Personalidade

Minha consciência vem de casa, com minha mãe, sem ela saber, diz Érico Brás

Publicado em 20/11/2016, às 13h47   Vinícius Ribeiro


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Radicado no Rio de Janeiro, o ator soteropolitano Érico Brás é um dos nomes em ascensão no cenário artístico nacional. Fruto da periferia de Salvador, onde desde cedo foi apresentado à conscientização racial, o artista acredita que o debate sobre a afrodescendência não pode se restringir apenas ao mês de novembro - quando, nesta data, 20, é comemorada o Dia da Consciência Negra - e ser vivenciado no cotidiano.
Além da extensão do debate, Érico acredita que mais dois passos seriam essenciais para a desconstrução da discriminação racial. São eles, admitir que existe exclusão na publicidade, setor classificado por ele como um dos maiores formadores de opinião; e ampliar a discussão além da classe artística. “Temos pessoas na área de medicina, que são negras, que sofrem os mesmos preconceitos, ou até piores; empregadas domésticas, professores", citou o ator global, em entrevista ao Bocão News.
Questionado sobre a participação política na construção de ações afirmativas, o ator preferiu não se alongar, mas lamentou o fato de uma cidade como Salvador, formada em sua maioria por uma população negra, não eleger políticos negros. "Se a gente for entrar nisso é complicado, porque Salvador, que tem a maior quantidade de negros na América Latina, não tem coragem de eleger um prefeito negro. Tem uma frase que eu sempre digo: 'Negro não vota em negro'. E não me interessa o que o político tem a dizer, porque ele fala o que ele quer. O que me interessa é ouvir a dona de casa, ouvir o motorista, ouvir o policial negro, que é colocado na linha de batalha com outros negros. São vítimas dessa situação que acabam se confrontando", opina.
Retornando ao poder da publicidade, Érico ressalta que apesar dos negros serem os maiores consumidores do País, o mercado ainda não enxerga os afrodescendentes como consumidores. Para ele, a publicidade contribui negativamente para a formação de uma ideologia social. "A publicidade é excludente e com isso ela forma a opinião do País, ela forma a opinião da sociedade, ela participa da construção do comportamento das pessoas perante o negro", diz, frisando que o público negro é responsável por uma movimentação econômica de mais de R$ 3 trilhões por ano no Brasil.
RAÍZES - Atento às origens, Érico Brás atribui sua consciência negra primeiramente à sua mãe, Dona Valquíria, e ao Bando de Teatro Olodum, onde, segundo ele, aprendeu a ser "um ator-cidadão".
"A minha consciência racial começa em casa, com a minha mãe, a Dona Valquíria Brás. Costumo dizer que ela é uma 'feminista sem saber', porque é uma mulher negra, que criou os filhos sem a ajuda do marido, um marido que abandonou a família, e minha mãe, em determinado momento, entendeu que eu precisava fazer teatro, porque eu queria fazer teatro e ela disse: 'Meu filho, se você quer, você precisa, vá fazer teatro. E com isso abriu mão da carreira dela", disse, revelando o talento da mãe, que pretendia ser cantora de ópera.
No Bando de Teatro Olodum, Brás diz que a consciência de sua negritude se ampliou. "Minha consciência começou em casa e quando cheguei no Bando isso se ampliou. Lá nasce o ator-cidadão, consciente da sua importância e seu papel na sociedade. Depois você aprende a ser o ator que vai transformar essa sociedade", frisa.
No final da entrevista, o ator ainda revelou que mesmo tendo estudado teatro em Portugal e atualmente residir no Rio, não esquece as origens. "Sempre que precisar, eu volto às minhas fontes, à minha mãe, ao Bando, essa é minha base, são minhas raízes", encerrou, acrescentando à lista, professores da escola Santo Antônio das Malvinas e do grupo Evangelização Pela Arte (EPA), experiências vividas no bairro de Fazenda Coutos, no Subúrbio Ferroviário, ondeu morou durante a juventude. 
Érico ganhou projeção nacional com filmes "O, Paí, Ó!", "Quincas Berro d'Água" e "O Concurso", além da série "Tapas & Beijos", na Rede Globo. Atualmente, integra o elenco de "A Lei do Amor", na mesma emissora.  

Classificação Indicativa: Livre

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