Justiça

Não quero perder a confiança na Justiça, diz mãe de publicitário morto. Assista

Publicado em 23/09/2015, às 15h23   Caroline Gois (Twitter: @bocaonews)


FacebookTwitterWhatsApp

Apartarmento 1202. Com a porta aberta dando boas-vindas à equipe do Bocão News e um sorriso tímido que busca esconder a dor, Dona Graça falou pela primeira vez sobre a morte do filho, o publicitário Daniel Prata, vítima de um acidente no Itaigara, na madrugada do dia 8 de novembro de 2014. "O sentimento é de dor, de perda, de saudade... estou muito sentida, decepcionada com esta situação de violência. É uma angústia, uma sensação muito forte e já vai fazer um ano sem solução", afirmou Dona Graça, quando começou a relatar o fato que marcou para sempre a vida dela. 
Sentada no sofá da sala, onde, pela manhã e à noite, costumava tomar café com o filho, e cercada por porta-retratos que a fazem manter a lembrança de Daniel, Dona Graça revelou não sentir raiva do acusado, o advogado e professor universitário Roberto João Starteri Sampaio Filho. "A hora que Daniel entrou na pista, ele (Roberto) não estava na pista", contou, já trazendo à tona o inquérito policial que indicia o acusado por crime doloso, quando há a intenção de matar. 
No inquérito policial obtido com exclusividade pelo Bocão News, fora constatado: "no laudo pericial, responsável por examinar as imagens gravadas pelas câmeras presentes no entorno do acidente, (os equipamentos) auferiram a velocidade dos veículos no momento da colisão, com base na distãncia percorrida e o tempo transcorrido, estando a caminhonete dirigida pelo acusado com velocidade entre 135,60km/h e 140,12 km/h e o veículo da vítima teria imprimido velocidade não inferior a 9,70 km/h e não superior a 9,96 km/h. Diante da análise, foi possível constatar ainda que não houve nenhum sinal de frenagem da caminhonete, que se manteve a todo o tempo em velocidade padrão, que, como já relatado, estava muito acima do permitido na via, mais precisamente o dobro".
O documento ressalta ainda que, "assim fica demonstrado que o acusado, mesmo sendo um operador do Direito e professor de Direito Penal, sendo responsável, portanto, por formar os novos juristas, não possui caráter ilibado ou moral para servir como exemplo ao seu alunado, sendo inclusive uma ameaça a sociedade, visto que detendo vasto conhecimento legal "brinca" com a lei, testando os limites da sua punibilidade".
Em conversa com o site, o advogado Sérgio Habib afirmou já saber do inquérito que, segundo ele, "demorou para ser concluído". "Tramitou na 16ª DT e agora vai para o Ministério Público. O Ministério Público que irá examinar este relatório e poderá ou não concordar com ele", explicou. Ainda conforme Habib, a defesa só irá se manifestar com relação ás estratégias que serão utilizadas após o MP oferecer a denúncia, seja por crime doloso ou culposo. "Tudo indica que o crime foi culposo. O laudo do exame cadavérico concluiu que a vítima, o Daniel, havia ingerido álcool. O sinal estava aberto para o professor Starteri. Tudo tem que ser devidamente examinado. Ainda não se sabe se o fato será enquadrado como culposo ou doloso e tudo vai depender do entendimento do MP sobre o caso", afirmou.
Dona Graça, quando questionada sobre as declarações da defesa do advogado disse que não consegue assistir. "Não consigo ver, dói. Não tenho raiva, mas é dor física. Não suporto ver". Sobre a declaração da defesa de que Daniel furou o sinal, Dona Graça rebate: "Se você para no sinal naquela hora você é assaltado, ou, se você passa, vem outro e te mata".
No dia da morte do filho, Dona Graça estava na cidade de Ribeirão Preto, em São Paulo, cuidando da mãe que faleceu no dia 29 de agosto, última vez que ela viu o filho. "Ele foi ao velório da avó. De lá, continuei em Riberão Preto e ele seguiu para João Pessoa, onde estava fazendo uma campanha", contou. No dia 8 de novembro, a ligação que ela não gostaria de receber. "O pessoal do HGE me ligou e disse que meu filho tinha sofrido um acidente. Não pensei em nada grave. Tinha esperança em ver meu filho vivo", relatou, tentando segurar as lágrimas. 
Filho único, Daniel Prata deixou uma recordação de "querido, amado". "Ele vinha almoçar comigo porque era pertinho o trabalho aqui de casa. Era responsável... agora ele se foi". Morando sozinha após ter perdido o marido, pai de Daniel, quando o publicitário tinha apenas dois meses, a mãe, desolada, se diz forte, mas admite estar sob efeito de remédios e acompanhamento médico. "Fui ao psiquiatra, tomo remédios. Não acho que estou em depressão. Mas, choro muito. Ontem mesmo fui a uma missa de sétimo dia de um amigo e chorei muito por entender a dor daquela família".
Ainda sem decidir se continua no apartamento onde vive há 35 anos, local onde Daniel cresceu e viveu, Dona Graça cerca-se de plantas que embelezam o ambiente e de uma tranquilidade que ela tenta internalizar. Sozinha e chorando nos fins de tarde, ela fez um apelo ao Ministério Público, que terá o papel de decidir pelo crime doloso ou culposo. No vídeo, Dona Graça também manda um recado aos jovens e ao advogado de defesa do acusado, Sérgio Habib.
Antes da reportagem deixar o local, Dona Graça faz questão de abraçar um por um e oferece um suco, como se quisesse que ali ficássemos. Diante do sofrimento e da saudade, ela resume a perda de Daniel e, em relato emocionante, sentencia aquilo que inquéritos, defesa, acusação e imprensa não conseguem traduzir. "Minha família acabou!".
Assista ao vídeo


Edição do vídeo: Luis Alberto / Bocão News

Leia mais:

Classificação Indicativa: Livre

FacebookTwitterWhatsApp