Especial

"O Estado e todos os responsáveis devem pagar por isso", desabafa sobrevivente de tragédia em Mar Grande

Adenilson Nunes/BNews
Nesta sexta (24), dia em que a tragédia com a lancha, em Mar Grande, completa um ano, o BNews traz uma matéria especial com relatos de sobreviventes e familiares de vítimas  |   Bnews - Divulgação Adenilson Nunes/BNews

Publicado em 24/08/2018, às 19h40   Diego Vieira e Brenda Ferreira


FacebookTwitterWhatsApp

Nesta sexta-feira (24), dia em que a tragédia com a lancha Cavalo Martinho I, em Mar Grande, completa um ano, o BNews traz uma matéria especial sobre o caso. Em conversa com a reportagem, familiares das vítimas e sobreviventes relembraram os momentos de pânico durante o naufrágio e desabafaram sobre a espera de Justiça. 

Dirceu Lima, 44 anos – sobrevivente

O motorista Dirceu Lima é um dos 105 sobreviventes do acidente. No dia, ele estava indo visitar o pai em Salvador, que estava com câncer. Apesar do mau tempo e das “condições precárias das lanchas”, ele conta que não sentia medo em fazer a travessia. “No dia ventava muito, mas como tinha quase 50 anos que não havia um tipo de tragédia como essa, era natural que fizéssemos a travessia mesmo com as condições do momento”, disse. Para Dirceu, uma atitude, que poderia ser classificada como perigosa, o salvou.

“No momento que a lancha começou a balançar demais, eu me antecipei e pulei no mar junto com um colega. Mas, algumas pessoas não esperavam por isso e nesse mesmo instante a lancha virou do meu lado. Cheguei a ficar com a minha perna presa nas engrenagens dos bancos, mas consegui sair e nadei até um bote que deveria ter umas 15 pessoas”.

Apesar do desespero, ele conta que ainda conseguiu salvar outras pessoas. “Juntamos um grupo de homens que psicologicamente não se abalaram tanto. Conseguimos tirar uma senhora e um senhor de 80 anos e colocamos eles no bote”, disse.

Condutor de ambulâncias da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Mar Grande, Dirceu foi umas das vítimas atendidas no local. Ele diz que nunca imaginou chegar ao posto de trabalho naquelas circunstâncias: “Qualquer um pode ser atendido em algum setor emergencial, mas não esperava chegar aqui daquela forma. Eu consegui sair rapidamente do mar, mas teve botes que chegaram a ficar quase duas horas e meia à deriva. Eu cheguei na UPA andando. Quando eu vi o desespero de tantas vítimas que estavam piores do que eu e tantas pessoas mortas, eu achei melhor dar a minha vaga para aqueles que estavam em pior situação”, relatou.

Após um ano, o motorista também aguarda respostas. Em um apelo feito à reportagem, ele pede a condenação dos responsáveis. 

“Eu gostaria que o Estado fosse um pouco mais atencioso conosco. Espero que isso seja resolvido e que eles tomem consciência de que as pessoas não têm culpa de nada, estávamos fazendo as nossas tarefas naturalmente e não tivemos culpa nenhuma. Eles precisam tomar as decisões deles e enxergar que somos inocentes. O Estado em si e todos os responsáveis devem pagar por isso”.

Classificação Indicativa: Livre

FacebookTwitterWhatsApp