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Itália fecha 16 milhões de pessoas em suas cidades por causa do coronavírus

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No Reino Unido, supermercado raciona produtos para evitar que pânico esvazie prateleiras   |   Bnews - Divulgação Juraj Varga / Pixabay

Publicado em 08/03/2020, às 14h03   Folhapress



Cerca de 16 milhões de italianos acordaram neste domingo (8) impedidos de viajar livremente na região mais rica do país, a Lombardia, e em outras cidades do norte da Itália, como Veneza, por causa do novo coronavírus.

A medida foi tomada por decreto pelo governo italiano e também impede a livre entrada nas chamadas zonas vermelhas, por causa da epidemia da covid-19, a doença causada pelo Sars-Cov-2.

Com quase 6.000 doentes confirmados e 233 mortes, a Itália é o segundo país do mundo em número de mortos, atrás da China (80.695 doentes, 3.097 mortes), e o terceiro em número de infectados, depois da Coreia do Sul (7.313 casos, 50 mortes), segundo dados deste domingo da União Europeia.

Idas e vindas na região afetada (Lombardia e as províncias de Modena, Parma, Placência, Reggio Emilia, Rimini, Pesaro e Urbino, Alexandria, Asti, Novara, Verbano Cusio Ossola, Vercelli, Pádua, Treviso e Veneza) só serão autorizadas pelo governo por motivos de saúde ou de trabalho. A quarentena deve durar até o começo de abril.

Museus, casas de espetáculo e outros pontos de aglomeração foram fechados em todo o país, e casamentos, missas e funerais, suspensos. O decreto também estabelece que as pessoas fiquem a pelo menos um metro de distância das outras em mercados, restaurantes ou igrejas.

Neste domingo, o papa rezou o Angelus de dentro do palácio apostólico, e não da janela em que costuma aparecer para o público na praça São Pedro, em Roma.

A medida aumentou o nível de alerta em outros países, tanto pelo medo de contágio semelhante quanto pelos prejuízos que esse tipo de ação radical pode trazer.

No Reino Unido, que tem 209 casos da doença e duas mortes, uma das maiores redes de supermercados britânicos, a Tesco, implantou racionamento na venda de alguns produtos, para evitar que pessoas em pânico provoquem desabastecimento. Cada pessoa pode comprar no máximo cinco unidades de itens como leite UHT, macarrão e gel antisséptico.

Outra rede de varejo, a Ocado, avisou aos consumidores que, por causa do aumento nas compras online, pode haver atrasos nas entregas de produtos.

Embora com números muito menores que os italianos, países europeus como a França (949 casos, 11 mortes), a Alemanha (800 doentes, nenhum morto) e a Espanha (525 casos, 10 mortes) têm se preocupado com a população idosa, a mais vulnerável à doença: entre os maiores de 80 anos, a probabilidade de morrer por causa da covid-19 está entre 15% e 22% dos infectados, segundo estudos da OMS e do centro de controle de doenças da China.

É na Europa que vive a população com maior porcentagem dessa faixa etária, 5% do total, ou quase 40 mil pessoas, segundo estimativa da ONU. Na Itália, a idade média dos mortos pela covid-19 é 81 anos.

Outros 8% dos europeus têm entre 70 e 79 anos, faixa na qual a probabilidade de morte por causa do coronavírus é de 8%. O governo britânico estuda proibir a entrada de maiores de 70 anos em eventos públicos, entre outras medidas.

“Precisamos proteger a saúde de nossos avós”, disse o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, ao anunciar o decreto.

O impacto na economia também já elevou gastos públicos e deixou vítimas entre empresas.

Na Itália, que já tem uma das economias mais frágeis da União Europeia, o governo anunciou pacotes de 4,5 bilhões de euros (mais de R$ 22 bilhões) para tentar reduzir o impacto negativo da doença nos negócios.

Com fábricas e escritórios parados e lojas mais vazias, a economia europeia, que vinha lutando para se reerguer, deve perder fôlego. Nos cálculos da OCDE, no cenário mais otimista, a expansão da economia global neste ano deve ser de 2,4%, e não 2,9% como previsto anteriormente. No mais pessimista, não passaria de 1,5%.

As restrições de viagem e o medo de contágio provocaram a derrocada da companhia aérea de baixo custo Flybe e cortaram ao menos um quarto dos voos de empresas como British Airways, Ryanair e Virgin.

A Lufthansa anunciou neste domingo que deixará em solo metade de seus aviões em abril, por causa da baixa na procura e dos cancelamentos. No total, as perdas do setor por causa do coronavírus podem chegar a US$ 113 bilhões (mais de R$ 540 bilhões), segundo a Iata (entidade internacional do mercado aéreo).

Em países como Bélgica (169 casos), Portugal (20 casos) e Holanda (188 casos, uma morte), a preocupação ainda não é visível nas ruas.

Em Amsterdam, milhares de pessoas se aglomeravam neste final de semana nas regiões mais turísticas como a zona dos museus e o distrito da luz vermelha, sem proteção especial.

A Folha percorreu a cidade durante toda a tarde e noite de sábado (7) e até as 15h deste domingo e encontrou apenas uma pessoa usando máscara.

Em Lisboa, o uso de proteção também era raro e gel antisséptico continuava sendo vendido normalmente. Depois do aparecimento do primeiro caso, na semana passada, hotéis receberam cartazes com informações de prevenção e portugueses mencionavam o vírus ao se cumprimentar, evitando beijos.

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