Polícia

Desarticulada milícia comandada por delegado de Gandu

Imagem Desarticulada milícia comandada por delegado de Gandu
Grupo de exterminio era formado por agentes do Poder Judiciário, da Policia Civil e Militar  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 14/04/2011, às 17h09   Tanara Régis




Após quase dois anos de investigação, o Ministério Público da Bahia (MP/BA) e a Polícia Civil, por meio do Comando de Operações Especiais (COE), apresentaram para a imprensa os detalhes da operação que resultou na prisão do delegado do município de Gandu, Madson Santos Barros, efetuada na manhã desta quinta-feira (14).

Em coletiva realizada à tarde na Secretaria de Segurança Pública do CAB (Centro Administrativo da Bahia), expôs sobre a desarticulação de uma milícia liderada por Madson. O grupo cometia ações de extermínio nos municípios de Salvador, Pojuca, Catu, Simões Filho e Gandu.

De acordo com Ana Carolina Oliveira, delegada civil que comandou a operação, foram cumpridos oito dos 12 mandados de prisão expedidos pelo Juízo Criminal da Comarca de Gandu. Além de Madson, estão presos no COE o soldado da Polícia Militar, Manoel Santos de Jesus, o ex-carcereiro Mílton de Jesus, e mais cinco ex-agentes de proteção de menores da 2ª Vara de Infância e Juventude que se passavam por agentes da polícia civil.

Foram apreendidos com a milícia armas e objetos de procedência ilegal: nove pistolas, uma espingarda, quatro algemas, dois coletes balísticos, dois uniformes, e um distintivo da Polícia Civil, além de munições de diversos calibres.

"As armas foram encontradas no apartamento de Madson e na casa dos comissários de menores, em Gandu. Essas armas não estão registradas. Acreditamos que elas eram de criminosos que eles prendiam. No entanto, ao invés de enviá-las para o órgão competente, as armas eram usadas pela milícia e até mesmo negociadas com outros bandidos", fala a promotora de justiça do MP e coordenadora do Grupo de Atenção Especial de Ações Criminosas (GAEC), Ediene Lousado.

Infelizmente, nenhum desses criminosos que integravam o quadro de servidores públicos estavam presentes para divulgação de seus rostos na mídia, sob a alegação de que se encontravam em procedimento de exame de corpo de delito, no Instituto Médico Legal (IML). Dessa vez, apenas estavam expostas as armas e objetos apreendidos com a milícia.


O Caso – Segundo Ana Carolina, as investigações, juntamente com o MP/BA, iniciaram a partir de setembro de 2009, quando começaram a surgir denúncias sobre a ação do grupo. Desde então, com a ordem judicial, foram feitas interceptações telefônicas e reunidas as provas materiais e os depoimentos de testemunhas.

“Em troca de dinheiro o grupo cometia homicídios, tomavam objetos de valores de pessoas que podiam ser ou não criminosas, bastando apenas que estivessem incomodando  o indivíduo interessado que contratou a ação da milícia”, explica o promotor de justiça, Paulo Júnior.

De acordo com Paulo, apenas um dos casos de homicídio já tem denúncia oferecida pelo Ministério Público, os demais são suspeitas sob investigação.

“Esse, por exemplo, foi um homicídio cometido no início de 2009 sob alegação do homem ser um traficante. Descobrimos, no entanto, que as provas foram forjadas e que não houve resistência da vítima no ato de prisão”, explica.


Questões - Se as interceptações telefônicas já apontavam a existência da milícia, desde 2009, por que somente agora foi expedido o mandado de prisão?

" Esse foi o tempo transcorrido até reunirmos a quantidade de prova necessária para fundamentar a nossa acusação. Infelizmente, a escuta telefonica apenas de 2009 não era suficiente. Além disso é dificil ter testemunhas pois as pessoas têm medo de denunciar e serem depois perseguidas pelos criminosos", explica a promotora Ediene.

Vale lembrar, no entanto, que Madson foi autuado em flagrante em 2009, na cidade de Gandu, por racismo, porte ilegal de armamento pesado, desacato e por formar uma milícia na cidade em que era titular.

Na época, o Ministério Público apurou que Madson teria contratado homens armados, não-policiais, para acompanhá- lo no “combate” à criminalidade. Os chamados X-9 teriam agindo sem conhecimento da Justiça e sem quaisquer critérios policiais, tendo inclusive vitimado inocentes. O delegado também já  foi detido, no bairro do Imbui, com grande quantidade de armas de procedimento ilegal no seu carro.

Outra questão que fica é como as autoridade públicas dos municípios não reagiram a atuação do grupo de extermínio. De acordo com os promotores de justiça presentes na coletiva, existe um video que mostra uma curiosa recepção festiva de Madson, com todas as "honras", em sua chegada no município de Gandu.

"Bem, algumas dessas autoridade também foram ameaçadas e fizeram denúncia. Outras, no entanto, estão ainda sob investigação se acobertavam ou até mesmo faziam uso do trabalho da milícia", diz o promotor Paulo Junior.

Fotos: Roberto Viana // Bocão News

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