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Baianas de acarajé serão proibidas na areia da praia

Imagem Baianas de acarajé serão proibidas na areia da praia
Prefeitura está exigindo utilização de tendas de 2m x 2m, removíveis  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 08/09/2013, às 06h01   Redação Bocão News (Twitter: @bocaonews)


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A padronização que a Prefeitura tenta implementar entre os ambulantes tem se tornado um problema para as baianas de acarajé, principalmente para aquelas que trabalham na orla. A Secretaria de Gestão Municipal (Semop) exige que as baianas usem tendas de 2m x 2m e as mesmas sejam removíveis, o que impacta, principalmente, os pontos de vendas mais famosos, como Cira e Dinha, entre muitos outros.
Depois de encontros com representantes da secretaria, as baianas conseguiram flexibilizar a exigência, mas se sentem ainda prejudicadas e prometem ir à luta. “Temos que lidar com o vento e uma tenda que não seja fixa se torna até perigoso”, ressalta Claudia de Assis, filha de Dinha, que está à frente do ponto no Largo de Santana, no Rio Vermelho.
Depois de algumas reuniões com a secretária Rosemma Maluf, as baianas, representadas pela Associação das Baianas de Acarajé, Mingaus, Receptivos e Similares do Estado da Bahia (Abam), conseguiram, na última quarta-feira, amenizar a situação. Para as quituteiras que reconhecidamente têm um fluxo maior de clientes, será permitido o uso de uma tenda de 3 x 3. Mesmo assim, elas terão que mudar a estrutura que caracterizam seus pontos. “Além de ser pequena demais, temos que comprar tendas que não ficam fixas, para que montemos e desmontemos diariamente, o que é mais um trabalho “, aponta Claudia de Assis.
Para Jussara de Jesus, filha de Cira, cujo acarajé, vendido em Itapuã e no Rio Vermelho, é um dos mais concorridos da cidade, o formato de tenda imposto pela Semop é inviável. “Trabalho com cinco funcionários, fogão industrial e uma mesa de alumínio. Não vejo como caber essa estrutura com a qual trabalhamos há anos numa tenda de 3 x3”, disse. Apesar de descontente, ela já encomendou a tenda removível de uma empresa do Rio Grande do Sul, mas não perdeu a esperança de contornar a situação. Ela lembra ainda que a estrutura com a qual trabalha em Itapuã tem 20 anos e no Rio Vermelho, 14 anos. “Já foram, inclusive, tendas maiores, que por exigência diminuímos.
Jussara de Jesus também não concorda com a obrigação do uso de uma tenda que não seja fixa. Ela conta que mesmo presas no chão, elas não são totalmente seguras contra o vento. “Há uns quatro anos, um vento arrancou a tenda fixa e parte dela voou e quase tivemos um acidente grave”. O risco em usar as novas tendas é ressaltado também por Claudia Assis. Ela conta que já teve uma experiência com uma tenda que não era fixa e suas recordações não são as melhores. “O vento levantou a tenda e por pouco não tivemos pessoas acidentadas”, conta.
Segundo Rita Santos, presidente da Abam, a mudança impacta ao menos 50 baianas que trabalham com pontos fixos. Ela esclarece que a tenda fixa não é apenas uma solução que torna o trabalho mais cômodo, por não ter que montar e desmontar todos os dias, mas se trata também de uma escolha de segurança. “Estamos falando de um tacho cheio de óleo fervendo e de uma orla que venta muito”, lembra.
Fiscalização é constante
Representadas também pela Abam, as vendedoras de beiju estão passando pelo mesmo problema. E foi uma delas a escolhida pela Semop para mostrar que a padronização já está a todo vapor. Orlanita Cruz, proprietária do Beiju do Paço, instalado há seis anos no Largo de Santana, teve sua tenda arrancada pelos agentes da secretaria. “Eles deram a notificação, mas a Abam nos orientou a esperar pelas negociações. Mas há cerca 20 dias, eles simplesmente arrancaram a tenda e eu fui obrigada a comprar outra, removível”, conta.
Segundo Orlanita Cruz, a tenda nova, que é montada e desmontada diariamente, como lhe foi exigida, por ser muito frágil, já está rasgada. Mas não é a fragilidade da nova tenda, resolvida com a encomenda de outra à uma empresa goiana, que mais lhe incomoda. “O que me deixa triste é que sabemos que tanto nós como as baianas fazemos um trabalho bonito. Servimos de balcão de informação, representamos a cultura local, mas somos tratadas assim sem nenhum carinho”.
Ela aponta que o trabalho de montar e desmontar a tenda diariamente, além de lhe parecer um castigo, tirou a segurança que a fixa lhe proporcionava. “Agora temos que fazer beiju e ao mesmo tempo segurar a tenda para que não voe, quando o vento se apresenta”, contou.
Luta por estrutura fixa
De acordo com a presidente da Abam, Rita Santos, as baianas continuarão lutando por tenda fixas. “Somos a favor da padronização, mas devemos negociar, pois se trata de gente que vem trabalhando há décadas, oferecendo um serviço que representa a cultura local, e devem ser escutadas em mudanças como essas. Além disso, existem questões de segurança”, ressaltou.
Rita acredita que o ideal para as baianas e para a cidade é que se utilizem quiosques ao invés de tendas, ao menos na orla: “na área do antigo clube do Bahia foram colocados alguns quiosques, porque não usarmos aquele modelo para as baianas?”.
Jussara de Jesus reafirma a intenção das baianas em lutar por quiosques, ao menos para as baianas com maior demanda. Ela conta as próprias querem  arcar com os custos, o que, segundo a baiana, foi colocado para a secretária Josemma Maluf, sem que a ideia fosse acatada. “Ela fala em diferença entre as baianas, mas quem tiver mais espaço deve pagar mais. Sugeri que se poderia criar modelos de licença para baianas de pequeno, médio e grande porte”, conta. A reportagem tentou entrar em contato com a secretária Josemma Maluf para saber mais detalhes sobre o processo de padronização das tendas das baianas e vendedores de mingau. Sua assessoria informou que ela estava impossibilitada de conceder entrevistas, ontem, devido às demandas de sua pasta.

Fonte: Tribuna da Bahia


Publicada no dia 07 de setembro de 2013, às  15h03

Classificação Indicativa: Livre

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