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Procurador não vê evidência de conluio de Donald Trump com Rússia

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Relatório de Robert Mueller mantém, porém, investigação contra presidente sobre obstrução da Justiça   |   Bnews - Divulgação Tasos Katopodis - Getty Images/AFP

Publicado em 24/03/2019, às 17h27   Folhapress



A investigação conduzida pelo procurador especial Robert Mueller não encontrou evidências de que a campanha de Donald Trump agiu em conluio com a Rússia para interferir nas eleições de 2016 nem que o presidente tenha obstruído a Justiça durante as apurações.

As principais conclusões de Mueller, enviadas ao Congresso americano neste domingo (24) pelo procurador-geral, William Barr, trouxeram alívio para a Casa Branca. Aliados de Trump estavam apreensivos quanto ao resultado final das investigações --caso houvesse fato concreto contra o presidente, adversários prometiam investir em um impeachment contra ele.

Apesar de não ter elementos para concluir conspiração com a Rússia ou obstrução de Justiça, nem fazer nenhuma acusação formal em seu relatório, Mueller diz não isentar o presidente.

Mueller entregou nesta sexta-feira (22) seu relatório final sobre a possível interferência da Rússia nas eleições presidenciais dos EUA, elevando ao ápice dos dois últimos anos a pressão política sobre Trump.
As informações que chegaram ao Congresso via carta escrita por Barr neste domingo, porém, frustraram os adversários.

Após revelações do contato entre aliados do presidente americano e a Rússia, a prisão de auxiliares e uma forte campanha de Trump para desacreditar Mueller e as investigações, a entrega do documento abre um novo capítulo do purgatório político na Casa Branca --o que, para adversários mais contundentes, pode levar ao impeachment do presidente.

Nessa expectativa, os últimos dias foram de apreensão em Washington. Políticos e jornalistas perguntavam-se quando o relatório sairia e quais informações poderiam ser depreendidas dele.

O próprio Trump chegou a dizer, nesta semana, que preferia que o texto fosse divulgado --discurso encarado com ceticismo pela maior parte dos analistas americanos.

Desde que Mueller assumiu as apurações do caso, o presidente viu a crise avançar para dentro da Casa Branca, endossada por acusações de seus principais assessores, que decidiram colaborar com as investigações e, assim, instigar seus adversários.

O caldo criado a cada capítulo revelado por Mueller aumentou o desgaste político de Trump, que classifica as apurações como uma "caça às bruxas" e se diz inocente de qualquer irregularidade.

Quem acompanha de perto o trabalho do procurador especial afirma que a chave do relatório está basicamente em responder se o presidente sabia, orientou ou participou diretamente dos seguintes eventos: negociações para a construção de uma Trump Tower em Moscou; acesso e vazamento dos e-mails de Hillary Clinton, candidata democrata que foi sua adversária em 2016; contatos de seu ex-assessor nacional de segurança Michael Flynn com autoridades russas; e, finalmente, a influência da Rússia na eleição presidencial e a suposta obstrução de Justiça de Trump para frear as investigações.

De acordo com regras do Departamento de Justiça dos EUA, Mueller vai apresentar um "relatório confidencial" ao procurador-geral, Bill Barr, e é ele quem vai decidir o quanto do texto será compartilhado com o Congresso.

Supondo que uma parte significativa venha a público e contenha fatos novos, além do que já é sabido até agora, a questão será identificar o que de explosivo haverá no documento e como isso poderá implicar no mandato de Trump --e na eleição de 2020.

Nos últimos meses, o presidente americano sofreu reveses conforme a apuração avançava. Em depoimento ao Congresso no fim de fevereiro, por exemplo, seu ex-advogado Michael Cohen o acusou de mentir sobre negócios na Rússia durante as eleições e sobre pagamentos para silenciar mulheres com quem teria tido casos amorosos.

