu acho que a ponta do iceberg foi ele ser esfaqueado, além de outras atitudes de baleiros com rodoviários’’.

Ao BNews, o secretário municipal de mobilidade (Semob) Fábio Mota, que intermediou a reunião entre as partes envolvidas, informou que a Integra permanece contra a venda nos ônibus, mas ressaltou que a decisão é dos rodoviários.

No dia 11 de abril, uma nova decisão foi tomada e confirmada pelo secretário. Após reunião realizada entre a União dos Baleiros da Bahia (Unibal), Sindicato dos Rodoviários, empresários de ônibus e a prefeitura de Salvador, ficou definido que apenas baleiros credenciados poderão comercializar produtos no interior dos coletivos da capital baiana.

A reportagem procurou a União dos Baleiros (Unibal), mas até o fechamento da matéria não obteve resposta.

No entanto, João Souza destacou que não é possível afirmar que o homem que teria esfaqueado o motorista faz parte da categoria dos ambulantes. ‘’A gente tem que abrir o olho, analisar o que aconteceu, não é julgar o que um falou ou o que o outro falou não, tem que ouvir os dois lados’’. Ainda completou: ‘’Tudo bem que existe aquela lei de ‘Por causa de um todos pagam’, mas se nós formos colocar isso aí direto, na linha, na moeda certa, até os motoristas vão sofrer, porque me diga qual a classe que não tem falha? Qual a classe que não erra? Basta a gente ver todos os lados’’.  

Identificação no comércio informal – Uma das alternativas para solucionar o problema, que gira em torno dos ambulantes e rodoviários, seria que apenas os vendedores credenciados pudessem subir nos coletivos para vender seus produtos, segundo o secretário da Semob. Mas para a Integra a solução é restringir a venda aos terminais de ônibus, como já acontece.

Entretanto, vale lembrar que assessoria de comunicação da Estação da Lapa informou ao BNews que é proibido o comércio nos terminais. Apesar disso, a reportagem registrou os ambulantes trabalhando no local em diversas ocasiões.

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Questionada, a assessoria afirmou que a administração da Lapa não iria se posicionar sobre o comércio dos ambulantes, e que eles são de responsabilidade da Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop).

Para o vendedor de picolé João Souza a identificação não é a solução para dar mais segurança aos usuários dos transportes públicos e aos rodoviários. ‘’ Não só eu, mas os próprios motoristas podem dizer que não estou errado, que não tem segurança independe dele estar com colete e com crachá, que eu lhe garanto que já aconteceu atos da pessoa está com colete, com crachá e não ser dele, só usar pra fazer aquele ato dentro do ônibus’’.

Assista ao vídeo:

Opinião dos usuários – Para os soteropolitanos, a opinião é unânime: os ambulantes devem continuar exercendo suas funções dentro dos coletivos. Contudo, alguns relataram que existe a insegurança, mas não aprovam proibir o trabalho dos baleiros.  

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*Os nomes são fictícios para preservar a identidade dos personagens

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