Justiça

“Tenho problemas para trabalhar com homens por causa do assédio”, conta mulher que foi vítima do abuso por dois anos

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Ela era gerente de Marketing de uma cervejaria  |   Bnews - Divulgação Reprodução/Pixabay

Publicado em 26/04/2019, às 19h19   Márcia Guimarães


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A designer Carla* ficou traumatizada e não consegue mais ser funcionária de nenhuma empresa desde que foi vítima de assédio sexual e moral no trabalho. Ela era gerente de Marketing de uma cervejaria e, de 2010 a 2012, era pressionada pelo dono da fábrica a aceitar os convites dele para sair.  

“O assédio sexual partia muito do dono da fábrica, um senhor de idade. Ele sempre me chamava para sair, usava o meu emprego para tentar me obrigar a sair com ele. Ele nunca chegou a me tocar, mas me olhava diferente, falava da minha roupa. Como eu sempre dava desculpas que não podia sair porque gostava da esposa dele, porque estava com fornecedores ou qualquer outra coisa que inventava, ele começou a insinuar que ia me demitir. Eu fui aguentando durante dois anos e me saindo das investidas”, descreveu Carla. Por precisar do trabalho, ela acabou se submetendo a essa situação degradante.

Além do assédio sexual, o dono da fábrica também a assediava moralmente, mas, desta vez, outros funcionários participavam da violência. “Em especial, o gerente comercial. Ele colocava em dúvida a minha inteligência, o meu comportamento. Durante uma viagem a Aracaju, eu estava com cólica e ele foi dizer para todos os vendedores que eu ia demorar porque estava menstruada e insinuou que dormiu comigo. Ele fez isso na frente de 200 vendedores. Descobri, liguei para o meu chefe e o dono da fábrica me ligou rindo da minha cara. Isso foi o pior constrangimento da minha vida”, contou Carla.

A designer lembra que, depois de dois meses da “brincadeira pública”, esse mesmo gerente pegou o seu computador e apagou um treinamento que ela tinha preparado para dar a centenas de funcionários. “Tive que inventar e fiz uma gincana que foi um sucesso e ele morreu de raiva. Aquilo foi o meu limite e eu pedi para sair. Reuni provas, testemunhas e o processei em 2014 pelo assédio moral. Ganhei o processo e estou aguardando a execução”, revelou.

Caminhos

A advogada Amanda Vieira, especialista em direito e processo do trabalho, orienta que a maneira correta para a vítima de assédio se defender é restringir o contato com o agressor e sempre tentar colocar outras pessoas nas conversas para que possam ser testemunhas. “Gravar ou fotografar pode ser perigoso quando não há a anuência da parte contrária. A maioria das empresas (sérias e com responsabilidade social) possui meios de combate para este tipo de prática, com canais para denúncias, ainda que anônimas. Persistindo essa situação, a pessoa deve informar a empresa oficialmente e, caso continue, tem que ir ao Ministério Público, Ministério do Trabalho ou entrar com ação judicial”, apontou a especialista.

Caso não tenha condições de pagar um advogado, a vítima pode procurar a Defensoria Pública. Quanto ao medo de ficar “marcada” por denunciar o assédio na Justiça, Amanda destaca que o direito de ingressar com uma ação é constitucional e é devido a todos que se sentirem lesados.

Carla concorda com a especialista e se arrepende de ter “se permitido” passar pelos episódios de assédio. “É preciso denunciar para que isso acabe. Fale com o seu supervisor, o seu chefe. Não se permita como eu me permiti. Junte provas e processe. Eu tenho trauma e nunca mais consegui ser funcionária de ninguém. Ainda tenho problemas para trabalhar com homens por causa do assédio”, acrescentou a vítima.

*O nome é fictício para preservar a identidade da personagem

Classificação Indicativa: Livre

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