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Diretor da Anvisa afirma que fala de Bolsonaro contra o órgão repercutiu de forma muito ruim

Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
O diretor do órgão falou sobre os desafios do cargo  |   Bnews - Divulgação Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Publicado em 22/12/2021, às 20h25 - Atualizado às 21h03   Redação


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O diretor da Anvisa, Antônio Barra Torres, médico, de 57 anos, deu uma entrevista à revista Veja, na qual destacou os desafios enfrentados no cargo até aqui. Sua função é regular produtos e serviços que movimentam quase um quarto do PIB brasileiro. Mas, nos últimos meses, sua gestão tem focado e sido marcada pela aprovação das vacinas contra a Covid-19.

Barra Torres passou a adotar uma visão independente, técnica e científica e a entrar em rota de colisão com o presidente Jair Bolsonaro. Por conta disso, tem se tornado alvo de ameaças feitas por bolsonaristas.

Em entrevista à revista Veja, Antônio Barra Torres falou sobre a ofensiva de Bolsonaro contra o órgão, após a aprovação da vacina contra Covid-19 para crianças.

“Nitidamente, a fala dele dá um sentido desresponsabilizar os funcionários e servidores, caso haja algum efeito indesejado da vacina. Estamos diante de uma situação inédita. Nunca antes, na história do combate à pandemia, houve essa solicitação com esse direcionamento. Mas se o objetivo era criar pânico, garanto que não foi atingido. Cada vez que encontro com os ótimos especialistas que temos por lá, eles me dizem a mesma coisa: “Medo não se cria na Anvisa.” Não é justo submeter 1 600 brasileiros que dependem do trabalho na agência para sustentar suas famílias a esse tipo de humilhação e intimidação barata e rasteira. Mas vamos continuar a cumprir o nosso papel”.

Ele ressaltou que as falas do presidente teve impacto ruim na Anvisa.

“O impacto foi imediato e muito ruim. O presidente tem uma voz que naturalmente ecoa no Brasil inteiro. Sua fala levou a população a levantar dúvidas e suspeitas em relação às vacinas, o que por si só já é deletério. E uma parcela das pessoas comuns engrossou o coro endossando a fala presidencial, às vezes de forma inapropriada. Recebemos ameaças e agressões por e-mail, houve comentários nas redes sociais de toda natureza. Me vi obrigado então a pedir proteção dos órgãos de investigação e da Polícia Federal tanto para as instalações físicas da Anvisa quanto para diretores e servidores”.
Sobre a divulgação dos nomes, exigida por Bolsonaro, dos servidores que aprovaram a vacina contra a Covid-19 para crianças, Antônio Barra Torres afirmou que não tem nenhum problema em divulgar, mas não houve nenhuma solicitação formal.

Sobre a divulgação dos nomes, exigida por Bolsonaro, dos servidores que aprovaram a vacina contra a Covid-19 para crianças, Antônio Barra Torres afirmou que não tem nenhum problema em divulgar, mas não houve nenhuma solicitação formal.

“A Anvisa sempre esteve na ponta, entre os serviços públicos, no quesito da transparência. Estamos há quase dois anos enfrentando a Covid-19, sempre trazendo à luz o resultado das resoluções da diretoria. A aprovação do uso emergencial das vacinas Coronavac e AstraZeneca foi transmitida inclusive pela televisão com os cinco diretores ali presentes. As decisões de nível gerencial, como foi o caso da inclusão dessa faixa etária na bula da vacina da Pfizer, são assinadas pelo gerente geral. Não haveria problema em dizer quem participou da decisão, essa é uma informação simples de se obter, mas até agora, não houve nenhuma solicitação formal à agência para que esses nomes fossem divulgados”.

Questionado sobre sua relação com o Presidente Jair Bolsonaro, Barra Torres ressaltou que há um tratamento educado e urbano.

O presidente é muito autêntico, demonstra nitidamente o que pensa e não esconde suas emoções. Algumas falas são tomadas por forte emoção. Eu sou muito mais racional, acredito que as ações técnicas estão pautadas no cérebro e não no coração. Como meu cargo é técnico, mantenho essa postura. Entendo que a relação pessoal, de amizade entre o presidente da Anvisa e o Presidente da República não precisa sequer existir. Na medida em que existe, asseguro que, diretamente comigo, Jair Bolsonaro sempre atuou de maneira cordata, urbana e educada. Publicamente, prefi ro não fazer juízo de valor, mas ele demonstra posicionamentos que eu não defendo quanto ao uso de máscaras e aglomerações”.

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