Geral
Publicado em 21/02/2022, às 12h24 Yasmim Barreto
Um altar sagrado, envolvido por natureza tal qual o culto do Candomblé, localizado em Cajazeiras X, em Salvador, a Pedra de Xangô é muito mais que um monumento para o povo de axé. Nela, que representa o orixá da justiça, da verdade e do dendê: Xangô, são realizados diversos rituais e procedimentos que fazem parte das religiões de matriz africana.
Contudo, uma das mais emblemáticas tradições religiosas do Candomblé, a ‘Caminhada da Pedra de Xangô’, pode estar com os dias contados, segundo a idealizadora do evento, a Yalorixá Iara de Oxum, também diretora da Associação Pássaro das Águas.
Segundo mãe Iara, a realização da obra feita pela Secretaria Municipal de Infraestrutura e Obras Públicas (Seinfra) vai impedir a realização do osé – ritual de limpeza no Candomblé – na Pedra de Xangô durante a caminhada, que ocorre há 13 anos.
“Vem implantar este parque e esse parque não me dá mobilidade para que eu venha com carro pipa e faça osé. Esse parque é mágico para todos nós afrodescendentes, mas tira a nossa mobilidade de fazer a caminhada, levar mini-trio, de arrastar mais de 8 mil pessoas do Candomblé para louvar o sagrado”, desabafou.
“Fazem o parque e aí a gente não pode banhar o altar, banhar a pedra. Eles fecham a pedra para que gente, o povo de axé, não tenha acesso e esse é o meu desespero, meu não, do povo”, completou.
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Ainda de acordo com a zeladora espiritual, não houve comunicação entre a prefeitura e a comunidade do Candomblé sobre as obras que seriam executadas no local.
Todavia, à reportagem, Seinfra informou que as intervenções não impedem de realizar nenhum procedimento religioso na Pedra de Xangô. “A obra nunca foi sequer tapumada”, disse em nota.
Ao BNews, a pasta relatou que a intervenção é uma obra aberta e que tem como premissa a valorização cultural da matriz africana. E reiterou que houve diálogo com a comunidade local. “Todas as ações que são realizadas no entorno são previamente comunicadas e alinhadas com a comunidade local”.
“O parque é uma obra de total referência às religiões de matriz africana e tem um investimento de R$8 milhões, com intervenção urbanística em área de 67 mil m². Com as obras finalizadas, a população contará com um auditório, área administrativa, sanitários, estabelecimentos comerciais voltados para o parque, trilhas ao ar livre, anfiteatro, áreas expostas para que adeptos da religião de matriz africana possam fazer seus cultos, praças, arquibancadas, teatros, pontilhões e vertedouros”, explicou a nota sobre as modificações na Pedra de Xangô.
Questionada sobre a previsão da conclusão da obra, a Seinfra informou que a intervenção deve ficar pronta no mês de março deste ano.
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