Especial

Polícia x cidadão. Não deveria ser assim

Publicado em 15/05/2015, às 13h43   Alessandro Isabel*



Assusta os recorrentes registros de supostos envolvimentos de policiais, principalmente militares, em crimes na Bahia. O assunto é delicado e merece ser colocado na pauta de prioridade dentro da alta cúpula da Secretaria de Segurança Pública. Ações desastrosas tem manchado a imagem da corporação, pior, tem tirado a sono de muitos soldados e oficiais honestos.
Não é preciso se aprofundar no tema para perceber que o cidadão de bem observa temeroso as viaturas e fardas, quando, na verdade, deveria sentir segurança. Não vou generalizar e transformar cada policial em carrasco. Como toda profissão, existe o bom e o mau profissional. Mas, quando o profissional tem o poder de poupar e tirar uma vida, aparelhado pelo Estado, aí o problema se agiganta e ganha essa proporção.
A farda transforma e é preciso repensar o que é feito com cada pessoa que entra na academia de polícia. Ele ingressa como cidadão e sai como policial, invertendo os valores. Militar deveria ser, antes de mais nada, educado como cidadão. Psicológico abalado ao extremo e estão nas ruas. Enfrentando pressão, enfrentando um sistema falido e com um dedo no gatilho. O resultado não poderia ser outro. Execuções e abuso de autoridade. Sem chance de defesa e diálogo, nos sentimos reprimidos e acuados com abordagens violentas.
Em conversa com um amigo militar, ele se mostra chateado com o estigma que carrega. Eu também ficaria, mas a culpa não é minha. Não posso pagar pelo sistema com falhas. Embora haja resistência, sabemos da importância da polícia. Já provaram em greves o quanto fazem falta.
Para justificar o mérito da farda, o mesmo amigo me questionou sobre as ações vitoriosas militar que resultam em prisões, apreensões e vidas resgatadas. Ponto positivo. Porém, acredito que ele está ali para fazer isso. Assim como o gari limpa, o engenheiro constrói, e o professor ensina, o policial evita crimes. Cada qual com a sua importância sem precisar de medalha.
Diante do clima crescente de rivalidade entre sociedade e polícia, cabe ao secretário de segurança escutar o profissional que está na rua para saber onde mora o problema. É no bolso? Psicológico? índole? Cada questionamento desse sendo respondido é muito provável que tenhamos uma polícia mais próxima de dar um “bom dia”, ou um “tudo bem” quando passar por um trabalhador. Precisamos tanto da polícia, quanto ela precisa de nós.
*Alessandro Isabel é jornalista

Classificação Indicativa: Livre

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