Segundo Cohen, Trump sabia e comandou as negociações para a construção de uma Trump Tower em Moscou em 2016 e os filhos do presidente, disse o ex-advogado, também participaram das tratativas.

Além disso, Cohen afirmou aos parlamentares que Trump sabia que Roger Stone, seu conselheiro político até então, estava conversando com Julian Assange, do WikiLeaks, sobre a divulgação de e-mails do Comitê Nacional Democrata, que prejudicou Hillary na disputa de dois anos atrás. O advogado de Assange, por sua vez, nega que a ligação tenha ocorrido.

De acordo com as investigações de Muller, um professor ligado ao governo russo disse ao assessor de política externa da campanha de Trump, George Papadopoulos, que a Rússia tinha "sujeira" contra Hillary na forma de "milhares de e-mails". O governo russo havia invadido redes e contas pertencentes ao Partido Democrata e à campanha de Hillary e coordenaria com o WikiLeaks a divulgação das informações.

Em junho de 2016, o filho de Trump, Donald Trump Jr., encontrou na Trump Tower de Nova York um advogado ligado ao Kremlin, no que parece ter sido um esforço fracassado de conseguir os e-mails.
Muller acusa Stone de ter trabalhado para entrar em contato com o WikeLeaks na tentativa de entender como seria a divulgação dos e-mails hackeados. Michael Cohen, por sua vez, disse em seu depoimento ao Congresso que estava na sala quando Stone informou a Trump que o WikiLeaks planejava uma "massiva divulgação de e-mails que poderiam prejudicar a campanha de Hillary Clinton".

Ainda segundo o procurador especial, em novembro de 2015 Cohen foi colocado em contato com um homem russo que prometeu "sinergia política" e uma reunião entre Trump e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, para ajudar nos esforços de construir uma Trump Tower em Moscou.

Já no início de 2016, o escritório de um "alto funcionário russo" --provavelmente, segundo relatos, o porta-voz de Putin, Dmitri Peskov-- contatou Cohen sobre o projeto e os esforços continuaram até o meio de 2016. Inicialmente, Cohen havia dito que as conversas sobre o tema pararam em janeiro de 2016, bem no início do ano eleitoral.

Na primeira semana de março, um novo golpe para Trump: seu ex-chefe de campanha, Paul Manafort, foi sentenciado a quase 4 anos de prisão pelos crimes de fraude fiscal e bancária. Os delitos foram descobertos durante as investigações de Muller, que teve a atenção despertada pelo fato de que Manafort enriqueceu trabalhando para políticos ucranianos pró-Rússia.

Uma semana depois, Manafort recebeu nova sentença em um tribunal de Washington e totalizou pena de 7 anos e meio de prisão.

Já o ex-assessor nacional de segurança Michael Flynn, que renunciou ao cargo 24 dias após tomar posse, viu serem descobertos seus contatos com o embaixador russo Sergey Kislyak. Flynn se declarou culpado por mentir ao FBI sobre sua ligação com autoridades russas e começou a colaborar com a investigação de Muller.

O ex-auxiliar da Casa Branca havia prometido que livraria a Rússia de sanções impostas pelo governo Barack Obama e a dúvida até aqui era se ele agiu sozinho ou fora orientado pelo Trump.
Por fim, a obstrução de Justiça por parte do presidente americano: Muller conduziu investigação sobre uma possível interferência de Trump nos trabalhos da procuradoria especial e do FBI.

O presidente demitiu James Comey, então diretor do FBI, em maio de 2017, e admitiu que fora pelo inquérito sobre a Rússia. Comey afirmou mais tarde que o presidente havia pedido que ele deixasse Michael Flyyn em paz.

Como o procurador-geral dos EUA havia argumentado que a demissão de um diretor do FBI, ação autorizada pela Constituição, não poderia ser considerada obstrução de Justiça, a dúvida de pessoas que acompanham o processo era como o relatório de Mueller iria abordar essa questão e se o tema se sobreporia ou não ao conluio com a Rússia.

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