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Entre a dor e a tristeza, tragédia da Fonte Nova completa 10 anos

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Um dos maiores acidentes do futebol brasileiro aconteceu em 2007; MP alertou em janeiro de 2006  |   Bnews - Divulgação Reprodução

Publicado em 25/11/2017, às 01h00   Vinícius Ribeiro



Márcia Santos Cruz, Midiã Andrade Santos, Milena Vasquez Palmeira, Jadson Celestino Araújo Silva, Djalma Lima Santos, Anísio Marques Neto e Joselito Lima Júnior. Há exatos dez anos, estes sete torcedores do Bahia tornaram-se vítimas de um dos maiores acidentes ocorridos no futebol brasileiro - que passou a ser chamado de Tragédia da Fonte Nova. 

Em 25 de novembro de 2007, aos 35 minutos do segundo tempo da partida entre Bahia e Vila Nova (GO), pouco antes das 18h, a euforia pelo acesso à Série B foi brutalmente interrompida por um buraco de 80 centímetros de largura por 5 metros de comprimento, que repentinamente se abriu em meio ao anel superior do antigo Estádio Octávio Mangabeira. Dez torcedores caíram de uma altura de aproximadamente 20 metros. Os sete citados acima não resistiram e morreram - seis deles no local. 

Ao longo da semana, torcedores do Esquadrão utilizaram as redes sociais para lembrar das vítimas. "Nunca serão esquecidos", postaram. 

Cerca de 60 mil pessoas assistiam a partida. Outras milhares aguardavam o final do jogo nos arredores do estádio. Entre a falta de informação e o frenesi pelo acesso, muitos só souberam do ocorrido horas depois. Dentro de campo, após o 0 a 0, jogadores e torcedores festejaram. Do lado de fora, na área conhecida nos guichês das bilheterias como 'acesso leste', o sentimento era de tristeza. Foi o último ato ocorrido no estádio antes de ser implodido, em 2010.

DÉCADA SILENCIOSA 

Uma década depois, a ferida aberta pelo desastre parece ainda não ter sido cicatrizada nas famílias das vítimas. "Não temos condição ainda de falar. Há dez anos que a gente não fala", disse ao BNews um dos parentes de Patrícia Vasquez Palmeira, sobrevivente da tragédia e irmã de Milena. Ao telefone, a voz que entristeceu ao saber do assunto se limitou a dizer: "a gente não quer dar entrevista, relembrar...".

Cada família foi indenizada com R$ 25 mil, com base no Estatuto de Defesa do Torcedor. Por iniciativa do governo estadual, na gestão Jaques Wagner, desde então as famílias passaram a receber mensalmente uma pensão especial.

A avaliação do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia (CREA-BA) foi taxativa: a falta de manutenção fez com que concreto e ferragens não resistissem ao peso. O então diretor-geral da Superintendência de Desportos do Estado da Bahia (Sudesb), ex-jogador e deputado estadual Bobô (PCdoB), além do engenheiro Nilo dos Santos Júnior, foram denunciados por homicídio culposo (quando não há a intenção de matar). Mais tarde, ambos seriam absolvidos da acusação pelo Tribunal de Justiça da Bahia. Procurada pelo BNews, nesta sexta-feira (24), a assessoria do TJ não se pronunciou.  

Em nota divulgada nesta semana, o Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) destacou ter atuado com afinco nas esferas cível e criminal para que os responsáveis fossem punidos."A Instituição lamenta que, transcorrida uma década do episódio que marcou a história da Bahia, ceifou sete vidas e trouxe sequelas irreversíveis para diversas famílias, a sociedade não tenha obtido a resposta esperada", diz trecho da nota. Em janeiro de 2006, o MP, através de Ação Civil Pública, pediu a interdição do estádio por causa das condições precárias do equipamento inaugurado em 1951.

A Diretoria do Bahia emitiu comunicado "se solidarizando neste momento de dor e tristeza com os familiares, amigos e colegas". Já a Federação Bahiana de Futebol (FBF) anunciou que as sete vítimas serão homenageadas - in memoriam - com um minuto de silêncio antes da partida entre Bahia e Chapecoense, na tarde deste domingo (26), na Arena Fonte Nova. 

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