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Sexta Santa: Sincretismo que une a comida de axé e o feriado cristão

Arquivo Pessoal
Bnews - Divulgação Arquivo Pessoal

Publicado em 02/04/2021, às 12h36   Yasmim Barreto


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Quando o mês de março começa a dar “adeus”, as movimentações para o feriado religioso da Semana Santa se iniciam e a busca pelos ingredientes que compõem a tradicional comida de dendê à mesa dos baianos também. E é através da comida, na Sexta-feira Santa, que os baianos representam de forma emblemática o sincretismo religioso e cultural que conecta a comida de axé e o feriado cristão. 

Nesta reportagem especial, o BNews traz informações históricas e religiosas sobre a construção da tradição de comer comida de dendê, que é uma cultura gastronômica das religiões de matriz africana, no feriado católico da Semana Santa.  

“Isto ocorre por causa do hibridismo cultural. Os europeus, portugueses, os homens brancos em si vão absorver essa cultura de comer comidas africanas, principalmente aqui na Bahia, que vai ser a efervescência cultural e religiosa afro-brasileira do candomblé em geral”, explicou o historiador Eryson de Souza Moreira. 

De acordo com o especialista, o hibridismo começou com a exploração e imposição do cristianismo em terras brasileiras, na Bahia e em Salvador. “Vamos entender como cultura do opressor, que vai suprimir, dizimar por hora a cultura do oprimido que foi o africano, em 1498 na África e em 1500 no Brasil com os indígenas. Assim vai chegar essa cultura cristã católica e os jesuítas vão ter um papel fundamental nesse processo de não mais de sincretismo, mas de hibridismo cultural, sobretudo religioso”, completou. 

A partir da palavra “hibridismo” é possível ter o entendimento de que os europeus, durante a exploração, também absorveram a cultura e costumes religiosos dos africanos e indígenas. Portanto, como consequência há a mistura entre as tradições cristãs e as religiões de matriz africanas. 

Para egbomi e chef de comidas afro-brasileiras Paloma Zahir esta mistura representa um ato de continuidade e resistência dos negros que vieram escravizados. Desta forma, a cultura e religiosidade africana permaneceu na história e na herança de toda a população, além de trazer suas comemorações através de seus temperos, principalmente o dendê, nas comidas. 

Afeto e Ancestralidade 

À reportagem, a proprietária do Kissanga Restaurante, localizado em Itapuã, e iniciada no candomblé há oito anos relatou sobre sua relação de afeto e ancestralidade com a comida. 

“A comida é o elo que termina ‘linkando’ tudo. Na religiosidade, principalmente nas religiões de matriz africana não existiria os atos se não houvesse comida, então é o elo de comunicação dos seres humanos e os ancestrais, os orixás. Nessa questão afetiva continua sendo para mim um elo entre as famílias, que é quando as pessoas se reúnem para trocar ideias, que na maioria das vezes, é na mesa”, disse Paloma Zahir.

Com a herança ancestral e familiar, Paloma ressaltou a importância e respeito que tem pela comida em razão da mãe ser cozinheira e dos ensinamentos adquiridos na religião.

"Sempre foi a base sustentadora da minha família, porque minha mãe é cozinheira então maior parte do sustento da casa veio através da comida e na religião através da cultura que é impressa na comida, toda a responsabilidade que temos em saber sobre qual ingrediente usar para dar ao orixá, é uma responsabilidade muito grande, uma demonstração de afeto enorme que a gente tem com os orixás. A comida sempre está envolvida, é um prazer muito grande poder usar desses conhecimentos para cultuar meus ancestrais e fazer disso também minha fonte de renda”, completou.  

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