Dedicado a reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira, neste sábado (20) celebra-se em todo o país o Dia da Consciência Negra. A data foi escolhida por coincidir com o dia da morte de Zumbi dos Palmares, em 1695.
A celebração começou na década de 60, embora, só tenha ampliado seus eventos nos últimos anos. Até então, o movimento negro precisava se contentar com o dia 13 de maio, Abolição da Escravatura, comemoração que tem sido rejeitada por enfatizar muitas vezes a "generosidade" da princesa Isabel.
A importância de se comemorar
É na Bahia, em Salvador, que se encontra a maioria dos negros do país. Mais de 80% da população soteropolitana é formada por afro-descendentes.
Para o coordenador do Movimento Negro Unificado (MNU) em Salvador, Nilo Rosa dos Santos, a data tem uma grande importância, já que em toda a história nenhum movimento conseguiu estabelecer uma data. “Infelizmente o negro ainda precisa de datas para mostrar a dificuldade em que vive, não era para ser assim, mas é a realidade e não podemos fugir dela.”
Ainda conforme Nilo, as manifestações que acontecem durante todo o mês de novembro despertam a consciência de muitas pessoas, que assistindo aos debates e palestras realizadas em todo o país, acabam se sensibilizando e enxergando a raça de uma outra forma, com menos preconceito.
A vereadora e integrante do Fórum das Mulheres Negras e do Conselho de Promoção da Igualdade Racial, Olívia Santana (PC do B), citando o poeta Waly Salomão, diz com orgulho que a “felicidade do negro é uma felicidade guerreira.”
Ela explica que o dia 20 é uma data em que a resistência do negro à escravidão é lembrada, desde o primeiro transporte forçado de africanos para o solo brasileiro, no ano de 1594.
“ Por anos buscamos a conquista, já que não conseguimos pelo estado de direito. Buscamos a igualdade, melhores salários, educação, saúde e lutamos pelo aparato da segurança pública.”
“Em muitas vezes somos tratados como animais, como objetos que devem ser humilhados, espancados e extintos. A segurança pública precisa aprender a lidar com a nossa raça. Não é porque somos negros que podemos ser tratados de forma diferente dos demais”, ressaltou a vereadora.
Apesar da conciência negra ser uma iniciativa dos próprios negros, Olívia Santana ressalta que a luta contra o racismo deve ser tarefa de todas as pessoas, sejam elas pretas ou brancas.
Sobre os resultados das manifestações, a vereadora afirma que em sua opinião são positivos. “Mesmo que a mudanças sejam lentas, elas acontecem. Aos poucos a sociedade vai compreendendo que o Brasil é um país preconceituoso, e que essa é uma realidade que tem que mudar.
A inserção do negro no mercado de trabalho, cotas universitárias, discriminação por parte da polícia, identificação de etnias, moda e beleza negra, entre outros, são temas debatidos durante todo o mês de novembro.
A lei N.º 10.639
A lei N.º 10.639, de 9 de janeiro de 2003, incluiu o dia 20 de novembro no calendário escolar, o Dia Nacional da Consciência Negra. A mesma lei também tornou obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-brasileira. Com isso, professores devem inserir em seus programas aulas sobre a História da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional.
Programação
Sábado (20)
13h - 2ª Lavagem da Estátua de Zumbi. Começa na Praça da Cruz Caída e vai até a Praça da Sé. Logo após, haverá um ato político com a presença de autoridades e pessoas ligadas a cultura da cidade. A comemoração está prevista para encerrar as 22h com o show dos cantores Juliana Ribeiro e Lazzo.
15h – Caminhada dos blocos Afros com saída do Curuzu até o Terreiro de Jesus, no Centro Histórico.
15h – Paralela a caminhada acontecerá a Marcha de Zumbi dos Palmares, que sai do Campo Grande em direção a Praça Municipal.
Domingo (21)
9h – Caminhada contra a Intolerância Religiosa. O ponto de encontro é no fim de linha do bairro Federação, próximo ao busto de Doné Ruinhó, e vai até o Dique do Tororó.
