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SOS ILHA: de precariedade nas embarcações a horas de espera, passageiros relatam problemas no ferry boat

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Série do BNews vai abordar os principais problemas enfrentados por quem mora ou quem visita as ilhas de Vera Cruz e Itaparica durante o verão   |   Bnews - Divulgação Adenilson Nunes/BNews

Publicado em 20/12/2018, às 14h00   Diego Vieira


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Quando os ponteiros do relógio marcarem 19h22 nesta sexta-feira (21) daremos boas-vindas à estação mais quente do ano: o Verão. Como de costume, a época marcada por altas temperaturas atrai milhares de pessoas para as ilhas de Vera Cruz e Itaparica. Com o crescimento do número de turistas e veranistas que se deslocam para os dois municípios neste período do ano, aumenta-se também as reclamações referentes aos serviços essenciais como saneamento básico, segurança, saúde e transporte. Pensando nisso, o BNews preparou a série SOS Ilha, que vai abordar os principais problemas enfrentados por quem mora ou quem visita as localidades nesta temporada.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Vera Cruz e Itaparica possuem 42.706 e 22.114 habitantes, respectivamente. Localizadas na Região Metropolitana de Salvador, os municípios recebem visitantes da capital baiana, sobretudo nas festas de final de ano, férias escolares e Carnaval, períodos que coincidem com o da alta estação.

Na primeira matéria, o serviço do sistema ferry boat, um dos principais meios de transporte entre Salvador e as ilhas, foi alvo de diversas denúncias. Só neste final de ano, cerca de 85 mil veículos e 250 mil pessoas devem usar o sistema entre os terminais de São Joaquim e Bom Despacho. A equipe de reportagem fez a travessia no ferry Zumbi dos Palmares e conversou com passageiros que relataram insatisfações relacionadas a longa espera nas filas, precariedade no atendimento e estrutura das embarcações.

Segundo a cuidadora de idosos Conceição Cardoso, os problemas geralmente aumentam com as proximidades das festas de final e no período do carnaval. Em um grupo de mulheres que ela acabara de conhecer enquanto esperava a saída da embarcação, dona Conceição conta que para driblar a impaciência, uma das alternativas é interagir com os demais passageiros.

“Isso aqui é um inferno. Eles tinham que colocar mais ferries. A demora na fila de pedestres e de carros chega a ser algo desumano. Sem contar as latas velhas que eles colocam para a gente fazer a travessia. Os ferries Pinheiro, Maria Bethânia, Agenor Gordilho e até o Ivete e o Ana Nery estão sucateados. Acho um absurdo pagarmos caro, esperarmos tanto para ter um serviço desses”, desabafou. 

Já uma das queixas apontadas pelo marítimo Alberto Pinto é em relação a manutenção dos ferrys. Ex-funcionário do sistema de travessias, ele denuncia os serviços de preservação dos barcos e falta de uma equipe médica para atendientos de primeiros socorros. “Eles não têm uma manutenção eficiente para cuidar dessas embarcações. A manutenção é péssima. Sem contar que as duas embarcações mais novas que na verdade, de novas não tem nada, porque elas vieram de outro lugar, já chegaram aqui usadas. Além disso, tem a questão da falta de um ambulatório para atender os passageiros que passam mal durante o trajeto,” disse.

Em novembro deste ano, um homem de 82 anos morreu após passar mal dentro do ferry boat Pinheiro, logo após iniciar a travessia Ilha de Itaparica-Salvador. Testemunhas relataram que o idoso teve falta de ar e desmaiou no compartimento interno do equipamento.

A embarcação chegou a retornar para o Terminal Bom Despacho, em Vera Cruz, onde uma viatura do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) aguardava, mas o homem não resistiu.

Os ferries Zumbi dos Palmares e Dorival Caymmi foram as duas últimas aquisições do Governo do Estado para o sistema. As embarcações que chegaram da Grécia em 2014 custaram R$ 54,9 milhões aos cofres públicos. Juntos, os barcos têm capacidade para 312 veículos e 3.100 pedestres e chegaram com a esperança de desafogar a travessia, já que prometiam fazer a viagem em 35 minutos, no entanto, quatro anos depois, a realidade é diferente do que muitos usuários imaginavam. “Logo quando esse Zumbi dos Palmares chegou eu conseguia chegar do outro lado em menos de uma hora, já agora levo mais de uma hora para chegar na ilha. Haja paciência”, completou o passageiro Alberto.

Quem também reclamou do aumento no tempo da travessia foi o motorista Marcos Paulo. Segundo ele, além disso, o sistema não obedece regularmente aos intervalos das viagens de uma em uma hora.

“Recentemente eu peguei o ferry Zumbi dos Palmares e levei cerca de 1h30 só na travessia. Sem contar os dias que eles não seguem o horário. Na semana passada mesmo, eu estava em Bom Despacho e não teve o ferry de 8h.  O serviço é horrível e no Verão piora ainda mais. Período de férias escolares, feriados, Natal, Réveillon e carnaval é um inferno. Eu fico imaginando ir para a ilha. Só vou porque tenho necessidade”, contou.




O que diz a administração do ferry?

A reportagem entrou em contato com a Internacional Travessias Salvador (ITS), empresa responsável pelo sistema, que respondeu através de nota as reclamações relatadas pelos passageiors. Em relação ao tempo de espera, a ITS informou que "para atender a demandad extrad, a administração amplia o número de embarcações em trânsito e também realiza esquema de funcionamento 24 horas, realizando viagens bate-volta".

Sobre a estrutura dos barcos, a empresa explicou que "as embarcações passam por procedimentos de manutenção regular, vistorias pelos órgãos de regulação e também por docagem. Além disso, salientou que "todas as embarcações encontram-se regulares junto à Marinha, oferecendo condições adequadas de segurança aos clientes".

Já sobre o aumento no tempo do trajeto, a ITS disse que "o tempo médio de travessia de cada embarcação pode variar de acordo com as condições de navegabilidade a cada momento, como fatores naturais (vento e maré) e também os tipos de veículos embarcados". Ainda segundio a empresa, o tempo médio de travessia oscila entre 45 e 70 minutos.

Em relação ao não cumprimento dos horários estabelecidos, a administração do ferry afirmou que "o sistema funciona conforme horário regular obrigatório, com viagens realizadas de hora em hora. Para além do obrigatório, sempre que há aumento de fluxo, viagens extras são realizadas".

Operação final de ano

A Internacional Travessias Salvador (ITS) montou uma operação especial para atender a demanda prevista para o período de fim de ano, entre os dias 21 de dezembro e 9 de janeiro.

A concessionária informou que sete embarcações estarão disponíveis nos horários convencionais (de hora em hora). No terminal de São Joaquim, haverá funcionamento 24 horas entre quinta (27) e sábado (29). Em Bom Despacho, o sistema vai operar 24 horas durante terça (1º) e quinta (3), quando o fluxo deve ser grande durante o retorno das festas.

As embarcações que vão operar durante o período: Juracy Magalhães Júnior, Ivete Sangalo, Dorival Caymmi, Anna Nery, Zumbi dos Palmares, Rio Paraguaçu e Maria Bethânia.

Classificação Indicativa: Livre

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