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"Glória a ti, neste dia de Glória"

Publicado em 13/01/2012, às 14h03   Caroline Gois




Esta quinta-feira (12) marcou mais uma Lavagem do Bonfim - festa que resume o sincretismo e cultura do povo baiano. Comemorada desde o século XVIII, reuniu em mais um ano milhares de fiéis que seguiram rumo à Colina Sagrada.
Hoje, todos se vestiram de branco, a cor do orixá, e percorreram 8 km em procissão, desde o largo da Conceição até o largo do Bonfim. A lavagem, além de contar com a participação de seguidores do catolicismo, umbanda e candomblé, reúne também turistas e seguidores de festa. 
Não só considerado um evento religioso, o Bonfim se torna cada vez mais um encontro entre famílias, amigos e entre aqueles que aproveitam o dia para iniciar o carnaval. Durante todo o cortejo, foi possível perceber muitas barracas lotadas - com gente bebendo e ouvindo do pagode ao axé. Tudo isso, na base da igreja do Bonfim.
Mas, mesmo com tanta mistura entre o profano e o sagrado -  a lavagem mais abençoada da Bahia traz sempre os melhores personagens e consagra a mais forte ideia de fé e religião.
Para Antônio Carlos, morador de Massaranduba, caminhar na procissão significa sentir a paz e pedir por ela. "Trago minha filha sempre, desde que ela nasceu", disse o representante comercial. A pequena Keise Kely, de 5 anos, parecia estar à vontade com tanta gente e guiada pelo pai. "Bonfim", gritava a menina. 

Já para a baiana Georgina do Nascimento, de 85 anos, não existe cansaço para chegar até a colina. "Vou com o Senhor do Bonfim me guiando", disse a fiel, que participa do cortejo há 30 anos. 

E contrariando os que dizem que quem tem fé vai a pé, um grupo de amigos fez questão de mostrar que tem fé vai de bike. Assim, Jaime Queiroz, conhecido como O Mestre, de 62 anos, esbanjou disposição e fé para seguir à igreja sagrada. "Venho na fé e na saúde", disse o aposentado, que garantiu andar de bicicleta da Paralela até a Praia do Forte. 
Para os que inovam na procissão, sobra também tempo para protestar. "Estamos aqui para pedir desculpas também pelos nossos maus políticos que prometem e não fazem. Queremos mais ciclovias e segurança no trânsito", disseram os membros dos grupos Pedalada da Noite e Amigos da Bike.
E quanto mais nos aproximamos do portão da igreja, mais forte e visível se torna a representação da fé e devoção que leva estas milhares de pessoas ao Bonfim. Uma delas, é Gildete Santos, que há 15 anos participa do evento que, para ela, significa estar em paz. "Aqui eu lavo minha alma", disse a fiel, que chamava a atenção de todos com 
uma roupa de baiana brasileira. Dos pés à cabeça, a devota espalhava o verde, azul e amarelo em sinal de patriotismo. "Vim assim em homenagem à Dilma e ao nosso Brasil, que eu amo", completou Gildete.
Mas, entre as cerca de 300 baianas e 35 entidades, dentre elas o Muzenza, o Ilê Aiyê, os Filhos de Gandhy, grupos de samba e grupos políticos, não há como separá-los e torná-los únicos, mas sim, juntá-los num exclusivo tapete branco, que, abençoados por todos os santos com o aval do Senhor do Bonfim, seguem numa só direção.
Seja do sincretismo ao festejo, as escadarias do Bonfim foram lavadas e perfumadas com a alfazema da Bahia - que permitiram que os portões da igreja se abrissem e o povo entrasse. Fosse ele branco ou negro, idoso ou jovem, todos agarravam suas fitinhas milagrosas como se ali depositassem seus pedidos, perdões e agradecimentos. E mais uma vez, o Senhor do Bonfim e da Bahia deu-lhes 'a graça divina, da justiça e da concórdia'. 

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Nota publicada às 19h do dia 12

Classificação Indicativa: Livre

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