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Após ser preso pela ditadura, idoso é readmitido em banco na Bahia 59 anos depois

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Idoso é readmitido em banco e afirma ter sofrido tortura na época da ditadura militar  |   Bnews - Divulgação Reprodução/TV Subaé

Publicado em 27/04/2023, às 19h01   Natane Ramos


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Osmar Ferreira, de 80 anos, foi readmitido em seu antigo trabalho em um banco de Feira de Santana, 59 anos após ter sido preso durante a ditadura militar. Em 1964, o idoso foi preso e torturado durante 12 dias e foi demitido pelo banco por ser acusado de ser “comunista”.

Segundo relatos de Osmar, em 1960 ele teria ingressado em seu primeiro emprego no Banco do Estado da Bahia (Baneb). Osmar chegou a fazer parte da diretoria da associação dos empregados, que em 64 virou o sindicato.

“No meu primeiro emprego, que foi no Banco da Bahia, fui convocado por um colega do Banco do Nordeste para fazer parte de uma diretoria e ajudá-lo na fundação da Associação dos Empregados em Estabelecimentos Bancários de Feira de Santana, que posteriormente veio a ser o sindicato”, explicou o bancário.

Um dia após completar 21 anos, Osmar teve sua vida transformada, quando sua carreira de bancário foi interrompida pela ditadura. O golpe militar prendeu Ferreira por ser líder, ser diretor sindical e líder de movimento trabalhista, que foram perseguidos na época.

“Eu estava trabalhando, no dia 8 de abril de 1964, quando entraram um sargento do Exército e dois sargentos da PM com metralhadoras na agência do banco, e eu fui chamado na gerência. Lá eu fui comunicado que deveria comparecer ao 1º Batalhão da Polícia Militar. Virei para o pessoal das Forças Armadas e disse: ‘podem ir, que vou terminar o meu serviço aqui e vou para lá’. Eles disseram: ‘você tem que ir agora’”, compartilhou Osmar.

De acordo com os relatos de Osmar, os 12 dias que passou preso com os militares foram traumáticos e de extrema violência. “Foram muitos tapas, muitos ‘telefones’ batendo nos ouvidos, para contar coisas que eu nem tinha conhecimento. Queriam que eu dissesse onde estavam as armas de Francisco Pinto, então prefeito de Feira. A alegação é de que eu seria comunista”, declarou.

Após ser solto pelos militares, Osmar foi demitido pelo Baneb e precisou trabalhar como caminhoneiro, junto com seu pai, para conseguir se sustentar. Além disso, o idoso foi impedido de estudar Direito por 10 anos, pelo Sistema de Segurança Nacional da época.

Após os 10 anos, Osmar conseguiu se formar em Direito e atuou 39 anos como advogado trabalhista e eleitoral. Em 2003, o Ministério da Justiça iniciou o processo de anistia, e ele conseguiu ter o reconhecimento divulgado em 2010.

Falando sobre seu retorno ao trabalho, Osmar refle sobre a importância da luta dos direitos. “Eu sei que na minha idade não existe, no Brasil, um bancário trabalhando. E eu vou cumprir a determinação judicial, esperando que algo mais venha a acontecer no futuro. É preciso lutar, porque o Brasil, desde muitos e muitos anos, desde a sua descoberta, é um país desigual e continua sendo um país desigual”, afirmou.

"Que eu sirva de exemplo para os jovens bancários da Bahia, de Feira de Santana, e do Brasil, na luta por dias melhores. Lutar sempre, não desistir jamais", concluiu Osmar.

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