Esporte

Temos que parar de romantizar falta de incentivo ao esporte, diz Edvaldo Valério

Acervo pessoal
Bnews - Divulgação Acervo pessoal

Publicado em 31/07/2021, às 14h00   Lara Curcino e Léo Sousa


FacebookTwitterWhatsApp

Medalhista olímpico, o ex-nadador baiano Edvaldo Valério criticou, em entrevista nesta sexta-feira (30) ao programa Arena BNews, o que ele chamou de “romantização da falta de incentivo ao esporte”. 

"Eu vejo muito o exemplo do Ítalo Ferreira. Isso para mim foi muito impactante. Nosso medalhista olímpico de ouro, campeão mundial de surfe, aprendeu a surfar numa prancha de isopor. E às vezes a gente acha que isso é uma história de superação. Não, não é. Isso mostra a realidade do Brasil, de falta de políticas de apoio e incentivo ao esporte. A gente precisa parar de romantizar essas questões. ‘Ítalo se superou’... Não. Isso mostra o quanto a gente ainda está atrasado. Quantos Ítalos, do surfe e de outras modalidades, a gente perdeu porque o garoto não conseguiu passar por esses perrengues por muito tempo? O Ítalo foi um cara resiliente. Mas quantos outros Ítalos a gente pode ter perdido? É essa reflexão que fica", analisou ele.

Valério, bronze em Sydney-2000 no 4x100m livres, ocupa hoje, aos 43 anos, o cargo de gerente de Esportes Aquáticos da Prefeitura de Salvador. De olho no cenário atual da natação, ele afirma que a ausência de incentivo ao esporte ainda implica diretamente nas questões sociais. 

"Se você for analisar, toda estrutura física onde se pratica o esporte está dentro dos clubes, quase sempre. E a população mais carente não tem acesso. Então como é que a gente vai dar oportunidades? A Bahia, por exemplo, sempre foi um celeiro de grandes atletas. Olha o Isaquias Queiroz, como ele começou, usando aquelas canoas sem estrutura lá do interior. Hoje Isaquias é um multicampeão. Mas imagina quanta gente nós perdemos por não ter essa estrutura mínima para que a gente potencializasse atletas", refletiu. 

Assim como as mazelas sociais, Edvaldo levanta as questões raciais como um grande problema no esporte brasileiro. 

"Eu sou o primeiro nadador negro do Brasil a ganhar uma medalha olímpica. Isso não é um motivo pra gente comemorar não. Isso é um motivo pra gente refletir. Depois de tantos anos, Edvaldo Valério foi lá e ganhou uma medalha olímpica, se tornando o primeiro nadador negro do país a fazer isso. O Brasil hoje tem uma população de 220 milhões de habitantes. 55% dessa população é negra, ou seja 120 milhões. Na Bahia, esse índice é ainda maior, 82% ou 83% da população é negra. Por que que a gente não consegue revelar um novo Edvaldo Valério diante desses números? Tem alguma coisa errada”, questionou. 

Classificação Indicativa: Livre

FacebookTwitterWhatsApp