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Vazão exagerada de água tira o sustento de famílias na hidrelétrica na Bahia

Divulgação/UHE Pedra do Cavalo
Cerca de 15 mil pescadores sofrem com problemas provocados pelo excesso de água  |   Bnews - Divulgação Divulgação/UHE Pedra do Cavalo

Publicado em 16/10/2023, às 20h41   Marco Dias


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O excesso de água tem provocado problemas de energia, doenças de pele e miséria às margens do rio Paraguaçu, em Santiago do Iguape, zona rural do município baiano de Maragogipe. Impotentes, pescadores e marisqueiros assistem a vazão descontrolada de água que sai da barragem de Pedra do Cavalo, administrada pela multinacional Votorantim. 

De acordo com as informações do A Tarde, ao todo, 15 mil pescadores responsabilizam a Votorantim pela operação na represa, e ao menos 100 ações aguardam um posicionamento da justiça. Enquanto isso, a escassez do pescado compromete a principal fonte de renda das famílias ribeirinhas. 

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“A Votorantim está soltando muita água, eles dizem que não prejudica, mas está matando o marisco todo”, comenta Iracema, marisqueira de Maragogipe, relatando o drama vivido pelos ribeirinhos. 

Problemas causados pela vazão 

Os ribeirinhos relatam que têm sofrido com problemas de pele causados pela água. Em Santiago do Iguape, zona rural de Maragogipe, Sérgio comenta que a roupa não serve mais para vestir depois do contato com a água da represa. “A roupa fica parecendo espinho, lã de vidro. Se coçar, cria bolhas no corpo”, explica o marisqueiro. 

Francisco, conhecido como “Tico”, diz que acompanhou a atividade marisqueira passando de geração para geração na sua família, testemunhando a transformação devastadora da região. “Antes da Votorantim, quando tinha enchentes em Cachoeira era muita fartura quando a água baixava. Camarão encalhava. Depois da barragem, soltam água tratada, causa coceira, não dá para andar na lama. A Votorantim não agregou nada para os pescadores”, afirma Tico. 

Demora da Justiça 

Uma ação movida em nome dos pescadores contra a Votorantim em 2017 passou dois anos aguardando a definição do juízo competente, já que havia dúvida se era uma causa cível ou consumerista. 

Superada essa etapa, eles tiveram que esperar a pandemia passar, e mesmo com a retomada do judiciário, os advogados esperam há mais de um ano pela primeira audiência. “Não chegamos sequer à instrução”, indigna-se Elba Diniz, advogada representante dos marisqueiros. 

A advogada espera por uma determinação judicial para cobrar da Votorantim a realização de análises que comprovem os danos provocados pela empresa, para permitir a quantificação do dano. 

O presidente do Instituto Brasileiro de Direito e Sustentabilidade (Ibrades), Georges Humbert, cobra celeridade do judiciário. “Esses casos de litigância por desastres ambientais precisam de andamento prioritário, devido ao impacto na qualidade de vida de comunidades tradicionais e remanescentes de quilombos”, afirma, Humbert.

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